Nesta terça-feira (19), chegou à Netflix um dos melhores e mais provocativos filmes dos últimos anos: Bela Vingança (Promising Young Woman, 2020), que ganhou o Oscar de roteiro original, assinado por sua diretora, a inglesa Emerald Fennell. Na premiação da Academia de Hollywood, concorreu ainda às estatuetas douradas de melhor longa-metragem, direção, atriz (Carey Mulligan) e edição (Frédéric Thoraval).
O título nacional não tem a sutileza nem o duplo sentido de Promising Young Woman. A jovem promissora pode ser tanto Nina Fisher — de quem saberemos aos poucos — quanto Cassandra, a protagonista interpretada com gana por Carey Mulligan. A inglesa, hoje com 38 anos, oferece mais uma de suas atuações hipnotizantes, como aquela que valeu sua primeira indicação ao Oscar de atriz, por Educação (2009), a da personagem principal de Não me Abandone Jamais (2010), a da minissérie policial Collateral (2018) e a dos papéis coadjuvantes em Drive e Shame (ambos de 2011).
Por outro lado, Bela Vingança escancara o que acontece desde a abertura: este é, sim, um filme de vingança. Que começa com a exibição, em uma pista de dança, de bundas e pernas masculinas, imitando o enquadramento típico dedicado a mulheres nesses cenários e invertendo a mão: agora, os homens é que são as "presas". A caçadora é Cassie, que finge estar bêbada, desnorteada e desamparada em bares para atrair caras que, por sua vez, fingem não compactuar com a cultura do estupro.
Na sua jornada, ela vai deparar com personagens interpretados por Adam Brody (o Seth Coehn do seriado The O.C.), Christopher Mintz-Plasse (de Superbad e Kick-Ass) e o comediante Bo Burnham (criador, diretor e astro do excepcional Inside, disponível na Netflix), entre outros atores.
Cassie também lidará com mulheres que ou endossam a culpabilização da vítima — caso da ex-colega de faculdade encarnada por Alison Brie —, ou adotam o discurso do "benefício da dúvida" em relação aos rapazes, como a reitora vivida por Connie Britton.
Cada diálogo escrito por Emerald Fennell — uma das roteiristas da série Killing Eve e vista como atriz em The Crown (faz o papel de Camilla Parker-Bowles) — é uma joia lapidada a ponto de se tornar cortante. A propósito, a mistura de visual colorido e tema sombrio é muito bem resumida na afiada versão instrumental de uma canção pop de Britney Spears, Toxic, aqui executada apenas ao violino, à viola e ao violoncelo, no preâmbulo de um clímax que divide opiniões, mas que era inevitável, porque cruelmente realista.