A Netflix acaba de adicionar ao seu menu três ótimos filmes argentinos, todos dirigidos por Pablo Trapero e estrelados por Martina Gusmán, esposa do cineasta: Leonera (2008), Abutres (2010) e Elefante Branco (2012). Estes dois últimos também trazem no elenco o grande astro cinematográfico do país vizinho, Ricardo Darín.
Trapero, 51 anos, é um dos grandes diretores da Argentina. Seu currículo inclui Do Outro Lado da Lei (2002), Família Rodante (2004) e O Clã (2015), pelo qual ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza. A Netflix também disponibilizou seu primeiro longa-metragem, Mundo Grua (1999).
Gusmán, 44, também é produtora. Como atriz, foi vista recentemente no filme O Filho Protegido (2019) e na minissérie espanhola O Inocente (2021).
Leonera (também disponível no Amazon Prime Video) narra a descida ao inferno de Julia, a personagem de Gusmán, jovem que acaba presa por supostamente ter se envolvido na morte do namorado. Ele tem um amante homem, Ramiro (Rodrigo Santoro), e tudo aponta para um crime passional. Mas por algum mistério a protagonista não lembra dos eventos dessa noite fatídica.
Como Julia está grávida, acaba indo parar na prisão nessas condições e é obrigada a parir e educar a criança atrás das grades ("leonera" é o nome dado às jaulas onde são mantidos os leões). Parece o argumento de um drama piegas, mas Trapero e sua atriz evitam esse caminho — embora a jornada não deixe de ser pesada e angustiante.
Abutres acompanha um advogado (Ricardo Darín) que ganha dinheiro ajudando vítimas de acidentes a receber indenizações. A ênfase não está em ajudar as pessoas, mas em ganhar dinheiro.
O coração de Sosa vai amolecer ao conhecer a médica socorrista Luján (Gusmán). Ambos são personagens ambivalentes, cheios de qualidades mas igualmente de defeitos, o que por si só faz com que a história fique longe de ser previsível. Vale avisar que o filme tem imagens fortes.
Também presente no catálogo do Star+, Elefante Branco gira em torno daquele que deveria ser o maior hospital da América Latina — mas o enorme edifício na periferia de Buenos Aires jamais foi concluído, ganhando o apelido do título. Esse projeto grandiloquente inacabado serve de metáfora para o abandono social no filme em que Ricardo Darín e o belga Jérémie Renier interpretam os padres Julián e Nicolás — Martina Gusmán encarna a assistente social Luciana.
As cenas iniciais mostram primeiramente Julián deitado em uma maca, submetendo-se a uma tomografia, depois Nicolás escondendo-se do que mais tarde ficamos sabendo tratar-se de um massacre de camponeses na Amazônia. Julián vai até a selva para convencer Nicolás a auxiliá-lo em seu trabalho junto à comunidade carente de Ciudad Oculta — favela portenha que desde meados da década de 1940 cresce ao redor do Elefante Branco. Eles vão encontrar obstáculos como a guerra entre os traficantes locais e os interesses do governo e da própria Igreja Católica.