Por pelo menos cinco motivos, estou adorando Sequestro no Ar (Hijack, 2023), série de suspense a bordo de um avião que está sendo exibida pela Apple TV+.
O primeiro motivo é que os sete episódios estão sendo lançados um por semana, toda quarta-feira — o quarto vai ao ar (sem trocadilho) neste dia 12. Acho esse modelo de distribuição ideal para seriados de suspense, nos quais cada capítulo geralmente termina com o que em inglês se chama de cliffhanger — gancho, em bom português. Aquela situação praticamente impossível de ser resolvida pelo personagem, ou uma morte inesperada, ou uma revelação bombástica... Eu gosto quando a gente tem de esperar uma semana, curto o prazer da expectativa e a conversa especulativa com os amigos - e acho educativo e terapêutico precisarmos lidar com a frustração de não ter tudo à mão na mesma hora.
O segundo motivo é o cenário em si, também muito adequado ao gênero. Tripulantes e passageiros de um avião estão isolados do resto do mundo em um ambiente claustrofóbico, onde costuma haver uma corrida contra o tempo e qualquer imprevisto pode complicar bastante a situação. Seja por razões meteorológicas, seja por ação humana (ou até animal), voos turbulentos são convidativos quando encenados na ficção. Como o título já revela, a série da Apple TV+ faz parte de uma linhagem sobre a qual o espectro do 11 de Setembro garante uma injeção extra de tensão: a das tramas sobre aviões sequestrados, vistos em filmes como Força Aérea Um (1997), de Wolfgang Petersen, Voo Noturno (2005), de Wes Craven, Voo United 93 (2006), de Paul Greengrass, Sem Escalas (2014), de Jaume Collet-Serra, e 7500 (2020), de Patrick Vollrath.
O terceiro motivo é o protagonista, Idris Elba, ator quatro vezes indicado ao Emmy pela série policial Luther (2010-2019) e ganhador, pelo filme Beasts of No Nation (2015) da categoria de melhor coadjuvante no troféu do Sindicato dos Atores dos EUA. Aos 50 anos, o britânico é um desses artistas abençoados por combinar imponência física (1m89cm), voz aveludada de barítono e carisma assombroso. Em Sequestro no Ar, interpreta Sam Nelson, um sujeito cuja profissão — só revelada ao final do primeiro episódio — será fundamental quando o voo KA29, com 200 pessoas a bordo, é sequestrado durante uma viagem de sete horas de Dubai a Londres, onde ele pretendia reconquistar sua ex-esposa.
O quarto motivo é a forma com a qual a história é contada. Os criadores de Sequestro no Ar, o roteirista George Kay e o diretor Jim Field Smith, já tinham experiência em trabalhar com personagens confinados em um microcosmo onde podem desenvolver características e dramas de cada um — a dupla britânica é a mesma que deu vida a Criminal: Reino Unido (2019-2020, disponível na Netflix), que se passa toda dentro de uma delegacia, principalmente na sala onde policiais interrogam o suspeito da vez. Na nova parceria, eles alargam o horizonte — o enredo se desenrola também nas torres e salas onde trabalham os controladores de tráfego aéreo, nos escritórios das autoridades, nas casas dos familiares. Mas o foco está no avião, "uma réplica milímetro por milímetro de uma aeronave", afirmou Smith em entrevista coletiva:
— Foi como se todos os dias, por 120 dias (o tempo de gravação), todo mundo (inclusive os figurantes e a equipe técnica) pegasse um voo longo. Garantimos que fosse o mais difícil quanto podíamos e, com sorte, isso se traduziu em tela de modo convincente.
Se isso trouxe limitações práticas — por vezes, a câmera precisava passar de mão e mão para retratar determinada cena —, por outro, diz Smith, proporcionou mais liberdade para o elenco desenvolver a jornada emocional de seus personagens: os atores puderam simplesmente estar no momento, reagindo aos acontecimentos e lidando com seus sentimentos.
E é em nome desse realismo que a série adota a forma do tempo real, ou seja: os sete episódios equivalem às sete horas de voo entre Dubai e Londres, durante as quais vamos descobrindo as conexões e os segredos entre os coadjuvantes, as motivações e os objetivos dos sequestradores, e as rotinas e as estratégias dos que trabalham na área, desde o piloto até os agentes de segurança. O espectador acostumado ao subgênero pode sentir déjà vu, mas, pelo menos até agora, a série tem sido eficiente em envolver e intrigar.
O quinto motivo é a cereja do bolo: a música de abertura. Lonely Soul (1998) é uma canção de um grupo britânico de trip hop, rock alternativo e eletrônica, o UNKLE, que aqui conta com a voz majestosa e singular de Richard Ashcroft (da banda The Verve). A letra é apropriada: fala sobre estar sozinho na multidão ("Alma Solitária" é a tradução do título), sobre a iminência da morte ("Eu acredito que há um tempo / em que a corda da vida deve ser cortada", "Eu vou morrer num lugar / onde não conhecem meu nome") e sobre o conforto que pode ser encontrado em Deus (repete várias vezes que "Deus sabe que você é uma alma solitária"). E traz versos ilustrativos da situação enfrentada por Sam Nelson e seus demais companheiros no voo KA29: "Não há segredo para viver (Não há segredo para viver) / apenas continue andando / não há segredo para morrer (Não há segredo para morrer) / apenas continue voando".