Deu empate na enquete sobre clássicos do terror promovida no canal da coluna no WhatsApp para marcar esta sexta-feira 13. Dos leitores participantes, 22,7% votaram em Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, disponível no menu do Telecine, e outros 22,7% escolheram O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, que pode ser visto na plataforma Max.
Em terceiro lugar, com 18,7%, ficou A Hora do Pesadelo (1984), de Wes Craven. O Exorcista (1973), de William Friedkin, recebeu 14,7% dos votos, e Halloween (1978), de John Carpenter, 9,3%.
Completavam a enquete À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), de José Mojica Marins, O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polanski, A Noite dos Mortos-Vivos (1968), de George A. Romero, O Homem de Palha (1973), de Robin Hardy, e O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper. A seguir, leia mais sobre os dois campeões de popularidade.
Psicose (1960)
Psicose foi o maior sucesso comercial de Alfred Hitchcock (1899-1980) e nasceu em um momento emblemático da carreira do cineasta. Seu projeto anterior, Intriga Internacional (1959), não havia tido a recepção esperada, e muitos críticos o viam em crise criativa. O mestre surpreendeu a todos com uma produção de baixo custo que ele rodou em preto e branco com a mesma equipe que fazia seu seriado de histórias fantásticas na TV.
O filme é baseado no livro homônimo de Robert Bloch que, por sua vez, foi vagamente inspirado no caso do assassino e ladrão de túmulos Ed Gein (1906-1984). Janet Leight interpreta Marion Crane, secretária que rouba US$ 40 mil da imobiliária onde trabalhava, em Phoenix, no Arizona, para pagar as dívidas de seu amante. Na sua fuga, sai dirigindo sem destino pelas estradas, e quando começa uma tempestade vai parar no Motel Bates, um lugar decadente administrado pelo personagem que imortalizou o ator Anthony Perkins, Norman Bates, e pela autoritária mãe dele.
Por natureza, cineastas e atores vivem enganando os espectadores. Neste que é apenas um de seus clássicos, Hitchcock aplicou um dos maiores golpes do cinema e deu vida a um dos mais célebres plot twists: fez a plateia achar que estava contando a história de Marion, até que a famosa e fatídica cena do chuveiro mostrou que a história sendo contada era outra.
O assassinato da personagem de Janet Leigh talvez seja uma das mortes mais marcantes de todos os tempos. O diretor passou uma semana filmando a cena, que dura 45 segundos e usa 70 posições diferentes da câmera. Tudo é sublinhado pelas cordas nervosas da trilha sonora composta por Bernard Herrmann.
Em 1998, o cineasta Gus Van Sant refilmou Psicose quadro a quadro, mas em cores, trazendo no elenco Anne Heche, Vince Vaughn, Viggo Mortensen e Julianne Moore. Pouco apreciada, essa versão está disponível para aluguel no YouTube.
O Iluminado (1980)
O Iluminado é outro marco cinematográfico a ser visto e revisto. E é também um dos mais notórios casos no debate sobre adaptações de obras literárias.
O filme é a versão do diretor Stanley Kubrick (1928-1999) para um romance do escritor Stephen King, hoje com 77 anos. Basicamente, King reclama da falta de fidelidade por parte de Kubrick (1928-1999), especialmente em relação ao protagonista.
No livro, o aspirante a escritor Jack Torrance é um bom pai que, aos poucos, vai sucumbindo ao alcoolismo e ao isolamento no Overlook, um hotel assombrado nas montanhas do Colorado, nos EUA, onde ele vai trabalhar como zelador durante os cinco meses em que o lugar fica fechado por causa da neve. No filme, a bebida mal aparece, e desde os primeiros minutos o personagem interpretado por Jack Nicholson é detestável.
Mas um detestável adorável, né? Somos capazes de decorar e repetir todas as suas falas e seus trejeitos enquanto começa a surtar e a ameaçar sua esposa e seu filho pequeno e sensitivo (daí o "iluminado" do título) - Wendy (Shelley Duvall, excelente no papel) e Danny (Danny Lloyd, em seu único trabalho de ator).
Conhecido por seu rigoroso perfeccionismo, o cineasta de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e Laranja Mecânica (1971) imprimiu em O Iluminado um clima de progressiva tensão psicológica que vai embaralhando realidade e alucinação. A tela grande permite também apreciar elementos com os quais o diretor tinha um esmero de artesão, da cenografia à precisão dos movimentos de câmera, da trilha sonora às expressões dos atores, submetidos a repetições de tomadas por vezes excruciantes até obterem a aprovação de Kubrick.
Com o tempo, a mitologia dos fãs em torno de O Iluminado ganhou dedicação religiosa (ao mesmo passo em que o filme era reverenciado, copiado ou parodiado). Tanto que rendeu o curioso documentário O Labirinto de Kubrick (Room 237, 2012, indisponível no streaming), no qual o diretor Rodney Ascher compila as mais intrigantes e malucas teorias que procuram no clássico significados diversos e mensagens subliminares. Ascher coloca o filme em perspectiva com a obra de Kubrick, exibe bastidores das filmagens, destaca as brilhantes inovações técnicas e segue as "pistas" que o mestre teria deixado sobre temas tão distintos como o genocídio dos indígenas nos EUA e "farsa" da chegada do homem à Lua, em 1969.
Crítico de primeira hora da versão de seu livro publicado originalmente em 1977, Stephen King escreveu em 2013 uma continuação, Doutor Sono. O romance também foi levado ao cinema, desta vez com aprovação do mestre do suspense. Sob direção de Mike Flanagan (das minisséries A Maldição da Residência Hill e Missa da Meia-Noite), Doutor Sono (2019, disponível na plataforma Max) começa mais ou menos de onde O Iluminado parou. Logo depois, Ewan McGregor encarna um Danny adulto, lidando com os traumas dos eventos ocorridos no Overlook e encarando novos perigos.
Fica a dica: veja O Iluminado e depois assista a Doutor Sono.
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