Entre os morros do Moinhos de Vento, a orla do Guaíba e a várzea dos Navegantes, a Floresta foi o primeiro bairro industrial de Porto Alegre. A partir da segunda metade do século 19, o antigo arrabalde acolheu um grande contingente de imigrantes – principalmente alemães, mas também poloneses, italianos e espanhóis –, atraídos pela abertura de fábricas na região norte da Capital.
Não por coincidência, a Floresta ficou conhecida como o “bairro das chaminés”. Nele, se destacavam as cervejarias – ninguém duvidava que, até meados do século 20, ali eram fabricadas as melhores cervejas de Porto Alegre. Entre elas, estavam a Bopp Irmãos, a Sassen e a Ritter Becker, marcas que, a certa altura, se fundiram na Continental. Em 1946, a Brahma (fundada em 1888, no Rio de Janeiro) assumiu o controle da cervejaria porto-alegrense, que tinha como sede o conjunto de prédios projetados em 1911 pelo alemão Theo Wiederspahn, na Avenida Cristóvão Colombo (entre as ruas Santo Antônio e Ramiro Barcelos). Atualmente, os edifícios estão ocupados pelo Shopping Total.
Outro empreendimento de destaque era o Moinhos Germani, inaugurado em 1941 pelo italiano Aristides Germani, na esquina das ruas 7 de Abril e Emancipação (empregava mais de 100 trabalhadores). A Floresta abrigava também fábricas de sabões e sabonetes, móveis, fogões, camas, pregos e cigarros, sem falar em pequenas oficinas e manufaturas. Os operários viviam em cortiços, casinhas de porta e janela e condomínios populares, como o Vila Flores, projetado no final dos anos 1920 pelo arquiteto José Lutzenberger (pai do famoso ambientalista).
Como não poderia deixar de ser, a Floresta foi também território de organizações de trabalhadores, como destacou o pesquisador Frederico Bartz na revista Parêntese. Havia entidades com viés mais recreativo, como a Sociedade Florida (aberta em 1883, na Rua Comendador Azevedo), que promovia campeonatos de bocha, esporte de origem germânica que ganhou popularidade entre os gaúchos. No início do século 20, multiplicaram-se as de cunho político. A primeira organização assumidamente comunista de Porto Alegre, por exemplo, foi fundada em 1918, em uma barbearia da Rua Conde de Porto Alegre – a União Maximalista, liderada pelo imigrante libanês Abílio de Nequete.
Já a Federação Operária teve sedes na Ramiro Barcelos, na Rua do Parque e na Comendador Azevedo, onde também estava de portas abertas o sindicato dos cervejeiros. De orientação social-democrata, a Associação Geral dos Trabalhadores tinha sede na Barros Cassal, e a Liga Operária Internacional na Ramiro Barcelos. Na Comendador Coruja, a Associação dos Artesãos, criada em 1930, publicava o jornal Das Handwerk (O Artesão, em alemão), como registrou Bartz.
Um panorama bem diferente do que havia na região até meados do século 19, quando aquela era uma área rural preenchida por chácaras. A construção da Estrada da Floresta (embrião da Avenida Cristóvão Colombo), caminho que ligava a área central da cidade até o morro coberto de árvores nativas, foi o que deu início ao desenvolvimento da região. Aliás, a mata densa que abastecia pequenas madeireiras e fornecia lenha para fogões das casas dos primeiros moradores deu origem ao nome do bairro, hoje pertencente ao 4º Distrito, região de Porto Alegre que se transformou em reduto de empreendimentos de economia criativa, cultura e gastronomia.