Por Gabriel Wainer, apresentador do @RivoNews
Um movimento muito impressionante tomou conta de parte da imprensa brasileira na semana passada. Na terça-feira, jornalistas começaram a ventilar uma explicação decretória sobre a razão pela qual o dólar estava subindo vertiginosamente: um perfil no X (antigo Twitter) com apenas 3,5 mil seguidores havia publicado uma mentira. A mentira, no caso, era uma previsão do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sobre a cotação do dólar e que ele apoiava a criação de uma nova moeda do Brics. A postagem teria sido replicada por perfis que têm alcances razoáveis nas redes, mas que não são levados a sério por ninguém.
Qualquer analista econômico sério sabe que o dólar não atingiu sua maior cotação nominal por fake news
O furo de reportagem teria sido enviado à primeira jornalista que veiculou a explicação estapafúrdia por integrantes do próprio BC. Segundo ela, eles estavam apavorados com os efeitos da potencial propagação da mentira sobre Galípolo. Mesmo que isso seja verdade, o nosso papel como jornalistas não é permitir a instrumentalização do nosso trabalho. Não devemos servir de assessoria de imprensa de instituições públicas. Muito pelo contrário, nosso papel é cobrá-las.
Mas a história é ainda pior, porque qualquer analista econômico sério sabe que o dólar não atingiu sua maior cotação nominal por “fake news”. A frivolidade da crença nesta teoria por quem nos informa é preocupante. A colunista Marta Sfredo, de Zero Hora, sintetizou: no dia da divulgação da mentira, o dólar subiu 0,02%. No dia seguinte, sem mentira, subiu 2,8%. Como diria a música de Tom Zé, tem muita gente que explica para confundir e confunde para esclarecer.
O dólar está onde está por fatores que vão desde o descompromisso do presidente Lula com o ajuste fiscal até a desidratação, pelo Congresso, do pacote fiscal já originalmente pueril apresentado pelo ministro Fernando Haddad. Portanto, a “denúncia”, claro, foi música para os ouvidos do governo.
Afinal de contas, outro dia mesmo Lula disse que “a única coisa errada nesse país é a taxa de juros”. Para alguém que acredita nesse discurso delirante, o dólar atingir sua máxima nominal histórica por causa do X é até factível.