Acaba de trocar de endereço no streaming uma das mais fascinantes minisséries policiais dos últimos anos: Landscapers (2021), que estava na HBO Max e agora pode ser vista no Star+.
Com quatro episódios, a produção britânica estrelada por Olivia Colman e David Thewlis tem início com dois avisos ao espectador. O primeiro é textual: "Em 2014, Susan e Christopher Edwards foram condenados por homicídio e sentenciados a um mínimo de 25 anos de prisão. Até hoje, eles mantêm sua inocência. Esta é uma história verídica".
Entrementes, enquanto a música composta por Arthur Sharpe vai criando um clima tão idílico quanto lúgubre, a câmera desce até o nível de uma praça, onde pessoas que estavam paradas começam a se movimentar. Alguém grita "Rodando!" e, na sequência, "Ação! Chuva!". Sob a chuva artificial, um homem (que mais adiante se apresentará ao telefone como um advogado da defensoria pública) aguarda a instrução para fazer o seu deslocamento, que ocorre concomitantemente à passagem de um ônibus do tipo minhocão em primeiro plano — quando a cena, até então em preto e branco, ganha cor.
Esse segundo aviso, o audiovisual, se complementa com uma pequena, mas significativa alteração na última frase — em inglês, "This is a true story" — sobreposta às imagens: a palavra true (verdadeira) desparece. Fica apenas: "Esta é uma história".
O recado duplo é fundamental para entendermos que, a seguir, um célebre e chocante caso policial da Inglaterra — o assassinato, em 1998, dos pais de Susan, William e Patricia Wycherley, desvendado a partir do descobrimento dos corpos no jardim de uma casa no subúrbio de Mansfield — será livremente recriado. Se os fatos dramatizados são chocantes, do ponto de vista narrativo Landscapers é absolutamente fascinante. Como a abertura aponta, a minissérie vai enfatizar os aspectos fantasiosos — ou seriam delirantes? Ou seriam mentirosos? — da vida do casal Susan (interpretada por Olivia Colman, atriz vencedora do Oscar por A Favorita e do Emmy por The Crown) e Christopher (David Thewlis, melhor ator no Festival de Cannes de 1993 por Nu).
Desenvolvida pelo roteirista estreante Ed Sinclair, marido de Colman, Landscapers tem direção de Will Sharpe, realizador do seriado Flowers (2016-2018) e do filme A Vida Extraordinária de Louis Wain (2021) e ator da segunda temporada de The White Lotus (2022). No Bafta TV Award, a premiação da Academia Britânica para produções de televisão e streaming, concorreu em sete categorias, incluindo melhor minissérie, direção e ator, mas ganhou apenas em fotografia, design de produção e música.
A minissérie se destaca tanto pelo lado humano quanto pelo técnico. Graças ao talento de Colman e Thewlis, conseguimos entrar na cabeça dos protagonistas, compreender como pensam e agem, sentir suas alegrias e suas angústias — sem que isso signifique, necessariamente, justificativa para seus atos. Susan e Christopher são duas pessoas atrapalhadas e machucadas que compartilham o gosto por filmes antigos de Hollywood e astros do cinema como Gary Cooper e Gérard Depardieu, e que procuram construir um mundo no qual possam sobreviver.
Aí entram a criatividade do roteiro, a estilização visual e a excelência técnica. Se os personagens fantasiam, deliram, mentem, manipulam, os autores apostam em recursos que nos lembram de como a vida é um palco, com uma narrativa pessoal e subjetiva, e que realçam o caráter ilusório da realidade e o processo de fabricação da memória.
Por exemplo, Landscapers reencena momentos marcantes do clássico Matar ou Morrer (1952, estrelado por Gary Cooper) e do cult O Último Metrô (1980, com Depardieu). Em outra ocasião, o efeito de buraco de fechadura coloca o espectador na condição de voyeur das lembranças. E é de cair o queixo a sequência em que, durante um interrogatório, a quarta parede é literalmente quebrada — a câmera se afasta para mostrar os demais cenários do estúdio, por onde os atores, ora dentro, ora fora dos personagens, caminham e interagem, trabalhando na reconstituição do crime.