Em cartaz a partir desta quarta-feira (12) nos cinemas, Assassino por Acaso (Hit Man, 2023) consolida Glen Powell como um novo astro de Hollywood.
Texano de 35 anos que estreou fazendo uma ponta em Pequenos Espiões 3 (2003), Powell teve uma ascensão tardia, mas fulminante. Ainda que tivesse integrado o elenco de uma franquia popular, Os Mercenários 3 (2014), e de um concorrente ao Oscar de melhor filme, Estrelas Além do Tempo (2016), na pele do astronauta John Glenn, podemos dizer que era um ilustre desconhecido até aparecer em Top Gun: Maverick (2022). Nesse estrondoso sucesso — quase US$ 1,5 bilhão nas bilheterias e seis indicações ao Oscar —, o ator deu vida a Hangman, personagem cuja rivalidade com um piloto de elite evoca a do protagonista (Tom Cruise) com Iceman, na aventura aérea de 1986.
Foi ali que, com o perdão do trocadilho, sua carreira decolou.
Depois de Top Gun: Maverick, Powell estrelou outro filme de ação com aviões, Irmãos de Honra (2022), ao lado de Jonathan Majors — que até então, antes das denúncias de agressão a uma mulher, era o novo grande vilão do Universo Cinematográfico Marvel, Kang, o Conquistador. No filme seguinte, a comédia romântica Todos Menos Você (2023), contracenou com outro nome quente em Hollywood: Sydney Sweeney. A dobradinha rendeu US$ 220 milhões, uma das maiores arrecadações do gênero nos últimos tempos.
Em julho, será visto em uma das mais inesperadas continuações: Twisters (2024). Indicado ao Oscar de melhor direção pelo sensível drama Minari (2020), o cineasta estadunidense de origem sul-coreana Lee Isaac Chung revisita Twister (1996), segunda maior bilheteria daquela temporada. Daisy Edgar-Jones e Anthony Ramos fazem uma dupla de caçadores de tempestades que vai ter seu caminho cruzado com o personagem de Glen Powell, um ícone das redes sociais.
O futuro inclui: a refilmagem, por Edgar Wright, de O Sobrevivente (1987), distopia baseada em livro de Stephen King (no original, Arnold Schwarzenegger enfrentava uma competição na qual os prisioneiros devem correr para a liberdade e evitar uma morte brutal); Monsanto, encarnando uma figura real, o advogado Brent Wisner, que, em nome do jardineiro Dewayne Johnson, processou a homônima empresa multinacional por não alertar que o glifosato contido em seus agrotóxicos era cancerígeno; e Chad Powers, uma série cômica sobre um jogador de futebol americano em desgraça que assume uma nova identidade para tentar se reerguer. Powell também deve protagonizar uma adaptação do clássico O Céu Pode Esperar (1978).
São tantos projetos, que o ator pôde se dar ao luxo de recusar convite para um novo filme da bilionária franquia Jurassic Park, previsto para 2025. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, ele explicou sua decisão:
— Jurassic Park (1993) é um dos meus filmes favoritos. (Atuar na franquia) É uma das coisas que eu quis fazer a minha vida toda. Mas li o roteiro e imediatamente percebi que minha presença neste filme não o ajuda. O roteiro é ótimo, o filme vai ser incrível, não é esse o motivo. É sobre escolher onde você vai fazer o público feliz e onde você vai se fazer feliz.
Como os títulos acima sugerem, Powell é um ator versátil. Sua polivalência é colocada à prova em Assassino por Acaso, mas não só na frente da câmera. Nesta mistura de comédia romântica e policial, ele também assina como um dos produtores e como coautor do roteiro, escrito com o cineasta Richard Linklater (outro texano), que o dirigiu em Nação Fast Food (2006) e Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (2016) e que recebeu cinco indicações ao Oscar: melhor roteiro adaptado por Antes do Pôr do Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013), sequências de Antes do Amanhecer (1995), e melhor filme, direção e roteiro original por Boyhood (2014).
A trama é inspirada em uma reportagem publicada em 2001 no Texas Monthly pelo jornalista Skip Hollandsworth, a respeito de Gary Johnson, que morreu em 2022, aos 75 anos. O personagem do filme também se chama Gary Johnson. Trata-se de um professor universitário de Filosofia e de Psicologia que leva uma vidinha pacata na companhia de seu gato. Para ajudar no orçamento, trabalha em meio turno na polícia de New Orleans. Quando o policial Jasper (Austin Amelio, o Dwight das séries The Walking Dead) é suspenso, o protagonista é convocado a assumir o posto dele, fazendo se passar por um matador de aluguel para obter confissões.
Rapidamente, Gary descobre que tem um talento natural para a tarefa. Usando seus conhecimentos de psicologia, pesquisa os suspeitos com antecedência e cria um personagem para interagir com cada um. Essa situação permite a Richard Linklater discutir temas como o comportamento humano, a construção da identidade e a projeção de fantasias e a Glen Powell desenvolver diferentes facetas — o que inclui o emprego de perucas, próteses dentárias e maquiagem.
Há uma personalidade em especial que fascina o próprio Gary: a do destemido Ron, que faz a linha galã de barba cerrada e jaqueta de couro. É na sua pele que vai se encontrar com uma mulher que está pensando em assassinar seu marido abusivo. Essa personagem, Madison, é interpretada pela porto-riquenha Adria Arjona, vista nas séries Belas Maldições (2019) e Andor (2022) e nos filmes Esquadrão 6 (2019) e Morbius (2022). Surge uma atração mútua, e Gary vê-se inclinado a infringir as regras do jogo.
Ora frágil, ora sedutora, ora franca, ora dissimulada, Madison é a típica femme fatale dos filmes noir — aliás, como também é característico ao subgênero, em Assassino por Acaso o protagonista narra a história. Mas Richard Linklater aposta demais na fetichização, limitando Arjona a caras e bocas, diálogos maliciosos e ângulos voyeurísticos. Nas palavras do diretor, contudo, as cenas quentes contribuem para rotular a obra como um "entretenimento adulto".
No fim das contas, com uma trama mais longa e previsível do que deveria ser, Assassino por Acaso é um passatempo despretensioso mas recheado por alguns monólogos e diálogos pretensiosos — como se Linklater quisesse agradar seus fãs. Vale menos pela química sexual que vem sendo incensada no próprio marketing (acho que há muito mais tesão em Rivais) — daí a estreia, no Brasil, no Dia dos Namorados — do que pela confirmação de Glen Powell. Este não é um astro por acaso.
