O Shopping Total completa 20 anos no complexo que guarda a memória da pujança industrial de Porto Alegre. Depois de minucioso trabalho de restauro, a população passou a circular pelos prédios e chegar perto da chaminé de uma das maiores cervejarias do Brasil. Com som do apito que dava início ao primeiro turno da Brahma e acordava a vizinhança, no bairro Floresta, o shopping abriu ao público em 30 de maio de 2003. A inauguração ocorreu no dia anterior, 29 de maio, iniciando novo capítulo na história dos lindos edifícios da Avenida Cristóvão Colombo.
A cervejaria Brahma deixou o local em 1998, quando transferiu produção para Viamão. O conjunto de prédios foi comprado pelo empresário Renato Bastos Ribeiro, já falecido, que arrendou à Porto Shop S.A., que construiu o Shopping Total. No terreno, foram erguidos dois prédios novos.
Tombados pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) de Porto Alegre, quatro prédios históricos e a chaminé de 75 metros de altura foram completamente recuperados. Os edifícios abrigavam depósito, produção, administração e caldeira da fábrica.
O prédio mais antigo, com o elefante no topo, foi inaugurado pela Cervejaria Bopp Irmãos na Avenida Cristóvão Colombo em 1911. Com expansão das operações, em 1914, já surgiu o segundo pavilhão ao lado. O projeto arquitetônico de Theo Wiederspahn teve a execução do escritório de engenharia de Rudolph Ahrons.
A fachada é um primor, adornada com estátuas que promoviam a cerveja e as marcas da indústria. As obras de inspiração mitológica, os ornamentos e os relevos são do atelier de João Vicente Friederichs, que trazia escultores da Europa.
Outras construções foram anexadas ao longo do tempo. Os túneis, entre a caldeira e a área de produção, já mexeram muito com a imaginação dos porto-alegrenses. Apesar dos mitos, a finalidade era simples, a passagem do vapor.
A chaminé pode ser vista de longe e ainda tem a marca Continental, que surgiu da união das cervejarias Bopp, Ritter e Sassen em 1924. Na década de 1930, foi construída no terreno a maltaria, um prédio que não existe mais. No vídeo acima, podemos ver imagens raras da cervejaria no documentário Porto Alegre, a Rainha do Sul, produzido pela Leopoldis-Som em 1938.
Em 1946, a Brahma comprou a Cervejaria Continental.
Quando a obra do shopping começou, em 2000, vizinhos ficaram desconfiados, temendo descaracterização dos imponentes prédios. O superintendente do Shopping Total, Eduardo Oltramari, lembra que foram realizadas duas inéditas audiências públicas na cidade para discussão do empreendimento. A preservação da memória da cervejaria sempre esteve nos planos do negócio. Em meio a tantos entraves para o restauro, os empreendedores chegaram a pensar em desistir do projeto.
Depois de superadas as dificuldades, a obra deu nova vida aos prédios, que estavam muito deteriorados. Os muros foram retirados e o shopping facilitou a circulação dos pedestres entre os bairros Floresta, Moinhos de Vento e Independência.
Oltramari conta que já ouviu muitos relatos da vizinhança com lembranças da cervejaria. A cidade tem carinho especial por aqueles prédios. Sem o cheiro da cevada e movimento dos caminhões de cerveja, o complexo hoje é frequentado por milhares de pessoas nas mais de 300 operações do Total, entre lojas, restaurantes, ensino e saúde.