O problema do futebol não é só do futebol. Em algum momento, que não faz muito tempo, a régua cansou e não sobe mais no Brasil e no Rio Grande. Quem já não ouviu alguns nomes de convocados para a seleção e se perguntou: quem é este jogador que eu nunca vi?
Quem não ouviu pelas ruas do Estado alguém espantado, perguntando por que Carille e depois por que Caixinha? Ainda usando o maravilhoso sentido da audição vem outra prova que a régua cansou. Você já ouviu a música mais tocada no país nesse fim de ano?
Corta para um momento de coincidência e sorte. Eu estava em São Paulo, no fim de semana passado, e ganhei ingresso para o show dos irmãos Maria Bethânia e Caetano Veloso, na Arena do Palmeiras.
Mais coincidência e sorte. Já de volta a Porto Alegre, ganhei ingresso para ver a volta do TNT, no Araújo Vianna. Como não sou bobo, fui aos dois e, por 2h em cada um, lembrei, cantei, celebrei o tempo em que a régua ainda estava no alto.
Tempos que o Grêmio contratava o Telê Santana, o Ênio Andrade, o Evaristo de Macedo ou fazia apostas certeiras em jovens gaúchos como Espinosa, Felipão, Tite e Mano Menezes.
O show dos irmãos baianos, que se apresentam agora em janeiro na Arena do Grêmio, começa com o clássico "Alegria, Alegria". Uma canção que logo no início tem dois ou três versos mais ricos que as 10 músicas mais executadas no país. E aqui vale a informação: todas são catalogadas como sertanejas. A mais tocada do momento é aquela que repete:
"Nós vai descer, vai descer
Descer lá pra BC no finalzin' do ano
Os bombonzin' 'tão brozeando pra eu chegar e morder
Nós vai descer, vai descer
Descer lá pra BC no finalzin' do ano
Os Cowboy vai litorando e vai torar você"
Sim, eu não inventei nada, a mais tocada é, exatamente, assim. Imagino que alguém que ouve e canta a pérola vai ter dor de cabeça e pode até parar no hospital se ouvir esta outra:
"O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em Cardinales bonitas,
Eu vou
Em caras de presidentes, em grandes beijos de amor,
Em dentes, pernas, bandeiras,
Bomba e Brigitte Bardot..."
No futebol da Seleção, a melhor desculpa é a safra. É fato que os cinco camisas 10 da seleção de 1970 não existem mais, que Taffarel, Dunga e Romário não existem mais e que os Ronaldos não existem mais.
É tudo verdade, mas o problema é que o grau de exigência caiu muito e você na rua uma criança com a camisa do Tottenham e o nome do Richarlison. Meu Deus! Nós vai descer, não! Nós já desceu, diria o "analfa".
E o que dizer do Grêmio implorando pelo amor do Caixinha? Cadê a régua, Grêmio? Uma pena que os homens fortes do futebol tricolor não foram ao show histórico da turma do Charles Master. Porque eles cantaram a dica infalível que faz sucesso há décadas:
"... a vida é nada é fácil
E eu não quero dizer isto,
mas o mundo é maior que o teu quarto".
E muito maior que um Caixinha.