A Netflix deu uma bela renovada no seu menu nos últimos dias.
Pelo menos seis filmes cheios de nomes estrelados no elenco e na direção — de Spielberg a Tarantino, de Tom Hanks a Leonardo DiCaprio —, de prêmios conquistados ou de elogios da crítica foram adicionados.
Somando, são 30 indicações ao Oscar e 10 troféus recebidos. Confira a lista.
Django Livre (2012)
De Quentin Tarantino. Anos antes da Guerra Civil americana, no sul dos Estados Unidos, um escravo (Jamie Foxx) é comprado por um caçador de recompensas que vagueia pelo Velho Oeste disfarçado de dentista (Christoph Waltz), e os dois fazem uma aliança inesperada para caçar criminosos e para tentar libertar uma mulher (Kerry Washington) de um sádico fazendeiro sulista (Leonardo DiCaprio).
Apesar de ganhar dois Oscar (roteiro original e ator coadjuvante, para Waltz) e disputar outros três, incluindo melhor filme, Django Livre é um título tarantinesco que, com o passar dos anos, foi caindo em apreço. Para alguns, além de parecer menos uma crítica ácida do que uma exploração zombeteira da violência da escravidão e do racismo, ainda incorre na ideia do chamado "negro excepcional", em contraposição à suposta "servilidade natural" da etnia. O cineasta Spike Lee, oscarizado pelo roteiro adaptado de Infiltrado na Klan (2018), reclamou mesmo sem ter visto: "Não vou assistir ao filme. Tudo o que posso dizer é que ele é desrespeitoso aos meus ancestrais. A escravidão nos Estados Unidos não foi um western spaghetti de Sergio Leone, mas um holocausto".
Garota Exemplar (2014)
De David Fincher. Nada é o que parece ser nesta adaptação do romance homônimo de Gillian Flynn, ela mesma autora do roteiro. O próprio filme, que durante a maior parte do tempo transcorre como um suspense policial sobre o desaparecimento de uma mulher, a certa altura transfigura-se em um potente manifesto sobre o desaparecimento de muitas mulheres: aquelas que são forçadas ou se forçam a serem as "garotas exemplares ", uma fantasia montada para atender aos desejos masculinos e incentivada pela indústria do entretenimento.
Contar muito da trama é estragar o prazer de quem curte plot twists — e há um punhado de reviravoltas. Tudo começa com o sumiço de Amy (Rosamund Pike, indicada ao Oscar de melhor atriz) no dia em que comemoraria cinco anos de casada com Nick (Ben Affleck) numa cidadezinha do Missouri, nos EUA. No decorrer da investigação, surgem indícios de um possível crime, e o marido desponta como o principal suspeito. Contra Nick, pesa ainda o fato de ele não mostrar o comportamento esperado de alguém diante de um baque emocional desse porte. A história intercala o ponto de vista de Nick, no presente, e o de Amy, no passado — a partir de anotações dela em um diário que rememoram o início do relacionamento, quando o casal circulava pelas altas rodas sociais e culturais de Nova York e transava até em bibliotecas públicas. Aos poucos, segredos vão sendo revelados na mesma medida em que surgem mistérios intrigantes e personagens interessantes. Entre esses, está o advogado Tanner Bolt (Tyler Perry), que observa com ironia e perspicácia o teatro de aparências, vaidades e objetivos escusos formado em torno do badalado caso.
A Lula e a Baleia (2005)
De Noah Baumbach. O diretor e roteirista de História de um Casamento (2019) abre mão da autocomiseração e do julgamento ao transformar em ficção suas experiências familiares de juventude. Indicado ao Oscar de melhor roteiro original, A Lula e a Baleia coloca sob uma lupa impiedosa os Berkman, família de classe média intelectualizada que vive em Nova York em meados dos anos 1980.
O papo-cabeça rola direto em casa, mas os laços afetivos estão se deteriorando: com o casamento de Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney) em crise, os irmãos Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline) são cada vez mais negligenciados pelos pais. As frustrações e ressentimentos da casal chegam ao máximo quando a incipiente veia literária de Joan deslancha, ao mesmo tempo em que o professor universitário Bernard vê sua promissora carreira de romancista arrefecer. A separação é turbulenta: no fogo cruzado das mútuas acusações, o adolescente Walt fica do lado do pai, enquanto o garoto Frank parece preferir a companhia da mãe. Novos interesses românticos do ex-casal tornam a situação ainda mais complexa.
O Regresso (2015)
De Alejandro González Iñárritu. Assim escreveu meu colega Daniel Feix quando da estreia do filme nos cinemas: "Há muita neve, muito frio, muito sangue e muito sofrimento em O Regresso. Iñárritu, que venceu o Oscar no ano passado com o maneirista Birdman (2014), de novo mergulha em excessos ao contar a história real de Hugh Glass, guia de expedições de caça que é abandonado pelos companheiros em um ambiente inóspito no extremo norte dos EUA de 1820. Quem pode tirar proveito dessa opção estética é Leonardo DiCaprio, que encarna o protagonista com uma pitada de cada um dos temperos que costumam satisfazer a obsessão dos votantes da Academia de Hollywood por performances eloquentes, grandiosas e, de preferência, marcadas pela transformação física. Ao que tudo indica, chegou a hora do ator de 41 anos receber a primeira estatueta. Sua transformação propriamente dita se dá quando Glass quase é comido vivo por um urso, em uma das mais virulentas sequências do cinema recente. Antes, o grupo em que ele está foi atacado por indígenas, em outra cena impressionante, rodada em plano-sequência".
Dito e feito. DiCaprio, após três indicações ao Oscar de melhor ator (e uma ao de coadjuvante), recebeu a estatueta dourada. O cineasta mexicano também ganhou de novo a de direção, e o longa-metragem faturou ainda o prêmio de fotografia, com Emmanuel Lubezki, que presta reverência ao ambiente com muitos planos abertos, nos quais invariavelmente usa lentes de grande angulação e imagens em contra-plongée (de baixo para cima) para ressaltar a pequenez das pessoas diante do que as cerca. Mas O Regresso foi derrotado em outras nove categorias, incluindo a de melhor filme e ator coadjuvante (Tom Hardy, no papel de John Fitzgerald, o parceiro que abandona Glass).
O Resgate do Soldado Ryan (1998)
De Steven Spielberg. Ambientado na Segunda Guerra Mundial, durante a invasão da Normandia pelas tropas aliadas, acompanha a jornada de um pelotão do exército estadunidense liderado pelo capitão John Miller (Tom Hanks), que precisa realizar uma difícil missão: encontrar e resgatar um soldado (Matt Damon) que se encontra atrás das linhas inimigas, no interior da Europa. O tal soldado Ryan é o último sobrevivente de quatro irmãos militares.
Indicado a 11 Oscar, incluindo melhor filme e ator (Hanks), e ganhador de cinco estatuetas douradas (direção, fotografia, montagem, efeitos sonoros e som), O Resgate do Soldado Ryan é um dos filmes mais cultuados do gênero. Os 20 e poucos minutos nos quais Spielberg reconstitui, com realismo impressionante, o Dia D (o desembarque nas praias francesas) tornaram-se um dos grandes momentos do cinema hollywoodiano. E, claro, influenciaram bastante as produções de guerra seguintes.
Upgrade: Atualização (2018)
De Leigh Whannell. Antes de modernizar o clássico de H.G. Wells em O Homem Invisível (2020), o diretor e roteirista australiano fez este filme que mistura ficção científica, ação, terror corporal e suspense (daí o motivo de esconder um pouco da sinopse) cyberpunk.
Em um futuro próximo e distópico, um homem chamado Grey Trace (Logan Marshall-Green) que é avesso à tecnologia fica tetraplégico após um crime violento. Nessa situação, ele aceita virar cobaia de um tratamento experimental, um chip neural batizado de Stem e dotado de uma inteligência artificial que o ajuda a caminhar novamente — mas com algumas habilidades extra: seu corpo torna-se mortífero, como se vê nas ótimas cenas de ação. Grey é um ser humano aprimorado, mas também entra em um processo de desumanização.