Vizinhos do Gauchão traz uma série de reportagens de torcedores que moram nas cercanias dos estádios onde os jogos da competição são disputados. Ao longo do campeonato, GZH contará a história de personagens que, pela proximidade, tiveram a sua vida envolvida pelo clube do coração. Mais do que uma relação de vizinhança, criaram um sentimento de pertencimento. Nesta quarta-feira (17), confira a história de Claudete Morsch, torcedora que divide muro com os Eucaliptos, estádio do Avenida.
Os eucaliptos que dão nome ao estádio do Avenida não resistiram ao tempo. Viraram papel, madeira, lenha. Já o fanatismo de Claudete Morsch pelo clube de Santa Cruz do Sul resistiu aos bons e maus momentos. Ela não conhece a vida sem o Avenida, seu vizinho desde o seu nascimento, há 55 anos.
As árvores da região se foram. As tábuas que separavam seus dois lares foram trocadas por um muro com uns três metros de altura, bem mais baixos do que os eucaliptos de até 30 metros que existiam por ali. Mas existem situações imutáveis.
— Quando tem jogo pode faltar o juiz, mas eu não falto. É a minha segunda casa — diz Claudete, gargalhando.
Nem mesmo se aquele Avenida e Grêmio pelo Gauchão de 1999 fosse disputado no dia programado faria ela se ausentar. Na quarta-feira em que o jogo de ida das quartas de finais seria disputado, chovia a cântaros na cidade. A partida foi disputada no dia seguinte, sob forte sol. Claudete estava lá para ver o seu time bater o de Ronaldinho Gaúcho por 1 a 0, no que ela considera o jogo de sua vida.
O lugar daquela vitória épica segue o mesmo onde acompanha as partidas até hoje. No meio daquele turma boa de todos os jogos, ela é a célebre Dona Coti. É naquele pedaço do estádio que viveu alegrias e tristeza. Que comemorou vitórias e lamentou derrotas. E que xingou muito, mas apenas adversários e árbitros.
— Nunca vaiei o Avenida — assegura.
Nas épocas em que as vacas estavam esquálidas pelas bandas dos Eucaliptos, a proximidade com os jogadores aumentou. Para evitar que precisassem dar a volta no estádio para baterem um papo com os vizinhos, os jogadores colocavam uma escada para subir de um lado do muro. Claudete colocava outra do seu lado da mureta. Junto com os Morsch, tomavam chimarrão e contavam histórias. Por vezes, em horário indevido.
— Quando a concentração era no estádio, uns jogadores vieram conversar com meu pai, de noite. Eles não podiam deixar os quartos. O técnico era o (Paulo Sérgio) Poletto, que deu um xixi neles quando descobriu — se diverte Dona Coti.
A relação com o Avenida começou por volta dos 10 anos de idade. Ela pulava o muro de casa para jogar bola no gramado do estádio. Quando a bola não rolava, os imponentes eucaliptos também eram local para brincadeiras. Das sementes das árvores, fazia colares para se enfeitar. Hoje, a homenagem vem em uma pintura verdade nas paredes de casa.
Em dias de grandes públicos nas arquibancadas, Claudete vai para o estádio cerca de 10 minutos antes do apito inicial. Em partidas menos populosas, se dá ao luxo de sair ainda mais perto do pontapé inicial. Será preciso ter um pouco de paciência para assistir à primeira partida do ano. O Avenida jogará como mandante somente na segunda rodada, quando recebe o Brasil-Pel nos Eucaliptos, um estádio que perdeu as árvores que o batizam, mas nunca perderá a presença de Dona Coti.