Adoro minisséries, porque permitem aos realizadores e aos atores desenvolver as histórias e os personagens sem tomarem demais do nosso tempo.
Se for minissérie policial, melhor ainda, pois tramas desse gênero se prestam muito para a geração de suspense ao final de cada episódio. Aliás, adoro quando são distribuídas à moda antiga, ou seja, com um capítulo por semana, dando espaço para o público elaborar teorias sobre os mistérios apresentados e respirar depois de um acontecimento de tirar o fôlego.
Nesta coluna, fiz uma lista com 13 sugestões disponíveis no streaming — nem todas se restringem aos elementos policialescos. Dá para maratonar em um dia (uma de cada vez, é claro). Escolha a sua e clique nos links se quiser saber mais.
1) True Detective (1ª temporada, 2014)
Na primeira temporada da série criada por Nic Pizzolatto, Matthew McConaughey e Woody Harrelson vivem, respectivamente, o enigmático Rustin Cohle e o vulcânico Martin Hart, detetives que solucionaram um crime em 1995 e que estão, em 2012, dando explicações a dois policiais da região de Nova Orleans. Algo saiu dos trilhos nestes 17 anos, arrastando as vidas de Cohle e Hart por caminhos tortos, e um serial killer está nas ruas indicando que o caso supostamente resolvido pela dupla pode ter ficado com muitas pontas soltas. A trama ferve em ritmo lento influências da literatura do gênero e do fantástico, como Robert W. Chambers, de O Rei de Amarelo, temas como pedofilia e bruxaria e referências a Twin Peaks. (8 episódios, Max)
2) The Night Of (2016)
Filho de imigrantes paquistaneses em Nova York, o jovem universitário Nasir Khan, o Naz (Riz Ahmed), pega "emprestado" do pai o táxi para ir a uma festa. No meio do caminho, em duas ocasiões pessoas tentam embarcar no carro como passageiro. Mais tarde, uma infração de trânsito, um objeto levado da cena de um crime brutal e uma testemunha ocular vão tornar Naz o suspeito número 1. É esse o resumo do primeiro e fabuloso episódio da minissérie criada pelo escritor Richard Price e pelo cineasta Steven Zaillian, que acrescenta ao suspense policial conotações culturais, políticas e sociais, refletindo o estado de ânimo nova-iorquino para com os muçulmanos pós-11 de Setembro e mostrando penitenciárias como fábricas de bandidos. (8 episódios, Max)
3) Collateral (2018)
Indicada ao Oscar de melhor atriz por Educação (2009) e Bela Vingança (2020), Carey Mulligan, por si só, justifica assistir à minissérie inglesa escrita pelo renomado dramaturgo David Hare — por sua vez, concorrente à estatueta dourada de roteiro adaptado por As Horas (2002) e O Leitor (2008). Mulligan interpreta Kip Glaspie, uma detetive designada para investigar o assassinato de um entregador de pizza que é baleado em um subúrbio de Londres. A partir daí, Hare lança mão de uma teia de personagens para discutir a atuação da polícia, do serviço secreto e do exército, o papel da Igreja e dos partidos políticos, o sistema de imigração e o caldo que levou ao Brexit. (4 episódios, Netflix)
4) Objetos Cortantes (2018)
Baseada em livro de Gillian Flynn, a autora de Garota Exemplar, a minissérie tem como protagonista a repórter policial Camille Preaker (Amy Adams), que volta à sua cidade natal para fazer a cobertura jornalística do assassinato de duas pré-adolescentes. Durante a investigação do caso, Camille, que acabou de sair de uma temporada numa clínica psiquiátrica, se identifica com as jovens vítimas e relembra fatos de seu passado para entender o quebra-cabeça psicológico que se apresenta à sua frente. Nesse processo, ela terá de confrontar seus traumas e o zelo exagerado da mãe, Adora (papel de Patricia Clarkson). A direção é do canadense Jean-Marc Vallé, dos filmes C.R.A.Z.Y. (2005) e Clube de Compras Dallas (2013), morto no final de 2021. (8 episódios, Max)
5) 12 Jurados (2019)
Falada em holandês, a minissérie belga gira em torno de Frie Palmers (Maaike Cafmeyer), mulher acusada de ter assassinado sua melhor amiga, em 2000, e sua própria filha, 16 anos depois. É uma série de tribunal, mas esse não é o único cenário da trama criada por Sanne Nuyens e Bert Van Dael. E 12 Jurados não se concentra apenas na investigação sobre os crimes: há múltiplos personagens e múltiplos enigmas. Enquanto depoimentos no julgamento e flashbacks reconstituem o passado de Frie e as circunstâncias das mortes, somos apresentados aos dramas particulares de alguns jurados. Entre eles, estão a herdeira de um casal brutalmente assassinado e um fotógrafo que frequenta reuniões de viciados em sexo. (10 episódios, Netflix)
6) Areia Movediça (2019)
Tem alguma semelhança com 12 Jurados. Também foca um julgamento de um crime chocante: a protagonista, Maja (pronuncia-se Maia), uma estudante do Ensino Médio, é acusada de participar de uma chacina em uma escola bacana de Estocolmo, na Suécia, onde, entre outras vítimas, foram mortos o namorado e a melhor amiga dela. Como na minissérie belga, a sueca alterna a narrativa entre o presente e o passado — quando surgem indícios tanto a favor quanto contra a personagem principal. Em meio a temas como bullying, xenofobia e relacionamentos abusivos, a trajetória de Maja é recuperada desde a aproximação com Sebastian, um garoto negligenciado pelo pai rico. Eis o pano de fundo, ou quem sabe a verdadeira questão de Areia Movediça: o que os adolescentes fazem longe do olhar de pais que não querem vê-los. (6 episódios, Netflix)
7) O Homem das Castanhas (2021)
O nome simpático esconde um típico exemplar do noir nórdico, cru e violento quando necessário. Trata-se de uma adaptação do romance homônimo de Soren Sveistrup. Em Copenhague, nos dias atuais, uma jovem mãe é brutalmente assassinada. Seu corpo é encontrado em um parque, sem uma das mãos. Próximo do corpo há um pequeno boneco feito de castanhas. Essa é a principal pista para a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic), uma mãe solteira que agora conta com um novo parceiro policial, o instável Mark Hess (Mikkel Boe Folsgaard). Paralelamente, acompanhamos o difícil recomeço da ministra Rosa Hartung (Iben Dorner) — um ano antes, sua filha adolescente desapareceu. (6 episódios, Netflix)
8) O Inocente (2021)
Oriol Paulo e Pablo Vallejo adaptaram para a Espanha um romance do escritor estadunidense Harlan Coben. Mario Casas interpreta Mateo Vidal, o Mat, estudante de Direito que, em uma briga de bar, mata acidentalmente um rapaz. Após quatro anos na prisão, ele reconstrói sua vida e reencontra a mulher que conhecera na festa após ser libertado, Olivia (Aura Garrido). Os dois se casam e estão para se tornarem pais, mas um belo dia ele recebe uma mensagem perturbadora enviada pelo celular dela. O que consta na mensagem? Qual é a relação entre Mat e uma freira que se suicidou em pleno orfanato? Por que o corpo dessa religiosa atrai a atenção da polícia federal? O que Olivia esconde quando se tranca no banheiro? Quem é Anibal? As tramas que correm em paralelo em O Inocente vão preenchendo o quebra-cabeça e reprisando os temas de Coben: o peso do passado e o preço dos segredos. (8 episódios, Netflix)
9) Mare of Easttown (2021)
Fascinada com o "quem foi" da minissérie criada por Brad Inglesby, Kate Winslet ressaltou que embarcou no projeto porque "não é só a história de um crime". De fato, o crime descoberto no primeiro capítulo é chocante e misterioso, mas serve sobretudo como catalisador dos dramas pessoais e familiares em cidadezinha dos EUA. A morte traz à tona relações e segredos guardados em vida, imagem reforçada pela ambientação numa estação fria, que obriga os personagens a se esconderem atrás de casacos, mantas e gorros. E - até o final — todos têm o que ocultar ou algo do que não gostam de falar. Praticamente perfeita, Mare of Easttown venceu os Emmys de atriz (Winslet, também premiada no Globo de Ouro, ator coadjuvante (Evan Peters), atriz coadjuvante (Julianne Nicholson) e design de produção. (7 episódios, Max)
10) Black Bird (2022)
Nesta minissérie baseada em um caso real e escrita pelo romancista Dennis Lehane (de Sobre Meninos e Lobos e Ilha do Medo), Taron Egerton interpreta James Keene, o Jimmy, um filho de policial e um promissor jogador de futebol americano que enveredou para o tráfico de drogas. Dono de um pequeno império em Chicago, ele acaba preso em operação do FBI. Enquanto isso, vemos o surgimento dos outros dois personagens importantes em Black Bird. Um é o detetive vivido por Greg Kinnear, que investiga o desaparecimento — e provável assassinato — de jovens mulheres. O outro é o principal suspeito, Larry Hall, um tipo excêntrico que adora participar de reencenações da Guerra Civil e é encarnado por Paul Walter Hauser. A combinação de seu físico roliço com a voz estridente e as costeletas suíças do personagem transformam Larry em um sujeito ora bizarro, ora patético, ora perigoso. (6 episódios, Apple TV+)
11) Depois da Cabana (2023)
É o nome horrível dado para a minissérie alemã Liebes Kind (2023) — uma tradução mais apropriada seria "querida filha". Além de não se justificar ao longo da adaptação do romance policial lançado em 2019 por Romy Hausmann, o título nacional também cria uma confusão desnecessária com A Cabana, livro de 2007 voltado ao público religioso. O curioso é há mesmo alguns pontos de contato. Em A Cabana, o protagonista, após o rapto e o suposto assassinato de sua filha de seis anos, recebe um misterioso bilhete de Deus para visitar uma cabana no meio das montanhas, onde encontrará entidades divinas e buscará respostas para uma pergunta recorrente: "Se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para amenizar nosso sofrimento?". Em Depois da Cabana, também há uma menina no centro da trama e também há uma série de perguntas a serem respondidas. Mas o que se encontra em uma casa no meio da floresta está mais perto do inferno do que do céu, e tampouco há elementos sobrenaturais. Tudo começa com a fuga de uma mulher, Lena (Kim Riedle), e sua filha de 12 anos, Hannah (Naila Schuberth, em atuação assombrosa), de um cativeiro sem janelas onde o suposto pai impõe uma série de regras e punições. Desde as primeiríssimas cenas, dúvidas assaltam a mente do espectador: por que a mãe e as duas crianças precisam mostrar a palma e o dorso da mão? Aliás, por que o outro filho, o menino Jonathan, não fugiu junto? Qual é a identidade do homem? A cada vez que achamos estar diante de uma resposta, surge um novo enigma; a cada passo à frente, há um desvio ou mesmo um beco sem saída. (6 episódios, Netflix)
12) Acima de Qualquer Suspeita (2024)
É a nova adaptação do best-seller publicado em 1987 por Scott Turrow, levada ao cinema em 1990 com Harrison Ford no papel principal. Agora, Jake Gyllenhaal interpreta o promotor Rusty Sabich, designado para assumir o caso de um assassinato chocante: o de Carolyn Polhemus (Renate Reinsve), sua colega de trabalho e, não é spoiler, sua amante. Desenvolvida por David E. Kelley, famoso por criar e produzir séries de tribunal (Ally McBeal, Boston Legal), a minissérie deve ser melhor apreciada por quem não conhece a trama original, cheia de reviravoltas. Mas quem sabe do desfecho também encontra qualidades, a começar pelo elenco, que inclui Ruth Negga, Bill Camp, Peter Sarsgaard e O.T. Fagbenle. Tanto no campo jurídico-político quanto no território matrimonial, somos brindados por duelos verbais que, afiadamente, desnudam a personalidade nada exemplar dos personagens. É uma grande história sobre o poder da narrativa sobre o que entendemos como certo ou verdade, e sobre como as idealizações e as hipocrisias da sociedade podem ser nocivas, tóxicas. Acima de Qualquer Suspeita fez tanto sucesso, que terá uma segunda temporada, mas com um enredo novo. (8 episódios, Apple TV+)
13) Disclaimer (2024)
Disclaimer é o nome dado às declarações de isenção de responsabilidade, uma proteção contra possíveis problemas legais, como aqueles avisos, nas primeiras páginas de um livro de ficção, de que "qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência". Trata-se da primeira série inteiramente realizada pelo cineasta mexicano Alfonso Cuarón, ganhador do Oscar por Gravidade (2013) e Roma (2018), e é uma adaptação do romance Difamação, da escritora inglesa Renée Knight. A protagonista vivida por Cate Blanchett é a documentarista Catherine Ravenscroft, que construiu sua reputação ao trazer à tona os erros e as transgressões de governos, empresas e pessoas proeminentes. Agora, ela se vê às voltas com um livro (enviado pelo personagem do espantoso Kevn Kline) que expõe um episódio nefasto de quando era mais jovem. A trama é perfeita para quem curte segredos de família, mistérios mórbidos a desvendar e um vaivém entre o presente e o passado. A forma também seduz: Disclaimer intercala três pontos de vista, talvez nenhum deles absolutamente confiável, como a ilustrar o quão podem ser fabricadas, ou seja, não exatamente reais, as histórias que contamos sobre nós mesmos e aqueles que amamos. (7 episódios, Apple TV+)
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