Vizinhos do Gauchão traz uma série de reportagens de torcedores que moram nas cercanias dos estádios onde os jogos da competição são disputados. Ao longo do campeonato, GZH contará a história de personagens que, pela proximidade, tiveram a sua vida envolvida pelo clube do coração. Mais do que uma relação de vizinhança, criaram um sentimento de pertencimento. Nesta sexta-feira (23), confira a última reportagem da série e conheça a história de Marcílio, jogador, que no fim das contas é um torcedor, do São José e mora ao lado do Passo D'Areia.
Ao fim e ao cabo, todo jogador de futebol é um torcedor da camisa que ostenta. Ele pode até enfrentar o clube do coração, mas honrará as cores que veste, quem sabe até irá às redes, afinal o seu sustento depende do que faz em campo independentemente de quem seja o adversário. Um dos novos torcedores do São José é Marcílio, lateral-esquerdo da equipe de Porto Alegre. Em sua primeira temporada na Zona Norte da Capital, mora grudado ao Passo D'Areia.
O apartamento locado pelo clube é dividido com a esposa e com Fred, o lulu da pomerânia de estimação do casal. O local fica ao lado do estádio, na rua Padre Hildebrando. Em poucos passos, o lateral-esquerdo desce as escadas, abre a porta do condomínio, caminha pela calçada até ingressar na casa do São José. Se fosse liberado, poderia vestir o uniforme no seu quarto e ir direto para o gramado, mas é preciso respeitar a liturgia do vestiário.
— É bom ser vizinhos do estádio. Não tem de pegar trânsito. Não gasto nada. Venho andando devagarinho. Também não tem como chegar tarde para o treino. Aí, não vai para a caixinha — conta, comemorando que a localização facilita se livrar das multas por chegar depois do horário estipulado.
As vantagens são claras. Enquanto Marcílio participava da matéria, gravando vídeo e posando para fotos, seus colegas iam desembarcando para o treino. Alguns com o próprio carro, outros de aplicativo. Nenhum deles com a tranquilidade de quem vive colocado ao portão de entrada do departamento de futebol.
Marcílio, 28 anos, mentiria se dissesse que nunca morou tão perto do trabalho quanto no Passo D'Areia. No início da carreira, viveu a situação pela qual passam muitos e muitos adolescentes que buscam seu lugar no mundo da bola. Na época das categorias de base do ABC, seu endereço era dentro do estádio, no alojamento do clube.
— Morar embaixo do estádio era bem pior. Em casa tem muita coisa para fazer. No alojamento, depois das 19h, 20h, não tem nada para fazer. Fico feliz por ser vizinho do São José — enfatiza.
Entre os dias morando embaixo da marquise e os vivendo em Porto Alegre, ele atuou por 10 clubes, com passagem por Portugal e Japão. Sua contratação foi uma indicação de Thiago Gomes, técnico do São José até o fim do ano passado e que se transferiu para o Sampaio Corrêa. Em seu primeiro Gauchão, Marcílio disputou seis partidas, colaborando para a sexta colocação do Zequinha até aqui.
Natural de Natal-RN, ele curte a vizinhança, mas estranha o tipo de calor que se vive no verão gaúcho.
— É um calor diferente. É uma cidade boa de morar. Quero ser feliz aqui no São José. É bom ser um torcedor do São José. Vim para fazer história — assegura.
O defensor é um dos três que moram em apartamentos alugados pelo São José ao lado do Passo D'Areia. Os outros são o zagueiro Carlos Itambé e o lateral-direto Dudu. Eles, como todo torcedor do São José, querem dar um título ao São José, na hora das comemorações estarão do lado de casa.