
Bruno Mazzeo, filho de Chico Anysio (1931-2012), e Lucio Mauro Filho, herdeiro de Lucio Mauro (1927-2019), costumam, volta e meia, ouvir variações da frase: "Gostava mais do seu pai".
O que pode ser visto como falta de noção por parte de algumas pessoas que os abordam, para ambos, que cresceram em um ambiente de comédia, é motivo para fazer piada. E não parou apenas nas risadas: eles criaram uma peça usando a fala comparativa como base.
Com direção de Debora Lamm, Gostava Mais dos Pais começou a circular pelo Brasil no ano passado e, em apenas quatro cidades, reuniu mais de 70 mil espectadores. Um sucesso que chega, agora, a Porto Alegre, a primeira cidade da região sul do país a receber o espetáculo.
As apresentações na Capital ocorrem na sexta-feira (28) e no sábado (29), no Teatro Fiergs (Avenida Assis Brasil, 8.787 - Sarandi). E a expectativa dos dois comediantes é alta.
— Sempre que a gente fala dos lugares em que queremos ir, colocamos Porto Alegre no topo. Já me apresentei inúmeras vezes na cidade e, curiosamente, cada vez é em um teatro diferente. Isso mostra o quanto o povo gaúcho gosta e consome cultura porque, senão fosse, não haveria tantos teatros. Então, estou louco para voltar, sobretudo depois de tudo que aconteceu com os gaúchos, que se reinventaram em função da tragédia — destaca Mazzeo.
Mauro Filho complementa:
— Logo que pensamos em ir para Porto Alegre, já vem esse plus de encontrar o povo e os nossos amigos, porque também acompanhamos essa tragédia através das inúmeras amizades que temos na cidade. Então, vai ser um momento de reencontro e de celebrar. E essa é a delícia de ser um artista brasileiro, poder experimentar plateias, sabores e sotaques tão diferentes.
Juntos
De acordo com a dupla, a ideia do espetáculo veio da vontade de estarem lado a lado no palco. Ambos integraram o elenco da peça 5x Comédia, que rodou o país entre 2017 e 2019 — inclusive, passou por Porto Alegre —, mas, por conta da estrutura do espetáculo, que era dividido em cinco monólogos, os dois nunca contracenavam.
— Quando o Lucio estava na coxia, eu estava em cena. E vice-versa. A gente, então, ficava nas madrugadas, nos quartos de hotel, falando que a gente ia fazer uma nossa, de fato, contracenando, independentemente do que seria. Tanto que, entre esse papo e a estreia, passaram-se alguns anos. Gostava Mais dos Pais nasceu como tem que nascer, do desejo de estarmos juntos — enfatiza Mazzeo.
Essa vontade de quererem estar perto um do outro parece ser genético, visto que seus pais, que se conheceram nos anos 1950, formaram uma dupla emblemática na televisão brasileira — em programas como Chico City, Escolinha do Professor Raimundo e Zorra Total — e foram parceiros até o fim. Este sentimento passado para os filhos contempla um novo momento, uma relação que é singular, mas igualmente forte.
— A gente teve sempre uma relação muito suave. Nossa amizade, nossos encontros profissionais, sempre foi tudo muito maduro. Eu poderia dizer que até demorou para acontecer esse encontro, mas, ao mesmo tempo, essa demora foi maravilhosa, porque nós nos encontramos, realmente, em um momento muito maduro das nossas carreiras, da nossa amizade. Isso facilitou esse encontro — detalha Mauro Filho.
Este momento é refletido na peça, que foi escrita por Aloísio de Abreu e Rosana Ferrão a partir de questionamentos levantados pela dupla de protagonistas, que interpretam cerca de dez personagens e várias versões de si mesmos em esquetes. Os quadros entrecruzam as suas histórias de vida, com temas contemporâneos, como as barreiras impostas ao humor e a dificuldade de encontrar os seus lugares na era digital. Mazzeo e Mauro Filho ainda brincam com o peso do legado dos pais, bem como as inevitáveis comparações com eles.

Nepo babies?
Se, segundo a dupla, a peça é uma celebração às amizades, tanto dos pais quanto dos filhos, ela também aborda a questão da dupla de ter nascido em um ambiente privilegiado. O espetáculo nasce justamente na época em que o termo nepo baby se popularizou — o qual se refere a celebridades que são filhos de famosos e isso, teoricamente, facilita para que alcancem sucesso.
— Se eu já apareci em uma das listas de nepo babies brasileiros, me sinto privilegiado por estar ao lado de Fernanda Torres, Luis Fernando Verissimo. Estou muito bem acompanhado (risos) — brinca Mazzeo.
Mas, ao falar sério, se ser taxado de nepo baby incomoda a dupla e, também, se existe uma pressão extra sobre eles, o filho de Chico Anysio complementa:
— A gente sempre levou de boa. Se a gente não levasse, não estaríamos fazendo essa peça. Isso, para a gente, sempre foi muito natural, porque sempre fomos filhos dos nossos pais. A gente não podia escolher, não podia negar.
— Ao mesmo tempo, demos sorte de não sermos os primeiros filhos. Eu sinto que os nossos irmãos mais velhos, que também são artistas, sofreram uma pressão maior. Então, quando decidimos ser artistas, já tínhamos essa informação. De alguma maneira, na nossa formação enquanto artista, sempre tivemos a preocupação de não sucumbir a essa sombra e, também, de saber fazer escolhas diferentes das dos nossos pais, para termos a nossa trajetória, a nossa assinatura — avalia Mauro Filho.
Vale lembrar que Bruno Mazzeo e Lucio Mauro Filho reprisaram os papéis de seus pais no remake de Escolinha do Professor Raimundo, que foi ao ar entre 2015 e 2020. E o que era para ser uma homenagem, virou um sucesso na TV Globo, tanto que é reprisado constantemente.
— É o Chaves da Globo (risos) — brinca Mazzeo.
Gostava Mais dos Pais
- Na sexta-feira (28), às 20h30min, e no sábado (29), às 20h, no Teatro Fiergs (Avenida Assis Brasil, 8.787 - Sarandi), em Porto Alegre.
- Ingressos: a partir de R$ 39,60 (mezanino, inteira).
- Ponto de venda sem taxa: bilheteria do Teatro Fiergs. Ponto de venda com taxa: eventim.com.br.
- Duração: 80 minutos.
- Classificação etária: 14 anos.