Adoro minisséries, histórias com início, meio, fim e, por último mas não menos importante, curta duração.
Para quem gosta de ver tramas e personagens sendo desenvolvidos com mais tempo do que um filme, mas sem precisar gastar uma vida inteira para concluir, listei 10 das melhores atrações disponíveis nas plataformas de streaming.
Todas foram lançadas de 2021 para cá, algumas já ganharam prêmios no Emmy e outras concorrem neste ano. Dá para maratonar em um dia a escolhida, se você estiver disposto. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Black Bird (2022)
O protagonista desta minissérie baseada em uma história real é Taron Egerton, indicado ao Emmy 2023 de melhor ator. Ele interpreta James Keene, o Jimmy, um filho de policial (o último papel de Ray Liotta, concorrente ao Emmy de coadjuvante) e um promissor jogador de futebol americano que enveredou para o tráfico de drogas. Dono de um pequeno império em Chicago, ele acaba preso em uma operação do FBI. Enquanto isso, vemos o surgimento dos outros dois personagens importantes em Black Bird. Um é o detetive vivido por Greg Kinnear, que investiga o desaparecimento — e provável assassinato — de jovens mulheres. O outro é o principal suspeito, Larry Hall, um tipo excêntrico que adora participar de reencenações da Guerra Civil e é encarnado por Paul Walter Hauser (de Eu, Tonya e O Caso Richard Jewell). A combinação de seu físico roliço com a voz estridente e as costeletas suíças do personagem transformam Larry em um sujeito ora bizarro, ora patético, ora perigoso — merecidamente, Hauser venceu o Globo de Ouro, o Critics' Choice e disputa o Emmy de ator coadjuvante. Essas duas narrativas, a de Jimmy e a de Larry, são cruzadas pelo escritor policial Dennis Lehane, autor dos livros que inspiraram filmes como Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood, e Ilha do Medo, de Martin Scorsese. (6 episódios, Apple TV+)
2) Dopesick (2021)
Com idas e vindas no tempo, mostra como a Purdue Pharma promoveu de forma agressiva e mentirosa o OxyContin, analgésico considerado responsável pela crise de opioides que provocou 500 mil mortes nos EUA a partir de 1999. Há cinco núcleos narrativos em Dopesick. O principal é o de Finch Creek, uma fictícia cidade onde moram o médico Samuel Finnix (Michael Keaton, premiado no Emmy, pelo Sindicato dos Atores dos EUA e no Globo de Ouro) e a jovem Betsy Mallum (Kaitlyn Dever), operária em uma mina de carvão. Em outras duas pontas, estão personagens reais. Dona da farmacêutica, a família Sackler vive em meio a intrigas e disputas por conta da ambição de Richard Sackler (Michael Stuhlbarg). E Rick Mountcastle (Peter Sarsgaard) e Randy Ramseyer são dois promotores públicos que querem investigar e levar a empresa ao tribunal. (8 episódios, Star+)
3) O Homem das Castanhas (2021)
Não se deixe enganar pelo nome simpático: a dinamarquesa O Homem das Castanhas, baseada no romance homônimo de Soren Sveistrup, é um típico exemplar do noir nórdico, cru e violento quando necessário. Em Copenhague, nos dias atuais, uma jovem mãe é brutalmente assassinada. Seu corpo é encontrado em um parque, sem uma das mãos. Próximo do corpo há um pequeno boneco feito de castanhas. Essa é a principal pista para a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic), uma mãe solteira que agora conta com um novo parceiro policial, o instável Mark Hess (Mikkel Boe Folsgaard). Paralelamente, acompanhamos o difícil recomeço da ministra Rosa Hartung (Iben Dorner) — um ano antes, sua filha adolescente desapareceu. (6 episódios, Netflix)
4) Mare of Easttown (2021)
Praticamente perfeita, esta eu não me canso de indicar. Fascinada com o "quem foi" da minissérie criada por Brad Inglesby, Kate Winslet ressaltou que embarcou no projeto porque "não é só a história de um crime". De fato, o crime descoberto no primeiro capítulo é chocante e misterioso, mas serve sobretudo como catalisador dos dramas pessoais e familiares em cidadezinha dos EUA. A morte traz à tona relações e segredos guardados em vida, imagem reforçada pela ambientação numa estação fria, que obriga os personagens a se esconderem atrás de casacos, mantas e gorros. E — até o final — todos têm o que ocultar ou algo do que não gostam de falar. Mare of Easttown venceu os Emmys de atriz (Winslet, também premiada no Globo de Ouro, ator coadjuvante (Evan Peters), atriz coadjuvante (Julianne Nicholson) e design de produção. (7 episódios, HBO Max)
5) O Paciente (2022)
É um thriller psicológico escrito por Joel Fields e Joe Weisberg (o criador de The Americans) sobre um terapeuta, Alan Strauss (Steve Carell), que, meio a contragosto, digamos assim, passa a atender um paciente muito singular: Sam Fortner (Domhnall Gleeson) se revela um assassino serial e quer ajuda para conter seus impulsos homicidas. Além de contar com ótimos desempenhos dos dois atores e de incitar reflexões sobre identidade, paternidade e conflitos familiares, a minissérie é um raro caso de suspense que não abusa do tempo do espectador: cada episódio gira em torno de meia hora, às vezes até menos. Não se perde nada nem em tensão, nem em desenvolvimento da trama e dos personagens. (10 episódios, Star+)
6) Pam & Tommy (2022)
Criada por Robert Siegel reconstitui um dos primeiros e mais célebres vazamentos de vídeo íntimo de celebridades, ocorrido entre 1995 e 1997. No caso, uma transa entre a atriz e modelo Pamela Anderson (interpretada por Lily James), estrela do seriado Baywatch (no Brasil, S.O.S. Malibu), e o roqueiro Tommy Lee (papel de Sebastian Stan), baterista da banda glam metal Mötley Crüe. Na era das redes sociais, da fama instantânea e do compartilhamento de tudo — inclusive do chamado revenge porn (pornografia de vingança) e de seu oposto, a publicação supostamente acidental com intuito marqueteiro —, pode ser difícil medir o impacto da divulgação daquelas cenas de sexo. Mas Pam & Tommy é muito eficiente em contextualizar o espectador e retratar como, em um ambiente machista e moralista, a invasão de privacidade transformou Pamela de queridinha a pária e alvo do deboche. (8 episódios, Star+)
7) Sequestro no Ar (2023)
Esta acabou de ser concluída, e de forma tão eletrizante quanto começou. O cenário é muito adequado ao suspense: tripulantes e passageiros de um avião estão isolados do resto do mundo em um ambiente claustrofóbico, onde costuma haver uma corrida contra o tempo e qualquer imprevisto pode complicar bastante a situação. Seja por razões meteorológicas, seja por ação humana (ou até animal), voos turbulentos são convidativos quando encenados na ficção.
Como o título já revela, a minissérie inglesa criada por George Kay e Jim Field Smith faz parte de uma linhagem sobre a qual o espectro do 11 de Setembro garante uma injeção extra de tensão. Em Sequestro no Ar, o carismático Idris Elba interpreta Sam Nelson, um sujeito cuja profissão — só revelada ao final do primeiro episódio — será fundamental quando o voo KA29, com 200 pessoas a bordo, é tomado por terroristas durante uma viagem de Dubai a Londres, onde ele pretendia reconquistar sua ex-esposa. A narrativa é em tempo real, ou seja, os sete capítulos equivalem às sete horas de voo, durante as quais vamos descobrindo as conexões e os segredos entre os coadjuvantes, as motivações e os objetivos dos sequestradores, e as rotinas e as estratégias dos que trabalham na área, desde o piloto até os agentes de segurança. Prepare-se para momentos de sufoco e reviravoltas desnorteantes (ou pelo menos bem interessantes). (7 episódios, Apple TV+)
8) Treta (2023)
Quem viu a série brasileira Os Outros (2023) vai encontrar alguns pontos de contato com esta produção ambientada na Califórnia e criada por Lee Sung Jin. Uma discussão no trânsito entre os dois protagonistas desencadeia uma espiral de ódio e vingança que traz à tona mentiras e segredos, retratando a ansiedade e a intransigência do mundo contemporâneo. Eles são Danny (vivido por Steven Yeun, o Glenn de The Walking Dead), um empreiteiro solteiro e endividado, e Amy (interpretada pela comediante Ali Wong), uma bem-sucedida mas infeliz mãe de família. Cada ação gera uma reação, cada fagulha gera um incêndio, em um ciclo vicioso que tem como combustível outras frustrações — familiares, amorosas, econômicas. Danny e Amy não parecem nada dispostos a fazer as pazes. É como se eles encontrassem na briga um sentido para suas vidas, conforme ilustra a música The Reason (2003), da banda Hoobastank, que toca, ironicamente, no final do primeiro dos 10 capítulos de meia hora cada. Também como Os Outros, Treta recorre a flashbacks que ilustram a jornada de seus personagens para acrescentar camadas aos dramas do presente — uma diferença fundamental é que aqui se permite tanto a comicidade quanto o absurdo. Recebeu 13 indicações ao Emmy 2023, incluindo melhor minissérie, ator, atriz, ator coadjuvante (Joseph Lee e Young Mazino) e atriz coadjuvante (Maria Bello). (10 episódios, Netflix)
9) The Underground Railroad (2021)
Esta talvez demande mais de um dia, não só pela duração, mas também para assimilar tanta beleza e tanta contundência. Concebida por Barry Jenkins, diretor e roteirista de Moonlight, vencedor do Oscar de melhor filme em 2017, é a adaptação do romance homônimo escrito por Colson Whitehead e ganhador, também em 2017, do prêmio Pulitzer. A trama se passa na metade do século 19, antes da Guerra Civil nos EUA (1861-1865), que tinha como principal causa a escravização da população negra — a maioria dos Estados do Sul queria manter, o Norte era contra. Sua protagonista é Cora (interpretada pela sul-africana Thuso Mbedu, de A Mulher Rei), uma jovem escrava que, após relutar, tenta fugir de uma fazenda na Geórgia na companhia do íntegro Caesar (Aaron Pierre). Os dois buscam a Underground Railroad do título, uma rota de fuga que de fato existiu, mas não da maneira que é apresentada na minissérie. No seu encalço, partirá o caçador Arnold Ridgeway (Joel Edgerton), tendo ao lado um surpreendente ajudante: Homer (Chase W. Dillon), um menino negro. (10 episódios, Amazon Prime Video)
10) The White Lotus 2 (2022)
Como na primeira temporada da obra criada e dirigida por Mike White, tudo começa com um cadáver não identificado — eis um dos charmes da porção policial: o espectador é instigado a descobrir não apenas quem matou, mas também quem morreu (e desta vez parece haver mais candidatos a vítima). Se na primeira história havia um caixão sendo transportado de avião, agora surge um corpo boiando na praia. Aí, a trama volta uma semana no tempo para acompanhar a chegada de novos turistas ao hotel da Sicília, na Itália, que tem como gerente Valentina (Sabrina Impacciatore). Além de encarar as exigências e os caprichos dos hóspedes, ela precisa lidar com suas próprias — e escondidas — vontades e com duas garotas que vivem frequentando indevidamente o estabelecimento: a prostituta Lucia (Simona Tabasco) e a aspirante a cantora Mia (Beatrice Grannò). Egressa de White Lotus 1, a milionária carente Tanya (Jennifer Coolidge) desembarca em Taormina acompanhada do agora marido Greg e da assistente, Portia (Haley Lu Richardson), que será obrigada a ficar longe dos olhos do sujeito. Nessa vida em segredo, Portia conhecerá o certinho Albie (Adam DiMarco), que está em viagem com seu pai, Dominic (Michael Imperioli), que levou um "basta" da esposa depois de mais uma traição, e seu avô (F. Murray Abraham), que veio à procura de parentes. Um outro núcleo é formado pelos amigos de universidade e hoje empresários e/ou investidores Cameron (Theo James) e Ethan (Will Sharpe) e suas respectivas esposas: Daphne (Meghann Fahy) e Harper (Aubrey Plaza). Os dois casais vão colecionar atritos, mas também surgirão faíscas de atração sexual. Grandes cenas ocorrem dentro desse núcleo, tendo como temas casamento, sexo, competição masculina, traição e autoengano. A personagem Daphne dá um show à parte e rendeu a Fahy uma das 24 indicações de The White Lotus 2 ao Emmy 2023. (7 episódios, HBO Max)