Vizinhos do Gauchão traz uma série de reportagens de torcedores que moram nas cercanias dos estádios onde os jogos da competição são disputados. Ao longo do campeonato, GZH contará a história de personagens que, pela proximidade, tiveram a sua vida envolvida pelo clube do coração. Mais do que uma relação de vizinhança, criaram um sentimento de pertencimento. Nesta sexta-feira (26), confira a história de Jorge Manoel, torcedor que tem uma relação tripla com o Ypiranga.
Jorge Manoel Cavrucov tem uma relação tripla com o Ypiranga. Ela começou de maneira passional, como toda criança que descobre o futebol e escolhe um clube para torcer. Na sequência, se tornou física pelas andanças da vida. Por fim, criou conexões profissionais, afinal, é preciso sobreviver. Comecemos de trás para frente.
Motorista de aplicativo, Jorge, 35 anos, transporta com constância jogadores do Colosso da Lagoa para suas casas. Nesse tempo em que leva os boleiros no banco de trás do seu carro, aprendeu lições sobre o dia a dia de um atleta profissional. Com elas, embasa seus comentários sobre futebol.
Durante os trajetos pelas ruas de Erechim também troca ideias e comenta os jogos do Ypiranga. Para sua surpresa, os atletas demonstram interesse na conversa, o que o deixa por dentro dos pormenores do vestiário do Colosso.
— O pessoal acha que a rotina do jogador de futebol é diferente do que é na realidade. A rotina deles é puxada — adverte. — O pessoal é receptivo. Vamos sempre conversar sobre o time. Achei que eles não iriam se expor falando sobre isso, mas sempre falam — conclui.
As corridas são mais constantes com alguns jogadores, o que criou vínculos. Os mais fortes com o goleiro Edson. O camisa 1 deixou de ser cliente e se transformou em amigo. Quando o tempo permite, os dois fazem um assado de confraternização entre as famílias. No seu armário, Jorge guarda com carinho duas camisas que ganhou de presente do goleiro.
As relações comerciais se estendem além das quatro portas do carro. Na casa de dois andares onde mora, a esposa Bianca Tormen montou uma pet shop no térreo. Diversos jogadores deixam seus bichinhos de estimação aos cuidados dela. Entre os atletas, nada de animais de grande porte. A preferência são por pets mais delicados, como o spitz, popularmente conhecido como Lulu da Pomerânia.
Eis a relação física com o clube, estabelecida há pouco tempo. São cerca de quatro anos morando a poucos metros do Colosso da Lagoa. A localização nos arredores do estádio estava longe de ser um requisito para o novo lar do casal, mas a escolha veio a calhar. A proximidade redespertou a paixão que Jorge tinha pelo Ypiranga nos tempos de guri.
— Não achei que me afetaria tanto. Me aproximou mais do Ypiranga. Sempre acompanhei, mas passei a me envolver mais ainda. O clima fica diferente em dia de jogo. O bairro sai da rotina, a rua enche de carros. Como moro perto, saio uns cinco minutos antes de casa, o que é muito bom — destaca.
A conexão mais forte também foi reforçada pelo momento vivido pelo clube nas últimas temporadas. O inédito acesso à Série B bateu na trave algumas vezes. Nos últimos dois Gauchões, o Ypiranga foi à final, em 2022, e à semifinal no ano passado.
A chance de ser campeão Estadual lhe atrai na mesma medida que o amedronta. Jorge viu a poucos metros da sua casa o time vice-campeão gaúcho se esfarelar em poucos dias. Teme que a revoada dos jogadores se repetia em caso de título. Seu sonho é ver o Canarinho trinar o seu futebol nos gramados da Série B.
— Meu objetivo maior é subir para a Série B do Brasileirão. Ficando entre os quatro no Gauchão está bom — avalia.
A gente finge que acredita. Imagina o orgulho de carregar no banco de trás do carro um campeão gaúcho, Jorge!