Para marcar a estreia de Divertida Mente 2 (Inside Out 2, 2024) nos cinemas, resolvi montar um ranking da Pixar, ordenando seus 28 filmes do pior (poucos se enquadram efetivamente nessa categoria) ao melhor (muitos disputam os primeiros lugares). No tamanho e na dificuldade, o desafio foi semelhante às listas das ficções dirigidas por Martin Scorsese, dos episódios da série Black Mirror e do Universo Cinematográfico Marvel. (Se você quiser conferir, também já classifiquei as obras de Quentin Tarantino, de Christopher Nolan e as adaptações do Batman.)
Afinal, o estúdio de animação digital pertencente à Disney virou sinônimo de criatividade e excelência, apesar de também recorrer a continuações e também estar sujeito a tropeços. Mas o saldo é extremamente positivo: a Pixar venceu 11 das 23 edições do Oscar de longas animados já realizadas, e 16 de seus títulos ultrapassaram a marca dos US$ 500 milhões nas bilheterias. Quatro são bilionários: Toy Story 3, Procurando Dory, Os Incríveis 2 e Toy Story 4.
Seus filmes — todos disponíveis no Disney+, à exceção, claro, de Divertida Mente 2 — misturam aventura, comédia e drama, convidando personagens e espectadores a embarcarem em montanhas-russas para reatar laços afetivos e construir pontes entre o passado, o presente e o futuro. Geralmente, usam cenários coloridos para tratar de temas cinzentos, como a morte, o luto, o esquecimento e a obsolescência. Por isso, encantam os adultos tanto quanto as crianças (ou até mais, em alguns casos).
Estabelecer uma ordem de preferência foi tarefa digna da franquia Missão: Impossível. O critério mais importante não foi o número de prêmios, o sucesso de público ou a aprovação da crítica, mas a conexão afetiva. Quanto mais vezes eu revi um filme com nossas filhas, a Helena e a Aurora, maiores as chances de ocupar um lugar alto no ranking. Quanto mais eu ri ou, principalmente, chorei, melhor. Mas a genialidade do roteiro e as mensagens transmitidas também contaram pontos.
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28) Carros 3 (2017)
De Brian Fee. Relâmpago McQueen é surpreendido por uma nova geração de corredores incrivelmente rápidos. Ao querer mostrar que ainda é o tal, ele provoca um grave acidente e acaba afastado do esporte que tanto ama. Eis o mote para uma típica história de redenção, contada em um desanimador piloto automático.
27) Carros 2 (2011)
De John Lasseter. Só não é o último colocado porque, pelo menos, foi mais audacioso do que Carros 3: Lasseter decidiu promover um coadjuvante do primeiro filme, Mate, o velho Corvette, a protagonista, o que não deu certo, assim como a trama inspirada nas aventuras de James Bond.
26) Elementos (2023)
De Peter Sohn. É uma espécie de Romeu e Julieta transposto para um mundo habitado por seres que representam os quatro elementos da natureza: fogo, água, terra e ar. Na trama, uma jovem mulher flamejante e um rapaz aquático descobrem uma afinidade que pode ser trágica. Se no papel parece interessante, na tela se revelou um dos filmes mais sonolentos e esquecíveis da Pixar. A indicação ao Oscar foi compulsória.
25) Lightyear (2022)
De Angus MacLane. Este é o filme que Andy, de Toy Story, assistiu e que o fez pedir de presente um boneco do personagem Buzz Lightyear. Ou seja, estamos diante de um astronauta "de verdade", que não tem mais a voz de Tim Allen, mas a de Chris Evans, que empresta a sua dignidade de Capitão América (na versão dublada, a interpretação é de Marcos Mion). É uma aventura de ficção científica com visual mais realista, robôs perigosos e paradoxos das viagens no tempo. Não chega a ser ruim, mas falta coração.
24) Universidade Monstros (2013)
De Dan Scanlon. Este prólogo de Monstros S.A., mostrando como Sulley e Mike Wazowski se conheceram, carece da genialidade que (quase) sempre pautou a Pixar. Falta também saber com que público quer conversar. As crianças pequenas podem não entrar nesse universo de faculdade estadunidense, com suas fraternidades, suas disputas por popularidade, o conceito de nerd, a visão romantizada da mãe de um colega. Os adolescentes já são próximos à vida no campus, mas podem achar o filme infantil demais. E nós, os adultos, temos de nos contentar com algumas boas piadas, como a citação aos clichês do terror.
23) O Bom Dinossauro (2015)
De Peter Sohn. Em um cenário pré-histórico no qual os dinossauros não foram extintos, filhote de dino faz amizade com garotinho "selvagem" desgarrado da família. Descontando o período da pandemia, é a pior bilheteria da Pixar: US$ 332,2 milhões. Se a franquia Jurassic Park faz tanto sucesso, inclusive com as crianças, o que explica o desinteresse do público? Um dos motivos é a narrativa absolutamente convencional.
22) Procurando Dory (2016)
De Andrew Stanton. Basicamente, repete a história de busca e resgate vista no já clássico Procurando Nemo. Um ano depois de ajudar Marlin a encontrar seu filho na costa australiana, Dory tem flashes de sua infância em um parque de animais marinhos da Califórnia. Costurando fiapos da memória pregressa, ela convence Nemo e Marlin a auxiliarem na longa viagem para encontrar seus pais. A jornada só reprisa temas (a importância do núcleo familiar, o respeito às diferenças), não tem coadjuvantes tão expressivos quanto os do filme original e o humor de Dory, agora na condição de protagonista, torna-se reiterativo.
21) Vida de Inseto (1998)
De John Lasseter e Andrew Stanton. Nesta adaptação de Os Sete Samurais/Sete Homens e um Destino para uma colônia de formigas, o desastrado Flik precisa recrutar combatentes para defender o local do gafanhoto Hopper, que prometeu aniquilação se não receber o dobro de alimentos. Uma das primeiras produções da Pixar, o filme não tem o charme que caracterizaria o estúdio. Nunca me despertou a vontade de rever na companhia das filhas.
20) Dois Irmãos (2020)
De Dan Scanlon. Neste filme inspirado na cultura dos RPGs e da literatura fantástica, em um mundo urbano habitado por elfos, unicórnios, centauros, sereias e fadinhas, os personagens do título precisam conseguir um encontro mágico com seu pai, que morreu quando ambos eram pequenos. Dois Irmãos é bastante formulaico, com idas e vindas um tanto cansativas, mas, como de hábito na Pixar, oferece momentos epifânicos. Jamais vou esquecer da choradeira na sessão para jornalistas.
19) Red: Crescer É uma Fera (2022)
De Domee Shi. Nenhum desenho da Pixar ganhou uma tradução tão infeliz no Brasil. Turning Red, o título original, quer dizer "ficando vermelho" — será que a Disney ficou com receio de haver alguma interpretação política, alguma associação com comunismo ou, em tempos de eleições presidenciais, com Lula? O fato é que manter em inglês a palavra Red não faz muito sentido (não é o nome da protagonista), assim como Crescer É uma Fera mostra-se uma expressão truncada (melhor seria Crescer É Dose ou A Puberdade É uma Fera). Seja como for, este é um marco na história do estúdio. É o primeiro filme dirigido exclusivamente por uma mulher, o primeiro com elenco predominantemente asiático e o primeiro a tratar de puberdade e menstruação — daí o "ficando vermelho", ora.
18) Soul (2020)
De Pete Docter. Traz o primeiro protagonista negro do estúdio, Joe Gardner, um professor de música que, no dia mais feliz de sua carreira, sofre um acidente na rua e acaba sendo transportado para o pós-vida. Ao lado de uma jovem alma que se torna sua parceira, Joe está determinado a recuperar a sua existência. Mas, para tanto, ele terá de fazer uma reflexão à la A Felicidade Não se Compra (1946). Soul foi laureado em duas categorias do Oscar: melhor animação e trilha sonora, por Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste.
17) Carros (2006)
De John Lasseter e Joe Ranft. Nostalgia e aventura se misturam nesta homenagem de Lasseter à mítica Route 66, rodovia que cruza os EUA de Chicago a Los Angeles. O protagonista é Relâmpago McQueen, jovem carrão de corrida que é a sensação da temporada da Copa Pistão. Mas o que tem de veloz, McQueen tem de metido. Na viagem para a prova final, ele se perde e vai parar na pequena Radiator Springs, cidade que viveu dias de glória quando cortada pela Route 66 e agora não passa de um poeirento ponto fora do mapa. Obrigado a permanecer neste lugar habitado por veículos antigos, McQueen aos poucos descobre o quanto se pode aprender com os mais experientes, a importância do trabalho em equipe e os benefícios de um mundo menos apressado.
16) Os Incríveis 2 (2018)
De Brad Bird. A maior bilheteria da Pixar até agora (US$ 1,24 bilhão) surfa na onda do protagonismo feminino em filmes de ação e aventura. O desenho é parente da franquia Jogos Vorazes (2012-2015) e de títulos como Mad Max: Estrada da Fúria (2015), Mulher-Maravilha (2017), Tomb Raider: A Origem (2018), Capitã Marvel (2019), Arlequina: Aves de Rapina (2020) e Viúva Negra (2021). Na trama, a família de super-heróis está às voltas com crises domésticas decorrentes do orçamento apertado e dos dilemas típicos da adolescência encarados por Violeta. Entra em cena um milionário, Winston, com o plano de usar os Incríveis em uma nebulosa ação de marketing. Mas é Helena, a Mulher-Elástica, a escolhida para ser o rosto da campanha. Assim, cabe a Beto, o Sr. Incrível, encarar a missão de cuidar da casa. Que, perceberá ele, traz emoções e perigos suficientes.
15) Toy Story 2 (1999)
De John Lasseter. Quando Andy sai de férias, um colecionador de brinquedos rapta Woody, então Buzz Lightyear e seus amigos entram em uma missão de resgate. Mas o caubói é tentado pela ideia de viver para sempre em um museu. Pensado inicialmente para ser lançado apenas em vídeo, acabou superando a bilheteria do primeiro filme. Só está no meio do ranking porque de lá para cá a Pixar subiu demais a régua.
14) Valente (2012)
De Mark Andrews e Brenda Chapman. Trouxe a primeira protagonista feminina do estúdio, a adolescente Merida, que, na Escócia medieval, se rebela contra a mãe, a rainha Elinor. Venceu o Oscar de animação e dedica-se, nas palavras da psicanalista Diana Corso, "a inverter vários papéis das princesas dos contos de fadas tradicionais".
13) Luca (2021)
De Enrico Casarosa. Luca e Alberto são dois monstros marinhos adolescentes que, quando fora d'água, assumem a forma humana. Alberto costuma sair do mar, enquanto Luca nunca pisou na terra. Juntos, eles resolvem visitar uma fictícia cidadezinha litorânea da Itália para explorar o mundo em um verão inesquecível, mas tomando cuidado para não revelar seu segredo. Luca é um filme solar e colorido que pode ser interpretado como uma alegoria sobre a vivência de boa parte da população LGBT+.
12) Divertida Mente 2 (2024)
De Kelsey Mann. É exemplar como continuação, pois não se limita a ser apenas um retorno, uma repetição: amplia e desenvolve o elenco de personagens, expande seu universo e seu discurso. Agora que Riley entrou na puberdade, novas emoções surgem na sala de controle para bagunçar a vida da garota: Tédio, Vergonha, Inveja, Nostalgia e, principalmente, Ansiedade. E se Divertida Mente ensinou que todas as emoções são importantes, Divertida Mente 2 ensina que nenhuma emoção nos define. As oscilações e as contradições fazem parte do que constitui uma pessoa.
11) Ratatouille (2007)
De Brad Bird. Ratinho que vive em Paris, Remy sonha em tornar-se um cozinheiro, mas as dificuldades óbvias por não ser humano acabam fazendo com que o pequeno sofra muito preconceito. A saída é formar uma improvável parceria com o novo ajudante de cozinha de um dos principais restaurantes da cidade. Os personagens trapalhões, os vilões caricatos e as correrias desenfreadas deliciam as crianças. Os adultos saboreiam as referências aos rituais da gastronomia e à cultura francesa. A cereja do bolo é o crítico Anton Ego. Foi premiado com o Oscar de animação.
10) Toy Story 4 (2019)
De Josh Cooley. Duração e eventos trágicos à parte, Toy Story 4 é o Vingadores: Ultimato da Pixar. Por coincidência, ambos os filmes foram lançados no mesmo ano e fizeram tremendo sucesso de bilheteria. Ambos demandam que se saiba bastante sobre seus filmes predecessores e nada sobre a história que será contada. É preciso conhecer os personagens e seu passado, estar envolvido, mas também é preciso evitar qualquer tipo de spoiler, pois as surpresas são gatilhos emocionais — se não cheguei a chorar em Ultimato, faltou mão para secar o rosto no terço final de TS 4. Ganhou o Oscar de animação.
9) Up: Altas Aventuras (2009)
De Pete Docter. A sequência de abertura de Up é uma peça antológica sobre companheirismo e finitude. A partir daí, o quase octogenário Carl precisa elaborar seu luto e aprender um novo jeito de viver, descobrindo que é, sim, possível voltar a amar — não substituir — e a sonhar. Conquistou o Oscar nas categorias de animação e trilha sonora (Michael Giacchino) e é um dos dois filmes da Pixar a também ter competido ao prêmio de melhor filme — o outro é Toy Story 3.
8) Os Incríveis (2004)
De Brad Bird. Foi o primeiro título da Pixar somente com personagens humanos: a família de super-heróis formada pelo pai, Beto, o fortão Sr. Incrível; a mãe, Helena, a Mulher-Elástica; a adolescente Violeta, que tem o poder de ficar invisível e criar campos de força; o guri Flecha, superveloz; e o bebê Zezé, que ainda está aprendendo a lidar com seus superpoderes. Tipos assim já foram vistos como heróis, mas os danos colaterais levaram o governo a criar um "programa de realocação", forçando-os a abandonar seus uniformes e viver como civis — o que permite a Bird aludir à perseguição aos comunistas empreendida pelo Macarthismo nos EUA dos anos 1950. Sentindo falta dos tempos de aventura, o Sr. Incrível vê uma chance de entrar em ação novamente quando um velho inimigo volta a atacar. Casamento perfeito entre comédia e filme de ação, celebrou o universo dos quadrinhos e da franquia 007 e foi premiado com o o Oscar de melhor animação.
7) Toy Story 3 (2010)
De Lee Unkrich. Mais de 10 anos após Toy Story 2, o reencontro com a querida turma de brinquedos liderada pelo caubói Woody e pelo robô Buzz Lightyear tem um tom melancólico. O outrora menino Andy está saindo de casa rumo à universidade, o que faz os bonecos há muito escanteados temerem por seu destino. Eles acabam indo parar em uma creche, onde são hostilizados por uma gangue chefiada por um urso de pelúcia traumatizado pelo abandono de seu antigo dono. A risada das crianças está garantida, enquanto os adultos não seguram a emoção diante de temas como o fim da infância, o tempo que parece passar voando e a hora de os filhos saírem de casa. Recebeu o Oscar de animação e o de canção original (We Belong Together, por Randy Newman) e disputou mais três categorias, incluindo a de melhor filme.
6) Procurando Nemo (2003)
De Andrew Stanton. Um dos filmes mais amados da Pixar, narra a epopeia do peixe-palhaço Marlin, que cruza os mares para salvar do aquário de um dentista australiano seu único filho, Nemo (o nome homenageia o herói do clássico literário 20 Mil Léguas Submarinas, de Julio Verne). Na companhia da simpática Dory, que sofre de um tipo de amnésia temporária, o pai enfrenta perigos como uma floresta de águas-vivas e encontra personagens como uma tartaruga de 150 anos que fala como surfista, um pelicano fofoqueiro e um tubarão que tenta se livrar do vício de comer peixes. Uma diversão para o público mais velho é pescar as referências, que vão de Bambi a Tubarão, de Fugindo do Inferno a Amnésia. Foi o primeiro título da Pixar a ganhar o Oscar de animação, depois da derrota de Monstros S.A. para Shrek em 2002, e também competiu nas categorias de roteiro original (Andrew Stanton, Bob Peterson e David Reynolds), trilha sonora (Thomas Newman) e edição de som.
5) Viva! A Vida É uma Festa (2017)
De Lee Unkrich e Adrian Molina. Na trama premiada com o Oscar de melhor animação e baseada na tradição mexicana do Dia dos Mortos, Miguel Rivera é um menino de 12 anos que acidentalmente atravessa o portal para o além. Lá, busca a ajuda de um músico, Héctor, para voltar ao mundo dos vivos. Parece a sinopse de um genérico thriller sobrenatural, mas Viva tem muito mais camadas.
Para começar, essa celebração do México foi lançada nos cinemas dos Estados Unidos no primeiro ano da presidência de Donald Trump, ferrenho defensor da construção de um muro entre os dois países. Um dos elementos centrais da trama é a música — por extensão, a cultura, tão vilipendiada ultimamente. E, em tempos de pandemia, guerras e tragédias climáticas, o filme toca fundo nos temas do luto e da saudade. Faz um apelo e uma ode à memória: "Lembre de mim / Hoje eu tenho que partir / Lembre de mim / Se esforce pra sorrir / Não importa a distância / Nunca vou te esquecer / Cantando a nossa música / O amor só vai crescer", dizem os versos da versão em português da canção oscarizada, a inesquecível Lembre de Mim — em inglês, Remember Me, de Kristen Anderson-Lopez (letra) e Robert Lopez (música).
4) Toy Story (1995)
De John Lasseter. O filme onde tudo começou. A Disney ainda contava os milhões arrecadados com O Rei Leão (1994) quando decidiu apostar no futuro e no talento dos jovens animadores da Pixar para realizar o primeiro longa de animação totalmente digital. Lasseter buscou em seu gracioso curta Brinquedinho (1988), vencedor do Oscar, o tema de Toy Story: uma fábula sobre a amizade contada pelo ponto de vista dos brinquedos. Woody é um caubói que vê ameaçado o seu posto de boneco favorito quando o garoto Andy ganha de aniversário o vistoso astronauta Buzz Lightyear. Enciumado, Woody tenta se livrar de Buzz, e eles vivem às turras até se unirem numa grande aventura para enfrentar o menino malvado da casa ao lado que gosta de torturar e mutilar brinquedos.
Na comparação com os títulos mais atuais do estúdio, a dierença de qualidade técnica pode saltar aos olhos, mas os componentes mágicos já estavam lá: a criatividade, o humor, a sensibilidade, o desenvolvimento dos personagens, a alternância das sequências de ação com os momentos reflexivos sobre o comportamento humano. E o primeiro Toy Story ainda legou uma canção imortal, doce na melodia e certeira na letra, You've Got a Friend in Me, de Randy Newman, no Brasil traduzida como Amigo Estou Aqui: "Amigo, estou aqui! / Amigo, estou aqui! / Os seus problemas são meus também / E isso eu faço por você e mais ninguém / O que eu quero é ver o seu bem / Amigo, estou aqui! / Amigo, estou aqui!".
3) Monstros S.A. (2001)
De Pete Docter. Aborda talvez o maior de todos os medos infantis: monstros. Os personagens Sulley (grande, com chifres e pelo azul) e Mike (uma espécie de bola verde com um olho apenas) têm a missão de assustar a população infantil para gerar energia em seu mundo. A graça é que, ao conhecerem a menininha Boo, eles descobrem que fazer as crianças rirem é muito mais vantajoso. E não faltam cenas engraçadas, desde investidas na comédia pastelão até momentos dignos do cinema mudo, como o da criatura gosmenta que, depois de limpar o chão, deixa um rastro de meleca ao sair.
O fator afetivo justifica a presença no top 3, diferentemente do que se costuma ver em outros rankings (é o sétimo conforme os usuários do IMDb, o nono de acordo com o A.V. Club, o 11º segundo as avaliações compiladas no Rotten Tomatoes e também na lista do IndieWire, o 14º na classificação da Vulture). Monstros S.A. foi certamente o filme da Pixar que eu mais vi com minhas filhas. Em todas as vezes, chorei ou no mínimo me arrepiei na cena final.
2) Wall-E (2008)
De Andrew Stanton. Uma das animações mais políticas da Pixar, é também uma das mais românticas. E é a que tem menos diálogos e menos piadas. No filme, a Terra de 2805 já foi abandonada pelos humanos, que, depois de centenas de anos em uma espécie de cruzeiro intergaláctico, ficaram obesos, alienados e preocupados apenas com si mesmos. Deixaram para trás apenas um planeta imerso em lixo. O personagem do título é um pequeno robô, que vive solitário em sua missão de limpar o que ficou. Aí, uma nave traz a avançada robô EVA (cujo desenho teve colaboração de Jonathan Ive, designer da Apple), que veio procurar sinais de vegetação e vira objeto da afeição de Wall-E.
Com citações de clássicos da ficção científica, como 2001: Uma Odisseia no Espaço, Guerra nas Estrelas e até a franquia Alien (no original, a voz do computador de bordo é da atriz Sigourney Weaver), Wall-E é o filme da Pixar com mais indicações ao Oscar: foram seis, nas categorias melhor animação (a única premiada), roteiro original (de Stanton, Pete Docter e Jim Reardon), trilha sonora (Thomas Newman), canção original (Down to Earth, com música de Newman e letra de Peter Gabriel), edição de som e mixagem de som.
1) Divertida Mente (2015)
De Pete Docter. A Pixar atinge a perfeição, o equilíbrio exato e extraordinário entre a comédia de aventura e o drama pungente, entre a montanha-russa e a jornada reflexiva, entre o diálogo direto com as crianças e a conversa inteligente com os adultos. O principal cenário é a mente de uma menina de 11 anos, Riley, abalada pela mudança da famíliado frio Estado de Minnesota para a ensolarada Califórnia. Dentro de sua cabeça, veremos o embate entre seus diferentes estados de espírito, batizados, na versão brasileira, de Alegria (cuja forma remete a uma estrela), Tristeza (uma lágrima), Medo (um nervo), Raiva (um tijolo) e Nojinho (um brócolis). A Alegria tenta manter as rédeas na sala de controle, só que a distância das amigas e de passatempos como o hóquei no gelo falam alto, permitindo que a Tristeza se sobreponha. A relação entre essas duas personagens, conforme a psicanalista Ana Laura Giongo, "retrata a forma como nossa cultura lida com a tristeza: ela tem de ficar 'presa', é inútil e incômoda. Assim, uma das riquezas do filme é dar à tristeza um lugar de valor: um sentimento necessário, que permite refletir e dar sentido à experiência vivida".
Vencedor do Oscar de animação e indicado à estatueta de roteiro original (Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley e Ronnie del Carmen), Divertida Mente nos leva a visitar as memórias de Riley. Conhecemos suas ilhas de personalidade e deparamos até com o amigo imaginário da guria, agora jogado no limbo. É esse personagem, o Bing Bong, uma mistura de elefante, gato, golfinho e algodão doce, quem conduz um dos momentos mais geniais: a viagem pelo trem do pensamento, que inclui paradas no estúdio de cinema onde são produzidos os sonhos e no sombrio subconsciente, onde estão escondidos os piores temores da menina. O final dessa passagem é tão simbólico quanto contundente.