Houve um tempo em que Thor era associado a batalhas épicas, diálogos pomposos e o tom grave da mitologia nórdica. Tudo mudou em definitivo com Ragnarok, filme que a RBS TV exibe neste domingo (7) na Temperatura Máxima, às 12h30min.
Lançado em 2017 pela Marvel, o terceiro longa-metragem do Deus do Trovão assumiu o lado cômico — para não dizer debochado — do super-herói criado em 1962 pelos quadrinistas Stan Lee (1922-2018) e Jack Kirby (1917-1994).
Em vez das intrigas palacianas à la Shakespeare de Thor (2011), dirigido pelo shakespeariano Kenneth Branagh, ou do escuro Mundo Sombrio (2013), de Alan Taylor, surgem cores extravagantes e abre-se espaço para piadas de salão.
Não poderia ser diferente, afinal, Ragnarok caiu no colo de Taika Waititi, um diretor, roteirista e ator neozelandês acostumado a injetar humor em obras com temas não necessariamente voltados para isso. Vide O que Fazemos nas Sombras (2014), sobre uma família de vampiros, ou o recente Jojo Rabbit (2019), que ganhou o Oscar de roteiro adaptado e concorreu a outras cinco estatuetas — incluindo a de melhor filme — ao retratar a relação entre um gurizinho alemão e um Hitler imaginário (interpretado pelo próprio Waititi).
Quando a Marvel o convocou, o cineasta decidiu, nas suas palavras, fingir que não havia nenhuma revista em quadrinhos ou filme de Thor.
— Queria fazer um filme de heavy metal dos anos 1980 sobre um cara tentando voltar para casa — disse Waititi em entrevista à época da estreia. — Uma premissa simples.
No filme, Thor (Chris Hemsworth) tem seu poderoso martelo destruído pela irmã, Hela (Cate Blanchett), a Deusa da Morte, e é exilado em um estranho planeta, ou uma estranha arena, onde sua única opção de fuga passa por uma luta contra o campeão local. Que é ninguém mais, ninguém menos do que o Hulk (Mark Ruffalo), talvez o mais atormentado dos super-heróis da Marvel (não custa lembrar que foi inspirado no clássico O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson).
A química entre os dois personagens e os dois atores lembra a de Jack Lemmon e Walter Matthau em comédias como Um Estranho Casal (1968) e Dois Velhos Rabugentos (1993). Funciona. Isso, claro, se você estiver no clima. Eu ri pacas, por exemplo, na cena do gigante verde pelado. Ou com a sequência teatral em que Luke Hemsworth — um dos irmãos de Chris —, Sam Neill e Matt Damon interpretam Thor, Odin e Loki.
Waititi contou que, em um dado momento das filmagens, após vários diálogos improvisados, Mark Ruffalo virou para o diretor e perguntou:
— Como ainda não fomos demitidos?
Há quem não goste do resultado, claro. Mas os US$ 853,9 milhões arrecadados superaram as bilheterias dos filmes anteriores (respectivamente, US$ 449,3 milhões e US$ 644,7 milhões). E ratificaram o talento de Chris Hemsworth para o humor, algo que ele empregaria com sucesso na versão O Grande Lebowski de Thor em Vingadores: Ultimato (2019).