Divertida Mente 2 (Inside Out 2, 2024) estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20) nadando na onda nostálgica que atingiu Hollywood e surfando no sucesso de bilheteria.
A temporada está marcada por continuações ou prelúdios de filmes produzidos décadas atrás. A Primeira Profecia, por exemplo, narra o que se passou antes do clássico de terror A Profecia (1976). Um Tira da Pesada 4 vai estrear em julho, na Netflix, 40 anos depois de sua estreia e 30 depois da última aparição do policial interpretado por Eddie Murphy. Também em julho, Twisters dá novos ares à segunda maior bilheteria de 1996, Twister. Em setembro, Beetlejuice: Os Fantasmas Ainda se Divertem ressuscita a comédia sobrenatural de 1986. Mais para o final do ano, Gladiador 2 retoma o épico de 2000 ganhador do Oscar, e Mufasa mostra a juventude do pai de Simba, protagonista de O Rei Leão (1994).
No caso de Divertida Mente 2, o intervalo de tempo é bem menor: a Pixar lançou o original em 2015. Mas a prática é a mesma: o estúdio de animação digital pertencente à Disney também resolveu resgatar um êxito do passado. Como já havia feito em Universidade Monstros (2013), que estreou 12 anos após Monstros S.A.; Procurando Dory (2016), sequência tardia de Procurando Nemo (2003); Os Incríveis 2 (2018), que saiu 14 anos depois da primeira aventura; e Toy Story 4 (2019), quase uma década após o suposto fim da trilogia.
Dirigido por Pete Docter, Divertida Mente conseguiu faturar US$ 857 milhões (é a sexta maior bilheteria da Pixar) empregando conceitos da psicanálise e da neurociência. Conquistou o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta de melhor animação com uma história voltada às crianças, mas que também toca profundamente os adultos. Seja por se reconectarem aos episódios formadores de suas vidas, seja por já estarem na condição de pais, testemunhando tempestades emocionais semelhantes àquela que acomete Riley, uma menina de 11 anos abalada pela mudança da família do frio Estado de Minnesota para a ensolarada Califórnia.
O principal cenário dos dois filmes é a mente de Riley. No primeiro, vemos o embate entre seus diferentes estados de espírito: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. A Alegria tenta manter a liderança na mesa de controle, só que a distância das amigas e de passatempos como o hóquei no gelo falam alto, deixando que o Medo e a Tristeza se sobreponham. Esses personagens nos levam a uma viagem — ora colorida e cômica, ora sombria e melancólica — pelas memórias e pelos sonhos da guria, trazendo de volta na bagagem uma lição importante. Como escreveu a psicanalista Ana Laura Giongo, "uma das riquezas de Divertida Mente é dar à tristeza um lugar de valor: um sentimento necessário, que permite refletir e dar sentido à experiência vivida".
Primeiro longa-metragem realizado por Kelsey Mann, que concebeu a trama com Meg LeFauve (coautora do roteiro dos dois títulos), Divertida Mente 2 é exemplar como continuação, pois não se limita a ser apenas um retorno, uma repetição: amplia e desenvolve o elenco de personagens, expande seu universo e seu discurso. Já desponta como favorito ao Oscar de animação, tanto pela recepção da crítica quanto pelo sucesso de público.
Com US$ 155 milhões arrecadados, tornou-se a maior bilheteria de estreia nos Estados Unidos em 2024, superando Duna: Parte 2 (US$ 82,5 milhões) e Godzilla x Kong: O Novo Império (US$ 80 milhões). É também o único filme desde Barbie, em julho de 2023, a ultrapassar a marca dos US$ 100 milhões. O status de salvador da lavoura em Hollywood é corroborado pelo desempenho no Exterior: já foram US$ 1570 milhões faturados, e isso sem contar mercados gordos onde ainda não foi lançado, como França, Itália, Espanha, Brasil, China e Japão. Ou seja: Divertida Mente 2 tem potencial para virar o primeiro título da temporada a alcançar US$ 1 bilhão.
Como é a história de "Divertida Mente 2"
Na nova trama, Riley tem 13 anos e está prestes a ingressar no Ensino Médio. Eficientemente, Divertida Mente 2 reapresenta Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho durante uma partida de hóquei no gelo. É na quadra que a garota firmou as amizades com Bree e Grace, e o esporte pode ser um passaporte para seu futuro escolar. Para que ela cause uma boa impressão na treinadora Roberts durante um fim de semana de recrutamento para o time do colégio, Alegria e sua turma acionam um mecanismo que lança as coisas negativas para o fundo da mente de Riley.
Na noite anterior à viagem para acampamento de hóquei, um alarme soa na sala de controle das emoções: Riley entrou na puberdade. Tudo fica mais delicado, mais exagerado: basta um toquezinho da Raiva, por exemplo, no botão para que a menina exploda. As coisas só pioram quando ela descobre que suas duas melhores amigas vão estudar em uma escola diferente. E se agravam com a chegada de cinco novas emoções: Inveja, Vergonha, Tédio (uma adolescente que vive atirada em um sofá, usando um app de celular para interagir), Nostalgia e, principalmente, Ansiedade.
Com a voz de Maya Hawke no original em inglês e dublada por Tatá Werneck na versão brasileira, Ansiedade acaba tomando conta. Mas Inveja e Vergonha também contribuem para que Riley se veja em um conflito — ora pensa "Eu sou uma pessoa legal", ora pensa "Não sou boa o bastante". Para tentar reverter a situação e impedir o caos total, Alegria e companhia terão de empreender uma jornada por lugares inéditos na história, como o Senso de Si Mesmo, o Desfile das Futuras Carreiras e o Toró de Ideias.
E se Divertida Mente ensinou que todas as emoções são importantes, Divertida Mente 2 ensina que nenhuma emoção nos define. As oscilações e as contradições fazem parte do que constitui uma pessoa.
Por fim, um aviso para os apressados: durante os créditos de encerramento do filme, duas ceninhas nos levam para dentro da cabeça dos pais de Riley. Vale a pena segurar um pouco mais o xixi.