Depois de ver Deadpool & Wolverine (2024), que teve sessões de pré-estreia na quarta-feira(24) e entra em cartaz nos cinemas nesta quinta (25), atualizei o ranking dos filmes já lançados no Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês), ordenando os 34 do pior ao melhor (temos novidade no top 5).
Dirigido por Shawn Levy e estrelado por Ryan Reynolds e Hugh Jackman, que, aos 55 anos, volta ao papel que havia abandonado em Logan (2017), o título marca o ingresso oficial desses dois personagens no MCU — por extensão, dos X-Men, que entre 2000 e 2020 estrelaram uma franquia do finado estúdio Fox, comprado pela Disney, a dona da Marvel. (Também fiz um ranking mutante.)
Quase todos os filmes estão disponíveis no streaming, na plataforma Disney+.
Ranking do Universo Cinematográfico Marvel
34) As Marvels (2023)
De Nia DaCosta. É o filme mais curto da Marvel, com 105 minutos de duração. Mas é tão chato, é tão genérico, é tão desprovido de personagens interessantes, cenas de impacto, cenários atrativos e tensão genuína, que a sensação é de que acabamos de maratonar todos os 33 longas-metragens lançados desde Homem de Ferro (2008). Só vale pena cena pós-créditos.
33) Homem de Ferro 2 (2010)
De Jon Favreau. Fora ter trazido a primeira aparição de Scarlett Johansson como Viúva Negra (ainda bastante sexualizada) contar com Mickey Rourke no papel do vilão Chicote Negro, há pouco a lembrar deste filme, que não é bem escrito como seu antecessor nem polêmico quanto seu sucessor.
32) Homem Formiga e Vespa (2018)
De Peyton Reed. Serviu de alívio cômico após os eventos trágicos de Vingadores: Guerra Infinita. E só.
31) Thor: O Mundo Sombrio (2013)
De Alan Taylor. O Loki interpretado por Tom Hiddleston é praticamente a única coisa que se salva neste filme de roteiro pouco inspirado, um romance sem charme entre Thor e Jane Foster e cenas de ação esquecíveis.
30) Homem Formiga e a Vespa: Quantumania (2023)
De Peyton Reed. Gigante nos efeitos, mas pequeno na ambição, o filme é como uma formiguinha em uma pracinha lotada de crianças: logo será esmagado das lembranças de um público cada vez mais ávido por um arrebatamento que o gênero vem oferecendo cada vez menos. Estreia no Disney+ em 17 de maio.
29) O Incrível Hulk (2008)
De Louis Leterrier. Foi mais marcante por ambientar a primeira meia hora em uma favela do Rio e pelas desavenças criativas entre o diretor e o ator Edward Norton, depois substituído por Mark Ruffalo no papel de Bruce Banner/Hulk.
28) Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021)
De Destin Cretton. Tirando a cena do ônibus, no dia seguinte eu já havia esquecido a estreia do super-herói de artes marciais da Marvel, interpretado por Simu Liu em um filme que tem mais monstros digitais (em cenas bastante escuras) do que combates coreografados.
27) Thor: Amor e Trovão (2022)
De Taika Waititi. Farofeiro no humor e na trilha sonora (com quatro canções da banda Guns N' Roses), Thor: Amor e Trovão, aqui e ali, acena com um peso emocional (o vilão, Gorr, se torna o Carniceiro dos Deuses depois da morte de sua filhinha, Jane Foster, antiga paixão do deus asgardiano, está na fase terminal de um câncer) para logo em seguida diluí-lo. É inconsistente como uma... farofa.
26) Eternos (2021)
De Chloé Zhao. O filme da diretora oscarizada por Nomadland é um abacaxi de US$ 200 milhões, com cenas de ação cheias de efeitos digitais não muito convincentes, piadas de salão em meio a momentos supostamente graves e uma música intrusiva e onipresente como de hábito no gênero, mas surpreendentemente piegas na maior parte do tempo. Ah, sim: os 157 minutos de duração parecem... eternos.
25) Thor (2011)
De Kenneth Branagh. A escolha de Branagh, ator e diretor britânico egresso do teatro shakespeariano, tinha o propósito de dar mais densidade à estreia cinematográfica do personagem inspirado na mitologia nórdica. E, de fato, a trama tem ares de Shakespeare: o príncipe Thor (Chris Hemsworth, ainda contido no humor) perderá, por sua arrogância e fúria, a chance de suceder o pai, o rei Odin (Anthony Hopkins), em Asgard. Em seu lugar, subirá ao trono o ambíguo irmão Loki (Tom Hiddleston, já roubando cena). Mas o resultado do filme ficou a meio caminho entre um drama palaciano e uma aventura de super-herói, com toques de comédia romântica.
24) Capitão América: O Primeiro Vingador (2011)
De Joe Johnston. Ok, o filme conta bem a história do rapaz franzino mas valente que participa de uma experiência e é transformado em um supersoldado para enfrentar os nazistas. E merece aplauso a combinação de técnicas de ilusão, computação gráfica e trabalho de dublês que faz Chris Evans (uma ótima encarnação de Steve Rogers) parecer tão minúsculo e mirrado antes de tomar o supersoro. Mas os quadrinhos do personagem nunca foram pautados pelo humor — por vezes, este Capitão América assemelha-se a um Recruta Zero.
23) Vingadores: A Era de Ultron (2015)
De Joss Whedon. É uma regra de ouro para qualquer franquia de blockbuster: tudo o que deu certo no primeiro filme, faça ainda maior no segundo. De novo sob o comando de Whedon, o time de heróis da Marvel enfrenta outra ameaça à humanidade. Se antes foi Loki querendo impor sua vontade por considerar os humanos inferiores, agora temos Ultron, inteligência artificial que nos considera dignos apenas de sermos extintos. Outra vez, o enredo explora o frágil (ou mesmo inexistente) equilíbrio entre os mocinhos. Se a história não empolga, há boas cenas de ação — que contribuíram para a bilheteria chegar a US$ 1,4 bilhão — e o surgimento de dois importantes personagens: Feiticeira Escarlate e Visão.
22) Homem-Formiga (2015)
De Peyton Reed. É um filme, literalmente, menor no MCU. Mas, além de dar tempo para Paul Rudd nos encantar e nos fazer rir, tem ótimas sacadas relacionadas ao tamanho do personagem.
21) Homem-Aranha: Longe de Casa (2019)
De Jon Watts. Após um divertido início em clima de comédia romântica adolescente, o filme promove uma reviravolta que só pega de surpresa quem desconhece os gibis do Homem-Aranha. Mas pelo menos o vilão Mysterio interpretado por Jake Gyllenhaal permite ao diretor imprimir uma carga política — eis um personagem que manipula a realidade, empregando um discurso e uma prática que expõem nossa facilidade de acreditar em fake news, de se deixar iludir em nome de nossas crenças, de nossos preconceitos e de nossas ideologias.
20) Homem de Ferro 3 (2013)
De Shane Black. É um filme controverso — e só por isso já merece não estar nas últimas posições. Criador dos roteiros da franquia policial Máquina Mortífera e do divertido thriller Beijos e Tiros (2005), também estrelado por Robert Downey Jr., Black imprime seu estilo no universo Marvel. Os fãs odeiam o que foi feito com o vilão Mandarim, encarnado por Ben Kingsley. Eu gostei.
19) Guardiões da Galáxia vol. 2 (2017)
De James Gunn. Bateu a megalomania típica das continuações. E Gunn pesou a mão na hora de fazer comédia, incluindo aí uma cena um tanto quanto constrangedora envolvendo o Pac-Man. Mas tem Kurt Russell interpretando um planeta, e a trilha sonora continua bacana, com Fox On the Run (Sweet), The Chain (Fleetwood Mac) e Bring It On Home to Me (Sam Cooke), entre outras canções.
18) Os Vingadores (2012)
De Joss Whedon. Está longe de ser maravilhoso, mas foi o filme que consolidou o Universo Cinematográfico Marvel. Na sua primeira grande cruzada em conjunto, Homem de Ferro, Capitão América, Thor, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro enfrentam uma ameaça engendrada por Loki, o Deus da Trapaça. É a nona maior bilheteria na história, com US$ 1,5 bilhão, conquistados graças à dinâmica entre os personagens, o heroísmo, as cenas de ação grandiosas (porém barulhentas) e um humor que, não raro, escorrega para galhofa destrambelhada.
17) Doutor Estranho (2016)
De Scott Derrickson. Um bom filme de origem para o personagem que é um duplo sintetizador da magia Marvel — tanto é um mago por excelência quanto reúne, em sua origem, vários dos elementos característicos da editora de quadrinhos: trata-se de um homem comum, o cirurgião Stephen Strange, que, ao adquirir superpoderes, encara um rito de passagem, em uma história de redenção, de segunda chance e de alerta sobre os perigos da arrogância.
16) Capitã Marvel (2019)
De Anna Boden e Ryan Fleck. Talvez seja apenas competente ao mostrar o surgimento da super-heroína vivida por Brie Larson, mas ganha pontos por seu simbolismo. É uma aventura que aborda a representatividade e o papel da mulher em campos majoritariamente dominados por homens, como a guerra. Também contraria estereótipos: Carol Danvers é uma protagonista feminina que se define por si própria, e não por quem ela beija ou deixa de beijar. Eis uma personagem que cai, mas se levanta.
15) Viúva Negra (2021)
De Cate Shortland. Ao mergulhar no passado mais distante de Natasha Romanoff — que já estava morta, como visto em Vingadores: Ultimato —, torna-se uma obra rara no universo Marvel, que vem sempre jogando para a frente, desenrolando novas narrativas a partir de cada última parada, expandindo sua cronologia. Também destoa por não promover um show de superpoderes, martelos mágicos, raios de energia etc. Como filme de espionagem que se preza, em Viúva Negra há perseguições motorizadas e o combate é quase sempre corpo a corpo ou com armas de fogo e facas (talvez até espadas).
14) Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)
De Jon Watts. Na primeira aventura solo do terceiro Homem-Aranha do cinema, o Peter Parker encarnado pelo carismático Tom Holland é um adolescente que quer curtir a vida adoidado — no caso, a vida de super-herói. Enquanto espera ser chamado para uma nova missão com os Vingadores, ele se divide entre o tédio e as mancadas, entre o bullying (na pele de vítima, claro) e a paquera. Quando as coisas ficam sérias, o filme apresenta o que muitos críticos estadunidenses definiram como o primeiro supervilão da era Donald Trump, que vencera a disputa para a presidência um ano antes: o Abutre vivido por Michael Keaton é o cara comum que tem o ressentimento contra o Estado que motivou boa parte do eleitorado.
13) Homem de Ferro (2008)
De Jon Favreau. Vou usar as palavras do meu colega Carlos Redel: "O responsável por iniciar tudo. Sob a batuta do produtor Kevin Feige, Favreau teve a importantíssima missão de levar um herói não tão popular dos quadrinhos para os cinemas. A partir desta trama de origem, outras rotas começariam a ser abertas para o universo compartilhado. E, como se não bastasse, o escolhido para interpretar o protagonista Tony Stark era o garoto-problema dos anos 1990 Robert Downey Jr. Como a história mostrou, o filme deu muito certo, tornou-se aclamado dentro do subgênero e, além disso, deu nova chance à carreira de Downey Jr., que se tornou um dos atores mais bem pagos de Hollywood".
12) Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022)
De Sam Raimi. Embora seja menos louco do que o título promete, este é o mais próximo que a Marvel chegou de um filme de terror. Os efeitos visuais deslumbram (destaque para o passeio psicodélico por mundos paralelos e a batalha das notas musicais). O conceito das realidades alternativas permite a abordagem de temas mais sérios, como luto e arrependimento. E o cineasta atinge um estranho equilíbrio entre os elementos característicos da franquia, como o colorido e o humor, e suas marcas autorais, entre o olhar para questões mais adultas e a realização de sonhos dos fãs.
11) Pantera Negra: Wakanda para Sempre (2022)
De Ryan Coogler. A morte não é o fim, diz uma personagem. Na verdade, a morte é o início do 30º longa-metragem do MCU. Convém ao espectador chegar bem cedo à sessão, porque a aguardada sequência de Pantera Negra (2018) já começa prestando homenagem ao ator que encarnava o rei T'Challa, Chadwick Boseman, morto em agosto de 2020, aos 43 anos, em decorrência de um câncer colorretal. Na primeiríssima cena, Shuri, a princesa cientista interpretada por Letitia Wright, reza para uma divindade: "Bast, permita-me curar meu irmão". Wakanda é esse fictício e utópico reino africano, onde ciência e religiosidade convivem harmoniosamente, onde a alta tecnologia está vinculada a rituais e saberes tradicionais. Mas os recursos e os esforços de Shuri são em vão: o coração de T'Challa — cujo corpo jamais é visto na tela — para de bater. O silêncio que sucede o funeral (em que todos vestem branco) é um indício de que Pantera Negra: Wakanda para Sempre será um dos mais sóbrios filmes da Marvel — se não for o mais sóbrio.
10) Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021)
De Jon Watts. O diretor compensa a falta de tato para a ação e o olhar negligente para furos do roteiro com um ouvido aguçado para as angústias e os anseios de um adolescente como Peter Parker, virtude que ele já vinha exibindo desde o início da trilogia. Em Sem Volta para Casa, nosso herói finalmente entende o princípio clássico do personagem criado em 1962: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Como um deleite para os fãs, Watts traz de volta as encarnações anteriores do Aracnídeo — Tobey Maguire e Andrew Garfield —, acrescentando muito humor e muita emoção e retratando, talvez como nenhum outro filme de super-herói tenha feito, a noção de legado, tão cara à Marvel.
9) Guardiões da Galáxia vol. 3 (2023)
De James Gunn. De certa forma, o encerramento da trilogia dos Guardiões da Galáxia também simboliza o fim da pandemia de covid-19. Por um lado, as situações retratadas e os sentimentos despertados aludem ao que vivemos ao longo desses mais de três anos. O filme começa justamente com Peter Quill não sabendo lidar com seu desgaste mental e emocional, e com Rocket Racoon à beira da morte. Na jornada para tentar salvá-lo, aparecerão palavras-chave no enfrentamento da covid-19, como empatia, solidariedade e cooperação (o que rende uma das melhores cenas de ação da Marvel nos últimos tempos). Por outro lado, a energia positiva e as fartas doses de alegria coincidem com este momento de recomeço da chamada vida normal — a segunda chance é um tema explícito, vide um dos novos personagens, Adam Warlock. Nesse sentido, a trilha sonora — sempre um tesouro nas aventuras da trupe de super-herói — mostra-se escolhida a dedo: tem This Is the Day (The The), Badlands (Bruce Springsteen) e Dog Days Are Over (Florence + The Machine).
8) Thor Ragnarok (2017)
De Taika Waititi. Em vez de intrigas palacianas, diálogos pomposos e batalhas épicas, somos brindados pela formação de uma inesperada dupla cômica entre o Deus do Trovão e o atormentado Hulk, com uma química que lembra a de Jack Lemmon e Walter Matthau em títulos como Um Estranho Casal (1968) e Dois Velhos Rabugentos (1993). Como piada ou verdade, Waititi contou que, em um dado momento das filmagens de Ragnarok, após vários diálogos improvisados, o ator Mark Ruffalo (que encarna o Golias Esmeralda) virou para o diretor e perguntou: "Como ainda não fomos demitidos?".
7) Guardiões da Galáxia
De James Gunn. Pegue um diretor até então mais conhecido por comédias irreverentes e dê a ele liberdade quase total para lidar com um bando de personagens desconhecidos do grande público. O resultado é esta pequena joia que conquistou o coração — e os ouvidos — de adultos e crianças. Sim, porque, no fundo, a saga cósmica da trupe mercenária liderada por Peter Quill (Chris Pratt) é uma história sobre pais e filhos. Temperada por um senso de humor inesgotável e embalado por uma trilha sonora memorável, recheada de soul music e pop das décadas de 1970 e 1980. Temos Come and Get Your Love (Redbone), I'm Not in Love (10cc), Cherry Bomb (The Runaways), I Want You Back (The Jackson 5), Moonage Daydream (David Bowie), Hooked On a Feeling (Blue Swede), Escape (The Piña Colada Song) (Rupert Holmes)...
6) Capitão América: Guerra Civil (2016)
De Joe Russo e Anthony Russo. Nos quadrinhos homônimos que inspiraram o filme, após a ação de um grupo de jovens heróis terminar em tragédia, o governo dos Estados Unidos aprova uma lei obrigando todos os superseres a revelarem suas identidades secretas e a trabalhar oficialmente para o Estado. Era um comentário, na época, sobre as medidas de exceção implementadas pelo presidente George W. Bush para combater o terrorismo.
Os irmãos Russo reencenam o conflito interno que surge entre os Vingadores a partir da pergunta: qual é o grau de autonomia e de responsabilidade para super-heróis que se assemelham a armas de destruição em massa? Tony Stark, o Homem de Ferro, é um dos entusiastas do projeto governamental. O Capitão América é um ferrenho opositor. A divergência se intensifica depois que Bucky, o grande amigo do Capitão América durante a Segunda Guerra Mundial e agora o terrorista procurado Soldado Invernal (Sebastian Stan), é tido como responsável por um atentado. A mistura de intensas cenas de ação (tipo um helicóptero sendo pego no braço!), dilemas morais que conversam com o espectador mais reflexivo e as estreias do Homem-Aranha de Tom Holland e do Pantera Negra de Chadwick Boseman faz de Guerra Civil um filmaço.
5) Deadpool & Wolverine (2024)
De Shawn Levy. E não é que o Deadpool, como diz a piada antecipada nos trailers, pode ser mesmo o Jesus da Marvel? O único empecilho para o 34º longa-metragem oficial do MCU ultrapassar a marca do bilhão nas bilheterias — o que só aconteceu uma vez nos 10 lançamentos anteriores — é a classificação indicativa para maiores de 18 anos. Mas não seria um filme do Deadpool se não houvesse muita violência e muita bagaceirice, geralmente misturadas na mesma cena. Outro elemento característico, a metalinguagem, pode afugentar os neófitos, mas é capaz de fazer os fãs das aventuras de super-heróis voltarem para uma segunda vez: nunca se viu tanta referência. Revelar as citações e as aparições seria um crime — na minha sessão de pré-estreia, houve palmas efusivas e gargalhadas estridentes em pelo menos três momentos —, mas dá para contar que se vai do celebratório e do épico à autocrítica e à ridicularização. O alvo varia entre as produções da Fox (que, SPOILER, não se restringiam aos X-Men) e o próprio MCU, que aqui tem seu bagunçado Multiverso praticamente sepultado (e também sobra para o universo cinematográfico da DC!).
A sequência de abertura resume bem essa oscilação. "Só a musiquinha já é de arrepiar", comenta o personagem de Ryan Reynolds (absolutamente à vontade no papel) após aparecer o logotipo do estúdio, para em seguida chamar a Marvel de "idiota". Na cena, ele está desenterrando Wolverine da cova que vimos ao final de Logan (2017). Essa morte, explica Paradox (Matthew Macfadyen), um executivo da Autoridade de Variância Temporal, determinou a morte do mundo em que vive Deadpool. Para evitar o genocídio e, de quebra, ingressar na chamada Linha do Tempo Sagrada, onde poderia almejar uma vaga nos Vingadores, o mercenário tagarela viaja pelas diferentes Terras da Marvel até achar um Wolverine que tope ajudá-lo, nem que seja à base de quebra-pau. Acaba encontrando uma versão do mutante encarnado por Hugh Jackman (absolutamente nascido para o papel) inédita nos filmes, com o uniforme amarelo que o deixou famoso nos quadrinhos — e fazendo as poses típicas dos gibis. Paro por aqui na descrição da trama para não estragar as surpresas. Que, vale reforçar, terão mais graça se você conhecer bastante do que foi produzido (ou até NÃO produzido) nos últimos 25 anos no cinema de super-heróis. Deixo um conselho: assista em uma sala lotada, porque o riso é contagiante. Um lembrete: tem cena pós-créditos. E um alerta: você nunca mais vai ouvir Like a Prayer (1989), da Madonna, sem visualizar o, ora, esplendor físico de Jackman.
4 e 3) Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Vingadores: Ultimato (2019)
Ambos de Anthony Russo e Joe Russo. Difícil avaliar separadamente o díptico que arrecadou quase US$ 5 bilhões — Ultimato, com US$ 2,79 bilhões, é a segunda maior bilheteria na história. Guerra Infinita é o começo do fim da formação do grupo de heróis como a conhecíamos. O filme trouxe momentos espetaculares, como a chegada de Thor em Wakanda, as interações inéditas entre vários personagens e o estalar de dedos de Thanos que dizimou metade da humanidade.
As três horas de Ultimato amarram tudo o que se viu antes. Não à toa, o título original é Endgame, fim de jogo. Mas os Vingadores vão buscar algum jeito de reverter o genocídio — o que significa voltar no tempo e evitar que o Titã Louco obtenha as seis Joias do Infinito: do espaço, da mente, da alma, da realidade, do tempo e do poder. Essa viagem ao "campo quântico" permite revisitar, sob uma nova perspectiva, cenas emblemáticas de Os Vingadores (2012), Capitão América: O Soldado Invernal (2014) e Guardiões da Galáxia (2014), por exemplo. É de se pensar: a Marvel é tão genial que já havia, anos atrás, planejado seu futuro? Ou é tão genial porque soube reinventar seu passado?
Depois de uma jornada pontuada por cenas de ação com dezenas de personagens, piadas referenciais e despedidas comoventes, Ultimato guarda uma surpresa. Não há cenas pós-créditos. Em compensação, a Marvel resolveu concluir Ultimato com outro tipo de presente para os fãs: os atores que compõem o elenco principal assinam sua aparição nos créditos. É como se fossem autógrafos em um gibi de super-herói.
2) Capitão América: O Soldado Invernal (2014)
De Anthony Russo e Joe Russo. O tempo fez bem a esta aventura de super-herói da Marvel que presta tributo aos filmes de espionagem da década de 1970. Percebe-se a intenção tanto na trama, cheia de intrigas, traições e reviravoltas, quanto na direção de fotografia (fria, azulada) e na escalação do elenco — ator de Três Dias do Condor (1975) e Todos os Homens do Presidente (1976), Robert Redford interpreta um chefão da S.H.I.E.L.D., o serviço secreto do MCU.
Enquanto tenta se adaptar ao mundo moderno, Steve Rogers vai deparar com o ressurgimento de seu grande amigo, Bucky Barnes (Sebastian Stan), dado como morto na Segunda Guerra Mundial. As sequências de ação são eletrizantes, desde a incrível perseguiçao automobilística ao SUV de Nick Fury até as lutas coreografadas, como aquela do Capitão América contra o vilão francês Batroc, encarnado pelo astro canadense do MMA Georges St. Pierre.
1) Pantera Negra (2018)
De Ryan Coogler. Os efeitos visuais não são de encher os olhos, mas as palavras ficam ressoando por um longo tempo. Como aquela do discurso proferido na ONU por T'Challa, o rei da fictícia Wakanda interpretado pelo saudoso Chadwick Boseman (1976-2020): "Em momentos de dificuldade, líderes sábios constroem pontes, tolos constroem barreiras". Era um recado direto a políticos como o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, empenhado em erguer um muro na fronteira com o México. Mas o vilão também tem algo a dizer em Pantera Negra. Boa parte da repercussão alcançada pelo filme deve-se ao personagem vivido com gana e carisma por Michael B. Jordan, Killmonger, cujas reflexões sobre a herança nefasta do colonialismo na África e sobre a escravidão foram capazes de sensibilizar o mocinho da trama.
Marco da representatividade — o elenco é majoritariamente negro, cenários e figurinos valorizam a cultura africana —, Pantera Negra foi um sucesso de público (faturou US$ 1,34 bilhão) e de crítica (tem 96% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes). Também é a única aventura Marvel que concorreu ao Oscar de melhor filme — ganhou os troféus de design de produção, figurinos e trilha sonora (assinada pelo sueco Ludwig Göransson).