A estreia de Deadpool & Wolverine (2024) nos cinemas, nesta quinta-feira (25), marca o ingresso oficial desses dois super-heróis e de todos os X-Men no Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês). Durante duas décadas, os personagens mutantes dos quadrinhos estrelaram 13 filmes em outro estúdio, o Fox, comprado em 2019 pela Disney, dona do Marvel Studios.
De X-Men (2000) a Os Novos Mutantes (2020), esses longas-metragens trabalharam os conceitos básicos criados em 1963 pelo roteirista Stan Lee e o desenhista Jack Kirby. Formado inicialmente por Ciclope, Garota Marvel (Jean Grey), Homem de Gelo, Anjo e Fera, já sob a liderança do Professor Xavier e desde a estreia com o antagonismo de Magneto, os X-Men, por um lado, permitem especular sobre evolução genética; por outro, como metáfora das minorias perseguidas, estimulam o combate ao preconceito, o convite à tolerância e a busca por uma difícil, mas necessária convivência harmoniosa. Em um nível mais particular, também possibilitam uma discussão sobre as questões de identidade e os desejos e as angústias adolescentes.
Na comparação com os filmes do MCU e aqueles com os personagens da DC Comics, a franquia X-Men perde em prestígio e em popularidade. No Oscar, o MCU recebeu 27 indicações e quatro prêmios: Pantera Negra (2018), que foi o primeiro e até agora único filme de super-herói a disputar a categoria principal, ganhou em design de produção, figurinos e trilha sonora, e Pantera Negra: Wakanda para Sempre (2022) reprisou a vitória em vestuário. Somados, os longas-metragens do Homem-Morcego têm 13 indicações e três prêmios: direção de arte para Batman (1989), ator coadjuvante (Heath Ledger) e edição de som para Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008). Esquadrão Suicida (2016) foi laureado por maquiagem e cabelos, e Coringa (2019) concorreu em 11 categorias, incluindo melhor filme e direção (Todd Phillips), e venceu em ator (Joaquin Phoenix) e trilha sonora.
A Academia de Hollywood só lembrou dos mutantes duas vezes. X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2018) disputou o troféu de efeitos visuais. E Logan (2017) foi o primeiro filme do universo de super-heróis indicado ao Oscar de roteiro adaptado.
Nas bilheterias, os heróis da Marvel ocupam o segundo lugar no ranking histórico (Vingadores: Ultimato, com US$ 2,79 bilhões) e aparecem mais nove vezes na lista dos filmes que ultrapassaram a marca do US$ 1 bilhão. Nessa relação, há quatro títulos com personagens da DC. O maior sucesso da franquia X-Men não chegou muito perto disso: é Deadpool 2 (2018), que arrecadou US$ 785,8 milhões, seguido por Deadpool (2016), com US$ 782,8 milhões, e Dias de um Futuro Esquecido, com US$ 746 milhões.
Os críticos dizem, por exemplo, que as aventuras coletivas são sempre as mesmas: surge uma grande ameaça aos mutantes, e em determinado momento o conflito de ideias entre o Professor Xavier, pacifista, e Magneto, belicoso, ganha o protagonismo.
Mas eu vou dizer o seguinte: com uma ou outra exceção, todos os X-filmes me divertiram com sua mistura de ação e drama que também oferece humor — seja com o Wolverine de Hugh Jackman, que soube encarnar as principais características do carcaju com garras retráteis (a fúria primitiva, a sedução selvagem, a rabugice alcoolizada), seja com o Deadpool de Ryan Reynolds, que soube reverter a seu favor os traços desabonadores do mercenário assassino com poderes regenerativos (a verborragia bagaceira, o regozijo com a violência, a imaturidade inconsequente). Encararia tranquilamente uma maratona mutante. Seja em ordem cronológica (do lançamento nos cinemas ou pela época de cada história, tanto faz), seja na ordem de preferência deste ranking (começando pelo último ou pelo primeiro, tanto faz). Todos os títulos estão disponíveis no Disney+, exceto, é claro, Deadpool & Wolverine. (Também atualizei o ranking Marvel, que agora soma 34 filmes.)
Ranking dos filmes "Deadpool", "Wolverine" e "X-Men"
14) Os Novos Mutantes (2020)
De Josh Boone. O último capítulo da franquia dos X-Men da Fox passou por inúmeras refilmagens, teve seu lançamento remarcado diversas vezes e acabou adiado de novo quando veio a pandemia de covid-19. Seria exagero dizer "melhor que nunca tivesse estreado", porque pelo menos há uma tentativa de diversificar o subgênero dos super-heróis, mesclando elementos dos filmes de terror protagonizados por adolescentes. Na trama, jovens mutantes estão descobrindo seus poderes em um suposto hospital, onde desconfiam das reais intenções da médica interpretada pela brasileira Alice Braga. O elenco inclui Anya Taylor-Joy, como Illyana Rasputin, a Magia, Maisie Williams, na pele de Rahne Sinclair, a Lupina, e Charlie Heaton, no papel de Sam Guthrie, o Míssil — nome apropriado em um filme que é uma bomba.
13) X-Men 3: O Confronto Final (2006)
De Brett Ratner. A questão levantada pelo filme é interessante: para ser melhor aceito pela sociedade, vale a pena abrir mão de uma característica que o faça diferente de todos os outros? Mas a trama sobre a descoberta de uma cura para a alteração genética que dá aos mutantes poderes especiais não é bem desenvolvida. O diretor prefere centrar foco na guerra fratricida — com um excesso de personagens que acaba sendo autofágico — e em um humor rasteiro que não combina com o tom sério que caracteriza as histórias dos X-Men.
12) X-Men Origens: Wolverine (2009)
De Gavin Hood. Em rankings semelhantes, a primeira aventura solo do Carcaju aparece na última colocação. Mas, a despeito de seus problemas (o roteiro que prioriza a pirotecnia em detrimento do desenvolvimento emocional dos personagens, a precariedade dos efeitos de computação gráfica, o subaproveitamento de Deadpool, vivido pelo próprio Ryan Reynolds), há dois pontos bem positivos neste mergulho no passado misterioso do personagem. O primeiro é a recriação de épocas na sequência que apresenta a origem de Wolverine e de seu arqui-inimigo, o Dentes de Sabre. O segundo é a atuação afiada de Liev Schreiber como o vilão.
11) X-Men: O Filme (2000)
De Bryan Singer. Convidei meu colega Carlos Redel para escrever este tópico: "Vindo na esteira do moderado (mas importante) sucesso de Blade: O Caçador de Vampiros (1998), que acendeu o sinal verde para a retomada das produções de super-heróis na virada do milênio, após o fracasso de Batman & Robin (1997), X-Men é um retrato da época — incluindo, os infames uniformes de couro vistos em Matrix (1999). A história faz uma promissora apresentação dos mutantes, colocando em pauta questões latentes da origem dos personagens, como enfrentamento ao preconceito e revolução, seja por meios pacíficos (#TeamCharlesXavier) ou pela força (#TeamMagento). Filme de origem, tateou o terreno para entregar a sua história, com o mérito de não ter a bengala formulaica do MCU. Assim, os roteiristas Tom DeSanto e David Hayter, além do próprio Singer, conseguem acertar em desenvolver os personagens — em especial, o Wolverine de Hugh Jackman, um dos maiores acertos de escalação da história dos filmes baseados em HQs —, mas entregam cenas de ação desanimadas. Com o passar dos anos, X-Men foi se tornando datado em relação a seus efeitos visuais e maçante por sua falta de ritmo. Mesmo assim, merece as honras pelos seus importantes serviços prestados para a causa".
10) X-Men: Apocalipse (2016)
De Bryan Singer. É o que, em inglês, chamam de guilty pleasure (prazer com culpa): reconhecemos que é um filme ruim, mas mesmo assim nos divertimos. À beça. Começa pela abertura ambientada nos tempos faraônicos do Egito, que remete a superproduções hollywoodianas como Cleópatra (1963). Depois, quando a trama avança para os anos 1980, a interação dos mutantes adolescentes em um colégio faz lembrar o clima de Clube dos Cinco (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986). Há ainda a dicção carregada de Oscar Isaac como o megavilão Apocalipse, a excepcional sequência de Mercúrio (Evan Peters) ao som de Sweet Dreams (1983), sucesso do duo Eurythmics, e a piada que é tanto uma autoironia de Singer quanto uma farpa disparada contra Brett Ratner, que fechara a primeira trilogia dos X-Men. Ao sair do cinema onde os amigos foram ver Star Wars: O Retorno de Jedi (1983), a personagem Jean Grey comenta que "pelo menos concordamos que o terceiro filme é sempre o pior".
9) X-Men: Fênix Negra (2019)
De Simon Kinberg. Foi massacrado tanto pela crítica quanto pelo público, mas eu adoro. Baseado na clássica e homônima saga dos quadrinhos assinada por Chris Claremont (texto) e John Byrne (arte) na virada dos anos 1970 para os 1980, é um conto sobre a corrupção pelo poder. Fênix Negra tem início em 1975, enfocando um episódio traumático na vida da pequena Jean Grey, que tem poderes telepáticos e telecinéticos. Depois desse evento, a menina é levada, sob tutela do professor Charles Xavier (James McAvoy), à mansão onde ele mantém uma escola para jovens superdotados. Pula para 1992, quando os X-Men, com um insuspeitado status de Vingadores — afinal, costumam ser perseguidos pelas autoridades —, são convocados pelo presidente dos EUA para salvar, no espaço, a tripulação do ônibus espacial Endeavour. É aí que Jean (agora encarnada por Sophie Turner), enfrentará uma nova provação, em uma espécie de releitura do mito de Ícaro. E é aí que vemos uma faceta diferente de Xavier, a do mentor vaidoso e propenso a fazer de tudo para preservar a imagem pública de seus pupilos — como ele diz, os X-Men estão sempre "a um dia ruim" de voltarem a ser inimigos.
8) X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014)
De Bryan Singer. É inspirado em uma das mais idolatradas sagas dos quadrinhos, publicada em 1981 pelo roteirista Chris Claremont e o desenhista John Byrne — e certamente uma influência para O Exterminador do Futuro (1984), de James Cameron. A trama alterna dois tempos: num futuro próximo, os X-Men estão à beira da extinção por causa do ataque dos Sentinelas. Agora aliados, o Professor Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen) enviam Wolverine (Hugh Jackman) em uma viagem de volta a 1973 com o objetivo de impedir o surgimento dos androides criados pelo empresário de tecnologia Bolivar Trask (Peter Dinklage) para auxiliar o presidente Nixon na caçada aos mutantes. A missão no passado tem um desafio extra: Wolverine precisa convencer as versões jovens de Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) a mudarem suas convicções. Mística (Jennifer Lawrence) fica dividida entre a abordagem pacífica de um e a natureza violenta de outro, e sua decisão se torna fundamental para a sobrevivência mutante. Sucesso de bilheteria, o filme é feliz em inserir a ficção dos X-Men no contexto histórico (o que inclui a referência à explosão do consumo de heroína, como sugere o vício do jovem Xavier em uma substância que anula os seus poderes) e em criar cenas de impacto. Destaque para a estreia do hiperveloz Mercúrio (Evan Peters) e para o momento em que Magneto ergue um estádio de futebol americano para cercar a Casa Branca.
7) Deadpool 2 (2018)
De David Leitch. O êxito financeiro do primeiro filme (que custou US$ 58 milhões e faturou US$ 782,8 milhões) deu carta branca para uma sequência mais debochada e mais sanguinolenta, alternando lutar mirabolantes com diálogos que podem ir do pastelão ao grotesco. O excesso de humor acaba jogando contra, pois ora parece repetitivo, ora enfraquece as tentativas de seriedade na trama em que Wade Wilson (Ryan Reynolds, coautor do roteiro) depara com Russell (Julian Dennison), um garoto de 14 anos com poderes incendiários que está revoltado com os abusos que sofre no orfanato de mutantes. Deadpool se solidariza e acaba tendo de proteger o adolescente da sanha vingativa de Cable (Josh Brolin), que veio de um futuro apocalíptico no qual Russell matou sua família. Zazie Beetz está muito bem no papel de Dominó, cuja principal habilidade é ter sorte, e Deadpool 2 tem uma das mais geniais cenas pós-créditos, aquela que faz referência a Lanterna Verde (2011), um fiasco de crítica e de público protagonizado pelo próprio Reynolds.
6) Wolverine: Imortal (2013)
De James Mangold. O primeiro acerto do diretor é desvincular Wolverine do resto do universo X-Men. Esta é uma história solo, baseada na HQ Eu, Wolverine (1982), de Chris Claremont (texto) e Frank Miller (arte), e ambientada quase toda no Japão. No prólogo situado durante a Segunda Guerra Mundial, no dia em que os Estados Unidos vão jogar a bomba atômica em Nagasaki, o protagonista encarnado por Hugh Jackman acaba salvando um soldado japonês, Yashida. No presente, Logan está recluso no Canadá, onde é assombrado pela mulher que amava, Jean Grey (Famke Janssen), a quem ele mesmo teve de matar, em X-Men 3: O Confronto Final, para salvar a humanidade. Ele acaba encontrado pela sensitiva Yukio (Rila Fukushima) a mando do velho Yashida (Haruhiko Yamanouchi), que está prestes a morrer de câncer. Agora um bilionário do ramo da tecnologia, o ancião propõe que Logan transfira suas habilidades de cura para seu corpo, salvando sua vida e aliviando Wolverine de sua quase imortalidade, vista por ele próprio como uma maldição. As coisas se complicam quando a Yakuza, a máfia japonesa, tenta sequestrar a bela Mariko (Tao Okamoto), neta e herdeira de Yashida. O clímax é óbvio e bastante cartunesco, mas, até chegarmos lá, somos brindados por ótimas cenas de ação. A sequência em um trem-bala continua sendo fascinante.
5) Deadpool (2016)
De Tim Miller. Nascido nos gibis da Marvel em 1991, pelas mãos do roteirista Fabian Nicieza e do desenhista Rob Liefeld, Deadpool era um vilão dos Novos Mutantes. O mercenário assassino com poderes regenerativos ganhou força a partir de 1998, quando Joe Kelly (texto) e Ed McGuinness (arte) passaram a produzir histórias cheias de humor nonsense, referências satíricas à cultura pop e quebras da quarta parede (aquela hora em que o personagem fala diretamente com o público). No Brasil, chegou a estrelar três revistas mensais simultâneas, rivalizando com gigantes como Batman e Homem-Aranha.
Essa overdose de quadrinhos decorria, claro, do sucesso dos dois filmes, que estão entre as cinco maiores bilheterias de uma obra com classificação indicativa R-rated da Motion Pictures Association of America (MPAA) — nos EUA, menores de 17 anos tinham de estar acompanhados pelos pais ou responsáveis para assistir a um festival de violência extremamente gráfica e piadas pesadas sobre sexo. Apesar das restrições, Deadpool também conquistou a garotada — aliás, impulsivo e tagarela, ele não deixa de ser uma criança em corpo de adulto. Com tino para a comédia, Ryan Reynolds entrou no clima de zombaria e de escracho do personagem, o que é fundamental para o espectador curtir a trama em que o ex-militar Wade Wilson aceita participar de um programa de criação de supersoldados na esperança de se curar do câncer e, assim, voltar à mulher que ama, Vanessa (Morena Baccarin). O tratamento funciona contra o tumor, mas Wilson fica com o rosto deformado. "Parece que um abacate fez sexo com um abacate mais velho e nojento... Não gentilmente", define seu amigo Weasel (T.J. Miller).
4) X-Men: Primeira Classe (2011)
De Matthew Vaughn. Ambientado na época em que os X-Men surgiram nos quadrinhos da Marvel, funde ficção científica e fatos reais: o pano de fundo é a crise dos mísseis nucleares em Cuba, em 1962, auge da Guerra Fria entre EUA e URSS. Vaughn conta a história de como o telepata Charles Xavier (encarnado com finesse por James McAvoy) e Erik Lansherr (vivido com gana por Michael Fassbender), que controla o magnetismo, se conheceram, antes de se tornarem os mutantes em lados opostos que conhecemos: o Professor X defende a convivência pacífica e colaborativa com os humanos; Magneto prega a dominação do mundo. Mas no filme eles serão aliados contra os vilões Sebastian Shaw (Kevin Bacon) e Emma Frost, a Rainha Branca (January Jones).
Para detê-los, Charles e Erik recrutam uma equipe de super-heróis — a "primeira classe". O filme trabalha bem os grandes temas dos X-Men: a intolerância com os diferentes e a dificuldade de cada indivíduo aceitar aquilo que o difere dos demais — Mística (Jennifer Lawrence), por exemplo, capaz de assumir a forma física de qualquer pessoa, morre de vergonha do próprio corpo. A densidade psicológica não tolhe o humor voltado aos fãs dos personagens (vide as piadinhas sobre a finada cabeleira de Charles Xavier ou a curtíssima aparição de Wolverine). Um grande momento: a cena em que descobrimos como o líder dos mutantes foi parar em uma cadeira de rodas.
3) Deadpool & Wolverine (2024)
De Shawn Levy. E não é que o Deadpool, como diz a piada antecipada nos trailers, pode ser mesmo o Jesus da Marvel? O único empecilho para o 34º longa-metragem oficial do MCU ultrapassar a marca do bilhão nas bilheterias — o que só aconteceu uma vez nos 10 lançamentos anteriores — é a classificação indicativa para maiores de 18 anos. Mas não seria um filme do Deadpool se não houvesse muita violência e muita bagaceirice, geralmente misturadas na mesma cena. Outro elemento característico, a metalinguagem, pode afugentar os neófitos, mas é capaz de fazer os fãs das aventuras de super-heróis voltarem para uma segunda vez: nunca se viu tanta referência. Revelar as citações e as aparições seria um crime — na minha sessão de pré-estreia, na noite desta quarta-feira (24), houve palmas efusivas e gargalhadas estridentes em pelo menos três momentos —, mas dá para contar que se vai do celebratório e do épico à autocrítica e à ridicularização. O alvo varia entre as produções da Fox (que, SPOILER, não se restringiam aos X-Men) e o próprio MCU, que aqui tem seu bagunçado Multiverso praticamente sepultado (e também sobra para o universo cinematográfico da DC!).
A sequência de abertura resume bem essa oscilação. "Só a musiquinha já é de arrepiar", comenta o personagem de Ryan Reynolds (absolutamente à vontade no papel) após aparecer o logotipo do estúdio, para em seguida chamar a Marvel de "idiota". Na cena, ele está desenterrando Wolverine da cova que vimos ao final de Logan (2017). Essa morte, explica Paradox (Matthew Macfadyen), um executivo da Autoridade de Variância Temporal, determinou a morte do mundo em que vive Deadpool. Para evitar o genocídio e, de quebra, ingressar na chamada Linha do Tempo Sagrada, onde poderia almejar uma vaga nos Vingadores, o mercenário tagarela viaja pelas diferentes Terras da Marvel até achar um Wolverine que tope ajudá-lo, nem que seja à base de quebra-pau. Acaba encontrando uma versão do mutante encarnado por Hugh Jackman (absolutamente nascido para o papel) inédita nos filmes, com o uniforme amarelo que o deixou famoso nos quadrinhos — e fazendo as poses típicas dos gibis. Paro por aqui na descrição da trama para não estragar as surpresas. Que, vale reforçar, terão mais graça se você conhecer bastante do que foi produzido (ou até NÃO produzido) nos últimos 25 anos no cinema de super-heróis. Deixo um conselho: assista em uma sala lotada, porque o riso é contagiante. Um lembrete: tem cena pós-créditos. E um alerta: você nunca mais vai ouvir Like a Prayer (1989), da Madonna, sem visualizar o, ora, esplendor físico de Jackman, 55 anos.
2) X-Men 2 (2003)
De Bryan Singer. Lançado há mais de 20 anos, resistiu muito bem à passagem do tempo, mesmo em aspectos que evoluíram bastante de lá para cá, como as cenas de ação e os efeitos visuais. Basta rever a sequência de abertura, um atentado ao presidente dos EUA, em plena Casa Branca, onde Noturno (Alan Cumming) exibe seus poderes de teletransporte acrobático — num instante está aqui, no outro, no teto, deixando para trás uma nuvem de enxofre —, ao mesmo tempo em que a cantata sacra da trilha sonora evoca a religiosidade do personagem.
Inspirado na emblemática história em quadrinhos Deus Ama, o Homem Mata (1982), escrita por Chris Claremont e desenhada por Brent Eric Anderson, o enredo enfatiza a condição dos mutantes como metáfora para todas as minorias perseguidas, sejam étnicas, religiosas ou sexuais — como diz o Professor Xavier (Patrick Stewart) na abertura, "partilhar o mundo nunca foi uma qualidade do homem". Brian Cox interpreta o vilão genocida, o coronel William Stryker, que comanda uma invasão à escola do Professor Xavier (Patrick Stewart) para se apossar do Cérebro, que rastreia mutantes, a fim de eliminá-los da Terra. Perfeito no equilíbrio entre a ação e o drama, com espaço para o desenvolvimento de todos os personagens, X-Men 2 deveria ser o paradigma para qualquer aventura cinematográfica de uma equipe de super-heróis.
1) Logan (2017)
De James Mangold. A despedida que não foi despedida, e o filme de super-herói que menos parece ser um filme de super-herói. A amarga e violenta história se passa em 2029, quando um Wolverine beberrão e ressentido ganha a vida como chofer de limusine, escondendo-se em um refúgio em ruínas na fronteira do México com os EUA, onde cuida, com a ajuda do mutante Caliban (Stephen Merchant), do velho professor Charles Xavier (Patrick Stewart), ex-mentor dos X-Men que apresenta sinais de demência. O aposentado vigilante é obrigado a voltar à ativa quando cruza em seu caminho uma garota de 11 anos com poderes especiais: fruto de experiências de uma empresa de pesquisas genéticas, Laura (Dafne Keen) escapou do laboratório chefiado pelo cientista do mal Zander Rice (Richard E. Grant) e agora corre perigo.
Na companhia de Scott Frank e Michael Green, o diretor James Mangold concorreu ao Oscar de roteiro adaptado, que se baseia na HQ O Velho Logan (2009), escrita por Mark Millar e ilustrada por Steve McNiven. Mas a verdadeira inspiração veio dos filmes de faroeste. A primeira parte da trama, ambientada entre casas abandonadas no meio do deserto, mostra um típico cenário de western. Já na metade, o Professor Xavier e a menina Laura assistem na TV a Os Brutos Também Amam (1953), bangue-bangue clássico que torna uma referência recorrente durante o restante do filme. E o próprio Hugh Jackman disse certa vez que o personagem de Clint Eastwood em Os Imperdoáveis (1992) foi um espelho para a construção do Wolverine cinematográfico.