Preste atenção neste nome: Louis CK. Ele ainda não é muito conhecido no Brasil, mas quem acompanha os indicados ao Emmy já deve ter reparado que a série Louie, escrita e estrelada por ele, costuma aparecer na lista de melhores programas de humor da temporada.
Nas apresentações ao vivo e na série da TV, Louis encarna a persona do americano comum, urbano, de meia-idade (tem 46 anos), ligeiramente fora de forma e, como todos nós, um tanto perplexo com o que acontece em volta. Seu humor não é intelectual, como o de Woody Allen, ou cínico, como o de Jerry Seinfeld, mas Louis CK talvez seja um dos comediantes americanos que melhor têm explorado temas contemporâneos, como o vício em gadgets e redes sociais, a paranoia com doenças e envelhecimento, a solidão nas grandes cidades e as dores e delícias de criar filhos fora do modelo familiar tradicional - separado, ele cria as duas filhas pequenas em esquema de guarda compartilhada com a ex-mulher.
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Numa época em que pega bem alardear a devoção sem limites às crianças, ele admite que só consegue ser um pai responsável e amoroso porque convive com as filhas durante apenas parte da semana - nos outros dias, diz, pode voltar a ser o sujeito infantil e irresponsável de sempre. Satisfeito com sua paternidade part-time, Louis faz piada com os pais aparentemente mais comprometidos, mas que assistem à apresentação de balé da filha através da câmera de um celular - apenas para chegar em casa e jogar o vídeo no Facebook para ser curtido por amigos que tampouco irão assistir à apresentação: "Aquelas meninas estão dançando para ninguém!!".
No volante, ele confessa, diz coisas que jamais diria em outras situações. Louis imagina como seria se as pessoas repetissem, na lata, os mesmos xingamentos que gritam pela janela do carro sem qualquer constrangimento. Algo como berrar no ouvido de uma pessoa que acaba de passar na sua frente na entrada do elevador: "Tomara que tu morra antes do quinto andar, desgraçado!".
Em uma entrevista em que comenta como o celular está roubando da infância experiências preciosas de aprendizado social, o humorista lembra que, em geral, as crianças não têm qualquer pudor em chamar o amiguinho de chato ou bobalhão, mas o simples fato de perceberem a reação dos outros a um comentário maldoso pode ajudá-las a entender por que não se deve dizer certas coisas de um certo jeito. Já quando alguém xinga pela internet, o sofrimento alheio torna-se abstrato demais para ser levado em conta. A agressão virtual parece menos grave que a do recreio, assim como o xingamento do carro parece menos grave que o xingamento do elevador.
O que nos leva a uma questão decisiva: qual a nossa verdadeira identidade, a que se revela no trânsito e na internet ou a que distribui sorrisos educados no elevador? Não por acaso, um crítico do New York Times disse que Louis CK é o tipo de humorista que puxa o espectador para sua zona de desconforto.
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Cláudia Laitano: falando sério
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Cláudia Laitano
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