Por Daniel Randon, presidente da Randoncorp e do Conselho Superior do Transforma RS
A famosa frase “Penso, logo existo”, de René Descartes, dita para expressar a ideia do filósofo de que a capacidade de pensar é a prova da existência dos seres humanos, bem pode ser substituída por “Posto, logo existo”. O paralelo me parece muito perigoso para a formação e a educação das gerações atuais que se distanciam da vida real, aquela do encontro com familiares e amigos, para viver no que entendem ser o mundo ideal retratado nas postagens e nas curtidas.
A desigualdade digital ampliará as diferenças sociais já existentes
É temeroso o futuro daqueles que substituíram o bate-papo, o olho no olho e o convívio familiar em torno da mesa das refeições pelas curtas e abreviadas mensagens em português sofrível trocadas até mesmo entre irmãos e pais, inclusive sob o mesmo teto.
Até os ruidosos recreios nas escolas ficaram silenciosos, segundo relato de professores e diretores. Ansiosos, os alunos atualizam suas redes sociais no intervalo, sem interação social com os colegas. Isolados, abrem espaço para depressão, ansiedade e outros distúrbios mentais, lotando os consultórios psicológicos e psiquiátricos. Se os países desenvolvidos e as boas escolas particulares já adotaram a prática, a tendência é de que ela vire uma regra geral com apoio de grande parte da sociedade. O caminho legal, que pode determinar um regramento necessário para equilibrar o uso pedagógico e evitar distrações em sala de aula preservando o aprendizado, também traz outros impactos.
Dependendo da restrição, a decisão poderá afastar ainda mais a busca pela transformação e por metodologias aplicadas nas escolas que promovam o desenvolvimento e até o empreendedorismo. A desigualdade digital ampliará as diferenças sociais já existentes.
Pais, educadores e legisladores estão diante do desafio de preparar os jovens para serem usuários responsáveis e críticos das tecnologias e, assim, reconectá-los formando cidadãos digitais saudáveis.
Disciplina no uso do celular é importante, mas o foco deveria ser na adaptação das práticas educacionais às novas realidades tecnológicas, enfatizando a necessidade de formação contínua para educadores e a criação de ambientes de aprendizagem mais dinâmicos e interativos.