Já em cartaz nos cinemas, A Freira 2 (The Nun 2, 2023) é um terror capaz de dividir o público, mas acho que os dois tipos de espectador vão rezar para que o filme acabe logo (spoiler: não acaba; tem quase duas horas de duração). Uns porque não aguentam mais tomar susto. Outros porque não aguentam mais — ponto.
Assinado por Michael Chaves, A Freira 2 é o oitavo longa-metragem do Invocaverso, a franquia de terror surgida a partir do sucesso de Invocação do Mal (The Conjuring, 2013), em que o diretor James Wan começou a dramatizar os casos sobrenaturais investigados pelo casal Ed Warren (1926-2006) e Lorraine Warren (1927-2019). Com o sucesso de crítica e de público (US$ 320,4 milhões nas bilheterias), vieram Annabelle (2014), de John R. Leonetti, Invocação do Mal 2 (2016), de Wan, Annabelle 2: A Criação do Mal (2017), de David F. Sandberg, A Freira (2018), de Corin Hardy — o maior êxito comercial, com US$ 365,5 milhões, mas um dos maiores fracassos junto à imprensa —, Annabelle 3: De Volta para Casa (2019), de Gary Dauberman, e Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021), também de Chaves. O cineasta estadunidense traz ainda no currículo A Maldição da Chorona (2019), que tem ligações com os demais títulos, como a imagem da boneca amaldiçoada e a presença do padre Perez (Tony Amendola), mas não é considerado um título oficial da cronologia.
Por falar em cronologia, Invocação do Mal foi o primeiro filme, mas a história teve início em A Freira, ambientado em 1952. Annabelle 2 se passa em 1955, Annabelle, em 1967, Invocação do Mal, em 1971, Annabelle 3, em 1972, Invocação do Mal 2, em 1977, e Invocação do Mal 3, em 1981. A trama de A Freira 2 ocorre em 1956.
A noção de universo compartilhado é reforçada pela escalação de duas irmãs como protagonistas. Vera Farmiga, hoje com 50 anos, interpreta Lorraine Warren na trilogia Invocação do Mal, e Taissa Farmiga, 29, vive a noviça Irene nos títulos A Freira.
No primeiro filme, que teve como cenário a Romênia, a personagem ajudou um padre exorcista a enfrentar o demônio Valak, que costuma aparecer trajando o hábito religioso, encarnado pela atriz Bonnie Aarons. Agora, estamos na França, onde novamente Valak toca o terror — e onde reencontramos o camponês Frenchie (Jonas Bloquet), que foi uma espécie de alívio cômico em A Freira e agora, num registro mais dramático, atua como servente em um internato para meninas.
Valak está em busca de uma relíquia cristã, os Olhos de Santa Luzia, mártir nascida na ilha de Siracusa (hoje pertencente à Itália), no ano de 283, e que virou padroeira da visão. Irene, com o auxílio de outra freira, Debra (Storm Reid, da série Euphoria e do filme Desaparecida), tentará combater o demônio e salvar crianças como a doce Sophie (Katelyn Rose Downey), filha da professora Kate (Anna Popplewell, a Susan da trilogia As Crônicas de Nárnia).
Pelo menos no início, A Freira 2 é eficiente em oferecer um dos elementos mais buscados pelos fãs de terror: o susto. Isso se dá por um uso parcimonioso do som (a música é discreta, os efeitos são precisos) e por uma exploração pacienciosa dos ambientes (aí incluídos paredes e vãos escuros). Mas pouco a pouco o filme passa a investir em gritos, trilha sonora alta e onipresente, cenas que já viraram clichê — desde os olhos sangrando até os corpos pegando fogo.
Com um roteiro óbvio e um desfecho inevitável, A Freira 2 também jamais perturba, outra sensação costumeiramente desejada pelos apreciadores do gênero. Tampouco procura fazer algum tipo de crítica, refletir sobre a Igreja ou operar simbolismos. Logo torna-se absolutamente trivial. Pior do que isso: sonolento. Só não permite dormir por causa da gritaria e da barulheira.