Tradição na coluna, a lista de 10 deste fim de semana destaca filmes disponíveis na Netflix.
Alguns acabaram de entrar na plataforma, embora não sejam necessariamente novos. Outros foram, de fato, lançados em 2023 (pelo menos no serviço de streaming). E há aqueles que podem ser tesouros escondidos em um menu com milhares de títulos.
Como também é de costume, há mais de 10 títulos. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Donnie Brasco (1997)
De Mike Newell. Estrelado por Al Pacino e Johnny Depp e indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado, adapta uma história que balançou o crime organizado dos EUA na década de 1970. Na trama, jovem agente do FBI consegue se infiltrar na máfia de Nova York apadrinhado por um gângster veterano que desconhece sua identidade. O elenco de apoio inclui Michael Madsen e Anne Heche.
2) Sangue Negro (2007)
De Paul Thomas Anderson. Valeu a Daniel Day-Lewis o segundo dos seus três Oscar de melhor ator — ele ganhou também com Meu Pé Esquerdo (1989) e Lincoln (2013) — e também foi premiado na categoria de fotografia, assinada por Robert Elswitt, que recuperou uma lente vintage 43mm datada de 1910 para chegar a uma escala de contrastes entre personagens e cenários. O título concorreu ainda aos troféus de melhor filme, direção, roteiro adaptado (pelo próprio Anderson, a partir do romance Petróleo!, do escritor estadunidense socialista Upton Sinclair), edição, direção de arte e edição de som. Em performance memorável, Day-Lewis encarna Daniel Plainview, um sujeito misantropo e ganancioso que faz fortuna explorando petróleo na Califórnia do começo do século 20. No solitário caminho que marca sua ascensão social, Plainview cruza com um jovem fanático religioso (Paul Dano, em vigorosa atuação), com o qual trava um conflito moral que tensiona o lugarejo em que vivem entre os poderes do dinheiro e da fé. O confronto deles numa pista de boliche tornou-se um momento antológico do cinema.
3) Abutres (2010)
De Pablo Trapero. Ricardo Darín interpreta Sosa, um advogado que ganha dinheiro ajudando vítimas de acidentes a receber indenizações. A ênfase não está em ajudar as pessoas, mas em ganhar dinheiro. Seu coração vai amolecer ao conhecer a médica socorrista Luján (Martina Gusmán). Ambos são personagens ambivalentes, cheios de qualidades mas igualmente de defeitos, o que por si só faz com que a história fique longe de ser previsível. Vale avisar que o filme tem imagens fortes.
4) Operação Invasão (2011)
De Gareth Evans. É tido como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Diz a sinopse: o chefe da máfia mais perigosa de toda a Indonésia e seu grupo de assassinos se escondem em um edifício. Vinte policiais treinados entram no prédio para tentar capturá-los. Disse um crítico: "Operação Invasão sacrifica seu enredo em favor da pura ação: uma dança cuidadosamente coreografada entre um herói solitário e incontáveis vilões. O protagonista rasga um fluxo interminável de inimigos como se fossem feitos de papel, desviando de balas, facas, espadas e explosões com a fúria imparável de um furacão".
5) O Som ao Redor (2012)
De Kleber Mendonça Filho. Em um bairro nobre à beira-mar de Recife, desfigurado pela expansão imobiliária que tem por trás interesses de antigos senhores de engenho, a chegada de uma equipe de segurança privada é o estopim para situações de tensão, suspense e violência. O elenco inclui Ana Rita Gurgel, Maeve Jinkings, Gustavo Jahn e Irandhir Santos. O diretor é o mesmo de Aquarius (2016), Bacurau (2019, com Juliano Dornelles) e Retratos Fantasmas (2023).
6) Foxcatcher (2014)
De Bennett Miller. Vou citar o que disse meu colega Daniel Feix: "A história de Foxcatcher não chocou o mundo, como indica, pretensiosamente, o subtítulo brasileiro. Mas isso é bom: se você nunca ouviu falar dos acontecimentos narrados no longa, vai descobri-los com uma boa dose de suspense, sem saber exatamente qual a tragédia que porá fim à relação entre o campeão olímpico de luta greco-romana Mark Schultz (Channing Tatum), seu irmão Dave (Mark Ruffalo), que o treina, e o excêntrico milionário que os apadrinha, John du Pont, interpretado por um surpreendente Steve Carell". Encenada entre os anos 1980 e 1990 (Schultz foi medalha de ouro nos Jogos de Los Angeles, em 1984), a obra valeu a Miller o troféu de melhor diretor no Festival de Cannes e concorreu a cinco Oscar: direção, ator (Carell), ator coadjuvante (Ruffalo), roteiro original e maquiagem.
7) Calibre (2018)
De Matt Palmer. O diretor e roteirista acompanha dois amigos de longa data que partem para uma viagem de caça no interior da Escócia. Vaughn (Jack Lowden), o afável protagonista, está para ser pai e aparenta só estar fazendo esse programa em nome da amizade. Marcus (Martin McCann) é festeiro e impulsivo — na primeira noite, já arranja confusão ao paquerar uma garota local no bar frequentado pela comunidade. Parece que veremos uma daquelas histórias em que a presença de um ou mais forasteiros gera uma turbulência na dinâmica de uma cidadezinha, mas o diretor e roteirista tem mais a nos oferecer. A soma da inexperiência com armas de Vaughn com a impetuosidade de Marcus vai colocá-los em uma terrível enrascada. É como se, na floresta onde foram caçar veados, entrassem em uma areia movediça moral, dessas das quais carregamos marcas para o resto da vida.
8) Noites Alienígenas (2022)
De Sérgio de Carvalho. Foi o grande vencedor do 50º Festival de Gramado, no ano passado, quando ganhou cinco Kikitos: melhor longa-metragem brasileiro, ator (o estreante Gabriel Knoxx, rapper como o seu personagem), ator coadjuvante (Chico Diaz), atriz coadjuvante (Joana Gatis) e o troféu da crítica. Também recebeu uma menção honrosa pela atuação de Adanilo. E é um dos seis finalistas na corrida para representar o Brasil no Oscar de 2024. Produzido no Acre, se passa nos limites entre o urbano e a Floresta Amazônica. O título Noites Alienígenas tem um duplo sentido. Por um lado, alude à porção realismo mágico do filme; por outro, sinaliza para uma triste realidade: a abdução da juventude de Rio Branco, a capital do Estado, pelo crime organizado, a partir da chegada das facções do Sudeste.
9) De Tirar o Fôlego (2023)
De Laura McGann. É um documentário que faz jus ao título e ao tema — o mundo do mergulho livre. O espectador pode realmente ficar sem ar ao acompanhar a história de Alessia Zecchini e Stephen Keenan, contada pela diretora e roteirista irlandesa com técnicas do suspense. Por isso, tanto melhor será a sua experiência se, como os praticantes desse esporte, você decidir submergir sem equipamento, ou seja, sem muitas informações.
Mas algumas coisas podem e devem ser ditas sobre De Tirar o Fôlego para atiçar sua curiosidade. Por exemplo: um dos cenários é o Blue Hole (buraco azul, em inglês), em Dahab, no Egito, considerado um dos locais mais famosos para o mergulho livre. Perigosíssimo, já matou mais gente do que o Monte Everest, nos Himalaias. Calcula-se que pelo menos cem mergulhadores já deixaram suas vidas no sumidouro que chega a ter 120 metros de profundidade e uma estrutura claustrofóbica e desorientadora, batizada de O Arco. Em 1997, os corpos entrelaçados de dois jovens mergulhadores foram resgatados. É provável que um tenha agarrado o outro enquanto entrava em pânico, arrastando para a morte o companheiro.
10) Fome de Sucesso (2023)
De Sitisiri Mongkolsiri. O filme tailandês serve um prato requentado e demorado (são 145 minutos de duração), mas nutritivo e bonito — se a comida daquele país asiático já é apetitosa por si só, imagine quando realçada por técnicas cinematográficas como a direção de fotografia, a câmera lenta e a montagem. Na trama, a jovem e talentosa Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying), que cuida do restaurante de bairro de sua família, é convidada para trabalhar na equipe do prestigiado chef Paul (Nopachai Chaiyanam), que comanda sua cozinha com mão de ferro e conduz banquetes privados para generais, milionários e artistas. Será um choque não apenas entre dois mundos, mas entre dois modos de ver o ato de cozinhar: Aoy faz isso com amor, preparando pratos como o Macarrão Manhoso, e Paul, por motivos negativos. Por meio desse personagem, Fome de Sucesso examina a divisão de classes, a teatralidade e a falsidade da aristocracia, dos ricos e dos famosos.
11) Você Não Tá Convidada pro meu Bat Mitzvá (2023)
De Sammi Cohen. Adam Sandler reuniu a família no elenco desta comédia adolescente que segue firme no top 10 da plataforma — com merecimento. A protagonista é a filha caçula do ator, Sunny Sandler, 14. Ela interpreta Stacy Friedman, que, aos 13 anos, está às voltas com seu Bat Mitzvah. Trata-se, na cultura judaica, de uma cerimônia de transição para o mundo adulto, geralmente acompanhada por uma grande festa. Stacy quer que a sua seja perfeita em todos os aspectos — o tema, o DJ, a comida —, que seja em conjunto com a melhor amiga, Lydia Rodriguez Katz (Samantha Lorraine) e, claro, que seja prestigiada com a presença do "cara mais gato do sétimo ano", Andy Goldfarb (Dylan Hoffman).