A Tela Quente desta segunda-feira (3), na RBS TV, exibe a despedida que acabou de ser cancelada — e talvez o filme de super-herói que menos pareça ser um filme de super-herói. Em cartaz a partir das 22h35min, Logan (2017) era para ser o adeus de Hugh Jackman ao personagem Wolverine. Mas na terça passada (27), um vídeo promocional de Deadpool 3, que estreia em 6 de setembro de 2024, anunciou que o astro australiano de 53 anos vai voltar a interpretar o mutante invocado com garras retráteis e fator de cura.
Logan foi o nono filme em que Jackman, indicado ao Oscar de melhor ator pelo musical Os Miseráveis (2012), encarnou o personagem criado em 1974 pelo editor Roy Thomas, pelo roteirista Len Wein e pelo artista John Romita Sr. (mas seu primeiro desenhista foi Herb Trimpe), nas páginas do gibi do Hulk — em 1975, passou a incorporar a equipe de super-heróis mutantes da Marvel, os X-Men.
No cinema, Wolverine estreou em X-Men (2000) e teve três aventuras solo, sendo a primeira delas X-Men Origens: Wolverine (2009). A lista de longas-metragens se completa com X-Men 2 (2003), X-Men 3: O Confronto Final (2006), X-Men: Primeira Classe (2011), no qual faz apenas uma participação, Wolverine: Imortal (2013), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) e X-Men: Apocalipse (2016) — em que também aparece somente em uma ponta.
A amarga e violenta história de Logan se passa em 2029, quando um Wolverine beberrão e ressentido ganha a vida como chofer de limusine, escondendo-se em um refúgio em ruínas na fronteira do México com os Estados Unidos, onde cuida, com a ajuda do mutante Caliban (Stephen Merchant), do velho professor Charles Xavier (Patrick Stewart, outro veterano da franquia), ex-mentor dos X-Men que apresenta sinais de demência. O aposentado vigilante é obrigado a voltar à ativa quando cruza em seu caminho uma garota de 11 anos com poderes especiais: fruto de experiências de uma empresa de pesquisas genéticas, Laura (Dafne Keen, que depois faria a série His Dark Materials) escapou do laboratório chefiado pelo cientista do mal Zander Rice (Richard E. Grant) e busca a ajuda de James "Logan" Howlett — nome civil de Wolverine. Perseguidos por perigosos e implacáveis vilões liderados pelo mercenário Donald Pierce (Boyd Holbrook, o Coríntio do seriado Sandman), Logan, Laura e Xavier acabam formando uma peculiar família de super-heróis.
O diretor de Logan é o mesmo de Wolverine: Imortal, de Ford vs. Ferrari (2019) e do quinto Indiana Jones (2023), James Mangold. Na companhia de Scott Frank e Michael Green, Mangold concorreu ao Oscar de roteiro adaptado pelo filme da Tela Quente, que se baseia na história em quadrinhos O Velho Logan (2009), escrita por Mark Millar e ilustrada por Steve McNiven. Mas a verdadeira inspiração veio dos filmes de faroeste. Repare, por exemplo, na foto de abertura desta coluna: o herói não lembra um pistoleiro a caminho de um duelo no pôr do sol?
A primeira parte da trama, ambientada entre casas abandonadas no meio do deserto, mostra um típico cenário de western — além de remeter também à saga Mad Max. Já na metade, o Professor Xavier e a menina Laura assistem na TV a Os Brutos Também Amam (1953) — o clássico bangue-bangue torna-se uma referência que será recorrente durante o restante do filme. E o próprio Hugh Jackman já disse que o personagem de Clint Eastwood em Os Imperdoáveis (1992) foi um espelho para a construção do Wolverine cinematográfico.
— Desde o primeiro filme que fiz como Wolverine, busquei me inspirar em Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood, que teve um enorme impacto em mim quando era mais jovem — contou o ator em entrevista ao jornalista Roger Lerina durante o lançamento de Logan no Brasil. — Eu era fã do Clint, mas não particularmente de westerns. Mas esse filme é incrível! Em certo nível, eu estava torcendo por Will Munny durante aquele tiroteio violento do final, mas ao mesmo tempo me sentia desconfortável, porque no final das contas ele destrói tudo. Aquele era o tipo de complexidade que eu queria em Logan.
Na mesma entrevista, Jackman falou sobre como queria que fosse sua então anunciada despedida do personagem:
— Não queria que fosse um filme de quadrinhos. Queria que fosse o filme definitivo sobre esse homem, que, ao olhar para trás, eu tivesse orgulho. Não me entendam mal, eu sou muito orgulhoso dos nove filmes que fiz na franquia. Mas este fala sobre o lado humano de Wolverine, tudo aquilo que acaba ficando em segundo plano nos outros.