A estreia de Morte no Nilo nos cinemas reacendeu um assunto que, na verdade, está sempre quente em Hollywood: o dos cancelamentos.
Dirigido por Kenneth Branagh e baseado no homônimo romance policial de Agatha Christie, o filme traz no elenco Armie Hammer e Letitia Wright, dois integrantes do grande número de atores, diretores, roteiristas e produtores que, nos últimos anos, foram cancelados nas redes sociais ou sofreram consequências mais graves por conta de suas atitudes e seus posicionamentos — em alguns casos, até mesmo de crimes. Parece até a escalação de uma superprodução do tipo Vingadores: Ultimato (veja a lista logo abaixo).
A transformação de um queridinho em persona non grata evidencia um — ora louvável, ora hipócrita — ideal de ética e pureza acalentado pela indústria, pela mídia e pelos fãs. Na maioria das vezes, o que provoca a onda canceladora é o comportamento sexual — o que inclui denúncias e condenações por estupro. Mas também há casos de falcatruas, negacionismo e piadas de mau gosto, entre outros motivos.
A não ser quando demoram a abrir os olhos, a reação dos estúdios de cinema e TV costuma ser imediata e punitiva. Não importa o passado de glórias do acusado em premiações como o Oscar e o Emmy. E custe o que custar: em pelo menos uma produção, o diretor substituiu um ator e refilmou as cenas com seu personagem que já haviam sido rodadas. Como fez Thanos nas aventuras da Marvel, estrelas são apagadas num estalar de dedos.
Harvey Weinstein
As denúncias contra o produtor oscarizado por Shakespeare Apaixonado (1998) e indicado por Gangues de Nova York (2002) surgiram em outubro de 2017 e serviram de gatilho para o movimento #Me Too, que incentivou as mulheres a irem a público falar sobre assédio sexual, especialmente em Hollywood. Apesar de dezenas de atrizes (como Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie, Annabella Sciorra e Ashley Judd), assistentes administrativas e outras profissionais da indústria o terem acusado, apenas os casos de duas delas foram a julgamento: o de Jessica Mann, que foi estuprada em um hotel em 2013, e o de Miriam Haley, em quem o outrora poderoso chefão praticou sexo oral à força em 2006. Os demais haviam prescrito. Em 2020, Harvey Weinstein foi sentenciado a 23 anos de prisão. Ele está com 69 anos.
Roman Polanski
Depois de três indicações ao Oscar — roteiro adaptado por O Bebê de Rosemary (1968), direção por Chinatown (1974) e Tess (1979) —, Polanski ganhou a estatueta dourada de diretor por O Pianista (2002), que também concorria ao troféu de melhor filme (e valeu a Adrian Brody o prêmio de ator e a Ronald Harwood o de roteiro adaptado). Para não ser preso, o cineasta franco-polonês não foi receber a distinção, sendo representado pelo ator Harrison Ford.
Acontece que, em março de 1977, então com 43 anos, Polanski foi indiciado em Los Angeles por cinco crimes: estupro com uso de drogas, perversão, sodomia, atos libidinosos com uma adolescente com menos de 14 anos (a garota tinha 13) e por fornecimento de drogas controladas a uma menor de idade. Em sua defesa, o diretor se declarou inocente para todas as acusações, mas mais tarde aceitou um acordo judicial que incluía liberdade vigiada. Em fevereiro de 1978, contudo, temendo que fosse mandado para a prisão, fugiu para a Europa.
Em 2010, a atriz britânica Charlotte Lewis o acusou de "abusar sexualmente" dela aos 16 anos, em 1983. Em 2017, uma segunda mulher o acusou de uma agressão sexual em 1973, quando ela tinha 16 anos, e uma terceira apresentou queixa por estupro, por fatos que datam de 1972, quando ela tinha 15 anos. Em 2019, a fotógrafa Valentine Monnier afirmou ter sido agredida e estuprada pelo diretor em 1975, na Suíça, quando ela tinha 18 anos.
Hoje com 88 anos, Polanski segue filmando: O Escritor Fantasma (2010) mereceu o Urso de Prata no Festival de Berlim, Deus da Carnificina (2011) reuniu Kate Winslet, Christoph Waltz, Jodie Foster e John C. Reilly, A Pele de Vênus (2013) competiu em Cannes, e O Oficial e o Espião (2019) arrebatou quatro prêmios em Veneza, incluindo o Leão de Prata. Nesse último, Polanski reconstitui o Caso Dreyfus (1894-1906), um símbolo da injustiça, um exemplo de como as mentiras podem se sobrepor à verdade, como o Estado pode ser arbitrário em relação ao indivíduo, como a sociedade pode ser preconceituosa. O cineasta reflete no passado seu próprio presente, mas sob uma ótica distorcida — a diferença crucial é que Dreyfus era, definitivamente, inocente.
Woody Allen
Voluntária ou involuntariamente, o título do penúltimo filme de Woody Allen — Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York) — minimizou o temporal que fustiga o cineasta estadunidense. Aos 86 anos, ele está isolado por parte da indústria e da comunidade artística de seu país. O que pesa contra ele?
O principal é a acusação de abuso sexual que Dylan Farrow, filha adotiva do diretor e da atriz Mia Farrow, diz ter sofrido em 1992, quando tinha sete anos. Ela trouxe o caso de volta à tona em 2014, em uma carta que escreveu ao jornal The New York Times. Ninguém esquece, também, que a atual esposa de Allen, Soon-Yi Previn, era sua enteada, com quem ele mantinha um caso extraconjugal — descoberto por Mia quando a filha adotiva tinha 19 anos.
Em janeiro de 2018, o caldo engrossou quando Dylan, em entrevista para a rede de TV CBS, questionou por que seu pai estava sendo poupado pelo movimento #MeToo, e o jornalista Richard Morgan publicou no Washington Post um artigo em que, ao vasculhar roteiros e contos nos arquivos de Allen, descreve "sua fixação por garotas" e a "objetificação do corpo feminino" por personagens de meia-idade.
Esse artigo foi bastante contestado — entre outros motivos, por se concentrar em coisas que Allen escreveu havia mais de 40 anos —, mas ajudou a encorpar a chuva ácida sobre o autor de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Hannah e suas Irmãs (1986) e Meia-noite em Paris (2011), todos vencedores do Oscar de roteiro original (categoria em que ele concorreu 16 vezes). Paralelamente, atores e atrizes como Colin Farrell, Greta Gerwig, Mira Sorvino e Ellen Page declararam-se arrependidos por terem trabalhado com Allen; e Timothée Chalamet e Rebecca Hall, que atuam em Um Dia de Chuva em Nova York, doaram seus cachês para instituições de apoio a vítimas de abuso sexual e de incesto.
A reputação não foi a única atingida: ainda em 2018, a Amazon, que havia firmado um contrato para bancar e distribuir cinco filmes do diretor (o primeiro deles foi Roda Gigante, de 2017), cancelou o lançamento de Um Dia de Chuva em Nova York e rompeu o acordo. Allen processou a empresa, em uma ação de mais de US$ 68 milhões, mas os dois chegaram a um acordo no começo de novembro de 2019, com valores não divulgados.
Enquanto isso, a Europa segue prestigiando o diretor: a mesma comédia romântica abriu o Festival de Cinema Americano de Deauville, na França, antes de entrar em cartaz em uma série de países, e San Sebastian, na Espanha, serviu de cenário para seu filme seguinte, O Festival do Amor (2020), que traz no elenco o austríaco Christoph Waltz, o francês Louis Garrel e os espanhóis Sergi López e Elena Anaya.
O cineasta, que já afirmou ser "100% a favor do #MeToo", sempre rebateu as acusações de Dylan, que considerou "ridículas", e disse que Mia Farrow havia manipulado a filha. Ainda entre 1992 e 1993, a polícia investigou o caso, mas, por falta de provas, a promotoria não o levou adiante. O médico John M. Leventhal, depois de nove entrevistas com a menina, concluiu que ela teria inventado a história ou, de fato, sido influenciada pela mãe. Filhos da atriz ficaram em trincheiras opostas: Ronan Farrow, jornalista que em 2017 revelou três casos de assédio sexual cometidos pelo produtor Harvey Weinstein, acredita em Dylan. O pai adotivo é defendido por Moses Farrow, que em seu blog A Son Speaks Out fala sobre maus-tratos e negligência por parte de Mia, relação que teria levado dois irmãos ao suicídio.
Kevin Spacey
Ganhador do Oscar de ator coadjuvante por Os Suspeitos (1995) e de melhor ator por Beleza Americana (1999), Kevin Spacey curtia o sucesso da série House of Cards — que lhe valeu um Globo de Ouro em 2015 e cinco indicações ao Emmy (de 2013 a 2017) — quando, em um intervalo de poucos dias, sua carreira foi destruída.
Em 30 de outubro de 2017, na esteira do caso Weinstein, o ator Anthony Rapp, então com 46 anos, disse que foi assediado por Spacey quando tinha 14. No mesmo dia, o ator afirmou que não se lembrava de ter assediado Rapp, mas pediu desculpas e revelou ser gay. Em 1º de novembro, o ator mexicano Roberto Cavazos disse que também foi assediado. Em 2 de novembro, uma reportagem da CNN contou que Spacey foi acusado de assediar sexualmente pelo menos oito homens jovens durante a produção de House of Cards — em 31 de outubro, a Netflix anunciara a suspensão das gravações, sem explicar direito os motivos.
Spacey, hoje com 62 anos, acabou demitido e, mais adiante, condenado pela Justiça a pagar US$ 31 milhões à produtora de House of Cards. A empresa alegou que, ao retirar ator da série, teve de reescrever e encurtar as temporadas seguintes.
O ator também foi cortado de Todo o Dinheiro do Mundo (2017), drama policial sobre o sequestro do neto de 16 anos do magnata J. Paul Getty em 1973. O filme já estava pronto e estrearia em breve, mas o diretor Ridley Scott decidiu convocar o veterano Christopher Plummer para regravar todas as cenas feitas por Spacey. Plummer acabou concorrendo ao Oscar de coadjuvante.
O último filme de Spacey a chegar aos cinemas tinha um título terrivelmente irônico diante do contexto: O Clube dos Meninos Bilionários (2018), que arrecadou somente US$ 2,7 milhões nas bilheterias (contra um orçamento de US$ 15 milhões) e foi massacrado pelos críticos que se dispuseram a assistir (7% no Rotten Tomatoes e 30 no Metacritic).
A Netflix também cancelou a produção de Gore, cinebiografia do escritor e ativista político estadunidense Gore Vidal (1925-2012), cujas filmagens haviam acabado poucas semanas antes de estourarem as denúncias. A obra dirigida por Michael Hoffman exploraria justamente o relacionamento de Gore (papel de Spacey) com um fã bem mais jovem. Provavelmente, nunca será lançada.
Mas o ator participa de dois filmes que devem sair em 2022: o suspense Peter Five Eight, de Michael Zaiko Hall, e o drama L'uomo Che Disegnò Dio (O Homem que Desenhou Deus), do octogenário italiano Franco Nero. Neste último, consta que Spacey encarna um detetive que investiga o caso de um homem injustamente acusado de abuso.
Brett Ratner
Também em 2017, a atriz Natasha Henstridge diz que, nos anos 1990, foi forçada a fazer sexo oral no diretor da trilogia A Hora do Rush (1998-2007). Outras atrizes, como Olivia Mann, relatam situações semelhantes. O último trabalho de Rattner, hoje com 52 anos, foi como produtor do filme Georgetown (2019).
John Lasseter
O então diretor de criação da Pixar tirou uma licença mais ou menos voluntária no final de 2017, depois que vieram à tona episódios que caracterizam assédio sexual. Lasseter admitiu condutas impróprias, como beijos em excesso, abraços invasivos e comentários sobre o físico das trabalhadoras do estúdio. Em 2019, acabou anunciado como chefe da Skydance Animation.
Louis C.K.
Ganhador de seis prêmios Emmy, o comediante começou a cair em desgraça em novembro de 2017, quando confirmou as acusações de assédio sexual feitas por cinco mulheres. Em dois dos relatos, C.K. se masturbou em frente a atrizes sem o consentimento delas. Ele teve rompido seu contrato com a Netflix e foi abandonado por seu agente publicitário e pelos canais FX e HBO. Um ano depois, voltou às manchetes após a divulgação de um áudio no qual faz piada com sobreviventes de um tiroteio escolar e com pessoas não binárias. Em 2021, Louis C.K., hoje com 54 anos, lançou no seu próprio site o especial de comédia Sorry (Desculpe).
James Toback
De acordo com reportagem publicada em 2017 pelo jornal Los Angeles Times, quase 40 mulheres denunciaram por assédio sexual o cineasta que concorreu ao Oscar de melhor roteiro original por Bugsy (1991). Desde então, Toback, hoje com 77 anos, não participou de nenhum outro filme.
Felicity Huffman
Em outubro de 2019, a atriz indicada ao Oscar e ganhadora do Globo de Ouro por Transamerica (2005) e premiada no Emmy pela série Desperate Housewives cumpriu 14 dias de prisão por caso de suborno e fraude em vestibular. Ela reconheceu que pagou US$ 15 mil para falsificar o exame de admissão de sua filha mais velha, Sophia Grace Macy, em uma universidade dos Estados Unidos. Também recebeu uma multa de US$ 30 mil e precisou fazer 250 horas de trabalho comunitário. Seu marido, o ator William H. Macy, não foi acusado. Um dos últimos papéis de Huffman, hoje com 59 anos, foi na minissérie Olhos que Condenam (2019), como Linda Fairsten, a promotora que ajudou a sentenciar cinco adolescentes negros e inocentes pelo estupro de uma mulher branca. A atriz deve retornar em uma série cômica sobre um pequeno time de beisebol, o Sacramento River Cats.
Johnny Depp
Em novembro de 2020, Johnny Depp disse que foi "convidado pela Warner a renunciar ao papel de Grindewald" na franquia Animais Fantásticos. Três vezes indicado ao Oscar — Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003), Em Busca da Terra do Nunca (2004) e Sweeney Todd (2007) —, o ator havia participado de Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016) e Os Crimes de Grindewald (2018). Para Os Segredos de Dumbledore (2022), foi substituído por Mads Mikkelsen.
O anúncio ocorreu poucos dias após Depp, hoje com 58 anos, perder a ação que movia contra um jornal inglês que o chamou de "agressor de esposas". A reportagem afirmava que ele havia agredido sua então esposa, a atriz estadunidense Amber Heard, 35.
Do tribunal, vazaram mensagens trocadas entre Depp e o ator Paul Bettany, nas quais eles "brincavam" de planejar a morte de Heard. "Vamos afogá-la antes de queimá-la!!! Vou fo*** seu cadáver queimado depois para ter certeza de que ela está morta", escreveu Depp.
Em 2021, no Festival de San Sebastian (Espanha), onde recebeu uma homenagem pela carreira, o ator condenou a cultura do cancelamento e a "pressa instantânea de julgamento":
— Está tão fora de controle que ninguém está salvo. Nenhum de vocês está, contanto que vocês não estejam dispostos a dizer uma frase. Apenas uma sentença e você é derrubado. O tapete é puxado de você.
Ellen DeGeneres
Logo no início da pandemia de coronavírus, a apresentadora foi muito criticada por uma piada sobre isolamento social que soltou no Twitter: "É como estar na cadeia. Principalmente porque eu uso as mesmas roupas há 10 dias e todo mundo aqui é gay" (Ellen é casada com a atriz Portia de Rossi). O detalhe é que ela mora em uma mansão então avaliada em US$ 27 milhões, com oito quartos, 10 banheiros e uma piscina com borda infinita.
Em julho do mesmo ano, em uma matéria do Buzzfeed, empregados do The Ellen Degeneres Show falaram sobre o ambiente intimidador nos corredores, que incluía comentários racistas e casos de assédio sexual. Um executivo-chefe acabou demitido. Em maio de 2021, Ellen anunciou que, após 18 anos no ar, o programa de entrevistas e variedades seria encerrado em 2022. A apresentadora disse que a turbulência interna não tinha relação com a decisão: "Quando você é uma pessoa criativa, precisa ser constantemente desafiado, e por melhor que seja esse show, por mais divertido que seja, não é mais um desafio".
Letitia Wright
Ironicamente, a atriz guianesa-britânica que interpreta uma cientista — Shuri, a irmã de T'Challa, o Pantera Negra — no Universo Cinematográfico Marvel compartilhou, em dezembro de 2020, um vídeo antivacina, propagando ideias negacionistas. Apesar da pressão de fãs nas redes sociais, Letitia, 28 anos, não perdeu seu papel em Pantera Negra 2: Wakanda Forever, previsto para ser lançado em novembro de 2022.
Gina Carano
Em fevereiro de 2021, a produtora Lucasfilm anunciou que a atriz Gina Carano, hoje com 39 anos, foi demitida da série The Mandolarian, na qual interpretava Cara Dune. "Suas postagens nas redes diminuindo as pessoas com base em suas identidades culturais e religiosas são abomináveis e inaceitáveis", disse a nota. Dias antes, Carano havia comparado o tratamento dado aos eleitores republicanos à perseguição de judeus na Alemanha nazista. Em 2021, ela já havia causado outra polêmica ao publicar uma mensagem no Twitter ridicularizando o uso de máscaras para a proteção contra a covid-19. Dois filmes B estrelados por Carano estão em pós-produção: Terror On the Prairie e My Son Hunter.
Armie Hammer
Presente no oscarizado A Rede Social (2010) e no filme de ação O Agente da U.N.C.L.E. (2015), bonitão e talentoso — concorreu como melhor ator coadjuvante por J. Edgar (2011), no SAG Awards, do Sindicato dos Atores dos EUA, e por Me Chame pelo Seu Nome (2017), no Globo de Ouro —, o galã de Rebecca, a Mulher Inesquecível (2020) tornou-se um pária a partir de janeiro de 2021. Foi quando circularam macabras mensagens trocadas com mulheres por Hammer, 35 anos hoje: "Sou 100% canibal. Eu quero comer você", "Preciso beber seu sangue".
Em março, a polícia de Los Angeles abriu uma investigação sobre as acusações de estupro feitas por uma ex-namorada. Segundo ela, o ator a "estuprou violentamente" por "mais de quatro horas" em 2017, "batendo repetidamente sua cabeça contra a parede e golpeando seus pés com um chicote". Elizabeth Chambers, ex-esposa de Hammer (de 2010 a 2020) e mãe dos dois filhos do ator, declarou seu apoio às eventuais vítimas de abusos.
Como consequência, Hammer internou-se em uma clínica de reabilitação e perdeu oportunidades. Por exemplo, deixou o elenco de Shotgun Wedding (2022), comédia romântica que protagonizaria ao lado de Jennifer Lopez, além de ter sido removido da série The Offer (2022), sobre os bastidores de O Poderoso Chefão.
Morte no Nilo estrearia em dezembro de 2019, mas acabou adiado para 2020. Daí veio a pandemia e jogou o lançamento para 2021. Então, surgiram as denúncias contra Hammer, motivando um novo adiamento.
Na trama, Hercule Poirot (Kenneth Branagh), em férias no Egito, é convidado por um amigo para uma festa de casamento de um casal aparentemente perfeito, Linnet e Simon Doyle (papéis de Gal Gadot e Armie Hammer). Quando os convidados sobem a bordo de um barco para festejar no Rio Nilo, um assassinato coloca o famoso detetive para investigar quem, entre os presentes, foi o responsável pelo crime.
Pela descrição, o personagem de Hammer é importante — aliás, o desenvolvimento da trama confirma isso. Só que, impossibilitado (por grana de produção e por agenda do elenco) de, à la Ridley Scott, refilmar todas as cenas com Simon Doyle, Branagh parece ter trabalhado na edição. Como escreveu o jornalista Carlos Redel em GZH, "é possível perceber que o ator só aparece em cena no filme quando o seu personagem é, realmente, essencial".