Até o final do século 19, o vidro usado no Rio Grande do Sul era importado. Uma indústria na Rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre, foi pioneira na fabricação deste produto tão importante. O alemão Frederico Julius Brutschke fundou, em 1892, a firma Julius & Cª, em sociedade com Ambrose Archer, Frederico Harbich e Jacob Selbach Júnior.
Em julho de 1892, a produção já tinha itens variados, como garrafas, pequenos vidros de óleo, lampiões de querosene, etc. O jornal A Federação descreveu que "esses artigos, todos de grande consumo entre nós e que se vendem de modo a concorrer vantajosamente com os seus congêneres importados do estrangeiro, são de aspecto muito agradável e demonstrativo do zelo da sua confecção". Antes desta primeira empreitada industrial, Brutschke e Harbich já importavam e vendiam vidros e louças.
Em maio de 1894, os quatro sócios participaram da fundação da sociedade anônima Companhia Fábrica de Vidros Sul-Brazileira. O primeiro presidente da empresa foi Ambrose Archer. O estatuto da nova companhia estabelecia compromisso de manter o contrato e pagamento do ordenado do mestre da fábrica, o alemão Luiz Engelke. Brutschke, Archer, Harbich e Selbach passaram a ser acionistas da nova empresa, que adquiriu passivos e ativos da firma Julius & Cª. Com novos investidores agregados, o objetivo era ampliar a fábrica de vidros.
Archer era vice-cônsul britânico em Porto Alegre, onde se casou com Ida Chaves Barcellos, uma das filhas do comendador Antônio Chaves Barcellos. O professor e empreendedor Jorge Piqué, que pesquisa a história do 4º Distrito, acredita que o inglês, que era importador de vidro, foi o principal articulador para a produção na cidade. Os Chaves Barcellos também se tornaram acionistas na empresa.
A fábrica aproveitou o mercado de garrafas da crescente indústria cervejeira da capital gaúcha. Em exposição de 1901, ganhou Medalha de Ouro por seus produtos. Em 1928, a indústria já estava em prédio da esquina da Rua Voluntários da Pátria com Rua Almirante Tamandaré. De 1931 a 1950, o diretor-presidente da Sul-Brazileira foi o comendador Ismael Chaves Barcellos, figura de destaque no meio empresarial e pelas ações filantrópicas. Entre os tantos funcionários que passaram pela fábrica, estava Romeu de Oliveira Costa, pai da cantora Elis Regina. A Companhia Fábrica de Vidros Sul-Brasileira (grafia original mudou mais tarde) operou até a década de 1950. Em registro dos jornais, ainda era dona do prédio no 4º Distrito em 1959, quando a sede estava registrada em São Paulo.
Depois de décadas, o imóvel que abrigou a indústria de vidro na esquina da Rua Voluntários da Pátria com Rua Almirante Tamandaré, no bairro Floresta, ganhará uma nova função. Ele representa uma parte importante do passado industrial e agora será parte do futuro do 4º Distrito, que passa por transformações.
O 4D Complex House será um complexo multiuso da ABF Developments, misturando arte, cultura, música, gastronomia e arquitetura disruptiva. O Galpão Food Beer Hall, onde ficava a fábrica, terá diversas operações gastronômicas. A partir dele, começará um boulevard arborizado, em direção à Avenida Farrapos.
Um fato curioso sobre os pioneiros da produção de vidro. Quando foi convidado para ocupar o cargo de diretor da Companhia Fábrica de Vidros Sul-Brazileira no lugar de Harbich, em 1895, Brutschke não aceitou. A partir de 1899, o jornal A Federação publicou notas de importação, principalmente de louças, em nome de Brutschke & Harbich. No mesmo ano, divulgou que a empresa produzia copos em uma fábrica na Ilha da Pintada. Viraram concorrentes da Sul-Brazileira. Em 1904, com o nome F.J. Brutschke, nota comunicava a mudança de endereço da loja e escritório da Rua 15 de Novembro (atual Rua José Montaury) para a Rua Voluntários da Pátria, número 38. Brutschke morreu em 1910. A família seguiu tocando o negócio.
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