Os números da exposição Mundo Pixar, instalada até o dia 28 de janeiro no estacionamento do BarraShoppingSul, em Porto Alegre, impressionam. Como contou o repórter Carlos Redel, a estrutura, que ocupa 3,4 mil metros quadrados, levou um ano para ser construída e demanda 45 dias de montagem em cada nova cidade. No Rio e em São Paulo, a mostra em homenagem ao filmes do estúdio de animação, dos já clássicos Toy Story e Monstros S.A. aos recentíssimos Soul e Luca, atraiu mais de 700 mil visitantes. Na capital gaúcha, o ingresso inteiro para conhecer os 13 ambientes nos finais de semana custa R$ 115 (nas terças, quartas e quintas, a entrada cheia varia entre R$ 85 e R$ 95).
Cento e quinze reais.
É muito caro pelo pouco que o Mundo Pixar oferece.
E não adianta muito crianças de três a 15 anos terem 50% de desconto (até dois anos e 11 meses não pagam), pois menores de 16 anos precisam estar acompanhado por um adulto. Se eu fosse com a Bia, a Helena e a Aurora na sexta, no sábado ou no domingo, pagaríamos quase R$ 325, já com o desconto existente para dois adultos e duas crianças.
Mundo Pixar vende-se como uma exposição imersiva, mas a visitação é rápida demais para ser chamada assim. Fiz o circuito em cerca de meia hora. Para efeito de comparação, minha filha caçula e eu ficamos três horas no Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS, onde o ingresso cheio custa R$ 46.
Falta no Mundo Pixar o que há de sobra na PUCRS — e não só lá, mas também em exposições da Bienal do Mercosul, por exemplo: interatividade. É um passeio estático. Em alguns lugares, tem inclusive o aviso para não tocar. Consiste basicamente em proporcionar espaços instagramáveis, com a reprodução de cenários dos seguintes filmes da Pixar, nesta ordem: Up: Altas Aventuras (2009), Monstros S.A. (2001), Toy Story (1995), Lightyear (2022), DivertidaMente (2015), Ratatouille (2007), Soul (2020), Luca (2021), Carros (2006) e Procurando Nemo (2003).
A lista aponta outra carência da exposição. Compreende-se que não haveria como contemplar todos os 27 longas-metragens já lançados pela Pixar, e tudo bem não dedicar salas a Vida de Inseto (1998) e O Bom Dinossauro (2015), por exemplo. Mas estranhei não ter Os Incríveis (2004), que venceu o Oscar de animação e cuja continuação, em 2018, tornou-se a maior bilheteria do estúdio, com US$ 1,24 bilhão arrecadados. Ou os belíssimos Wall-E (2008) e Viva: A Vida É uma Festa (2017), outros dois ganhadores do prêmio da Academia de Hollywood.
Mas ok. Há atrativos no Mundo Pixar. A reconstituição é detalhada, como visto na sala de estar da casa de Carl Fredricksen, o protagonista quase octogenário e bastante rabugento de Up. As portas suspensas de Monstros S.A. despertam a nostalgia, e foi ótima a ideia de, nos espaços de Toy Story e Ratatouille, colocar o público na perspectiva dos brinquedos e do ratinho, respectivamente — o quarto de Andy e a cozinha do restaurante Gusteau's foram reconstruídos de forma gigantesca. Palmas também para aromatização dos ambientes, como o de Soul, com uma fragrância típica de barbearia, e o de Luca, com um perfume litorâneo.
O cheirinho de novidade, no entanto, logo se esvai. Fica um gostinho de quero mais. Pelo preço cobrado, eu gostaria de poder abrir as portas de Monstros S.A. Poder tocar o piano do protagonista de Soul. Poder pelo menos fingir pilotar o Relâmpago McQueen, o herói de Carros. Quem sabe degustar um queijinho na cozinha de Ratatouille e controlar as emoções na sala de DivertidaMente. E que tal um jogo para encontrar o peixe-palhaço em Procurando Nemo?
Não há brincadeiras no Mundo Pixar — e, na organização da exposição, ninguém estava brincando em serviço. A visita termina com uma passagem obrigatória pela loja repleta de camisetas, canecas e toda sorte de suvenires dos personagens da Pixar. "Obrigatória" não é ironia: a loja é literalmente a última sala, não existe como ir embora sem atravessar pelo menos um de seus corredores. É tipo "pague para entrar, pague para sair".