Com forte alta de 2,82%, o dólar fechou em novo recorde nominal, superando dois degraus de uma só vez. Depois de tocar R$ 6,256, até ensaiou uma moderação, mas voltou a subir e fechou em R$ 6,267.
Além da inquietação com o futuro do pacote de corte de gastos, nesta quarta-feira (18) pesou a sinalização do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos). Houve a redução esperada de 0,25 ponto percentual, mas o comunicado projeta menos cortes diante da resiliência da economia americana. Com juro maior por mais tempo lá, investidores preferem aplicar nos títulos americanos do que em países emergentes como o Brasil, por obter bom ganho com menos risco.
Embora até agentes de mercado reconheçam que a reação é mais subjetiva do que alinhada a fundamentos econômicos, também há razões lógicas por trás dessa disparada do dólar.
– Há contatos conosco falando em especulação – disse o ministro da Ministério da Fazenda, Fernando Haddad depois de uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
E acrescentou:
– Neste momento em que as coisas estão pendentes, com um clima de incerteza, o câmbio flutua, mas acredito que ele vai se acomodar.
Como a coluna já relatou, existe uma pressão sobre o dólar que sempre ocorre no fim de ano, pela remessa de lucros das multinacionais que operam no Brasil e vendem reais para comprar dólares. Isso pressiona o mercado de câmbio e contribui para elevar a cotação porque há muita procura por dólar.
Na véspera, há houve desidratação do pacote de corte de gastos, com a vedação de redução de benefícios tributários quando as despesas forem maiores do que as receitas. Nesta quarta-feira (17), deputados da base do governo se mobilizaram para impedir a aprovação de mais critério na concessão de benefícios sociais.
Mas o mercado também aponta perda de credibilidade da política fiscal, porque declarações de compromisso com o equilíbrio das contas públicas não se traduzem em ações efetivas.
Houve deterioração rápida, especialmente no câmbio e no mercado de juros, porque o pacote apresentado não dá conta nem de sustentar o arcabouço fiscal, muito menos estabilizar a dívida pública no médio prazo. Existe certo consenso de que R$ 6 é o novo piso para o dólar, dada a situação fiscal do Brasil. Agora, o salto desta quarta-feira (18) levanta perguntas sobre até onde a cotação pode chegar. Como se trata de dólar, ninguém responde.