Em 2023, nós, os fãs de terror, comemoramos os 50 anos de um clássico do gênero: O Exorcista (The Exorcist, 1973), atualmente disponível na plataforma de streaming Amazon Prime Video. Por uma triste coincidência, também em 2023 lamentamos a morte de seu diretor, William Friedkin, ocorrida nesta segunda-feira (7). O cineasta estadunidense tinha 87 anos e deixa um currículo que inclui Operação França (1971), ganhador de cinco Oscar — melhor filme, diretor, ator (Gene Hackman), roteiro adaptado e edição — e Viver e Morrer em Los Angeles (1985).
Ainda hoje, a história sobre a menina possuída pelo belzebu impressiona, tanto pelas atuações quanto pela atmosfera, pelos sustos e mesmo pelos efeitos especiais. Primeiro terror indicado ao Oscar de melhor filme, ganhou as estatuetas douradas de roteiro adaptado, assinado por William Peter Blatty a partir de seu próprio romance homônimo, publicado em 1971, e som. E também foi indicado nas categorias de direção (Friedkin), atriz (Ellen Burstyn), ator coadjuvante (Jason Miller), atriz coadjuvante (Linda Blair), fotografia, edição e direção de arte.
O Exorcista deu origem não apenas a uma franquia — teve três sequências e terá uma quarta em outubro de 2023, sob direção de David Gordon Green (o mesmo da recente trilogia Halloween) e trazendo no elenco a veterana Ellen Burstyn, 90 anos, dois filmes do tipo prequel e uma série de TV —, mas ao próprio subgênero dos títulos de exorcismo. Mesmo proibido para menores de 18 anos, o longa-metragem que estreou em 26 de dezembro de 1973 foi um campeão de bilheteria. Globalmente, arrecadou US$ 441,3 milhões. Contribuíram para isso o sucesso do livro original, que era inspirado em um suposto caso real de possessão demoníaca, ocorrido em 1949, no Estado de Maryland, e já vendeu mais de 13 milhões de exemplares apenas nos Estados Unidos, e a fama de que gozava o diretor por causa de Operação França.
Trata-se de uma entre tantas produções de Hollywood a estabelecer o Oriente como berço dos males que afligem o mundo. Se na série The Last of Us (2023) é na Indonésia que começa o surto do fungo cordyceps que arrasou a população, no filme de 1973 o Iraque surge como cenário inicial. Em um sítio arqueológico próximo à antiga cidade de Nínive (Mossul), o padre e arqueólogo Merrin (interpretado por Max von Sydow) visita uma escavação onde acaba deparando com uma pequena escultura de pedra de uma criatura bestial. É a imagem de um demônio babilônico e assírio, o Pazuzu.
Depois desse prólogo deslumbrante e bastante silencioso, vamos para Georgetown, um bairro histórico de Washington, onde conheceremos os demais personagens da trama. Damien Karras (papel de Jason Miller) é um jovem padre da Universidade de Georgetown que começa a duvidar de sua fé ao lidar com a doença terminal de sua mãe. Chris MacNeil (Ellen Burstyn) é uma atriz que está filmando em Georgetown e passa a perceber estranhas mudanças de comportamento em sua filha de 12 anos, Regan (Linda Blair).
São convulsões, vômitos, levitações e muitos palavrões. A mãe chega a pensar que é apenas coisa da entrada na puberdade, mas os médicos solicitam uma série de exames médicos. Nada é constatado, então a próxima parada é em um psiquiatra, a quem Regan ataca. O negócio é chamar um exorcista.
Com o diabo no corpo, Regan dá um show de horrores. Em uma das cenas, a menina desce a escada de casa completamente arqueada para trás, como se fosse uma aranha aterrador. Em outra, se masturba com um crucifixo. Os padres são grosseiramente insultados, mas o filme encontra tempo e espaço para a fina zombaria, como quando o Pazuzu pede, com certa polidez:
— Eu sou o demônio. Agora, gentilmente, retire essas amarras que me prendem.
— Se você é o demônio, por que não as faz desaparecer? — retruca o padre Karras.
— Seria uma exibição vulgar do meu poder — arremata o belzebu.
A maldição de "O Exorcista"
Como todo clássico, a história de O Exorcista está recheada por curiosidades saborosas. Ou longe disso. Na verdade, os bastidores do filme parecem ser amaldiçoados. A lista inclui:
- Incêndio no set de filmagem. Quase todo o cenário da casa da família MacNeil pegou fogo, exceto, vejam só, o quarto de Regan.
- Acidente com Ellen Burstyn. O grito de dor que se ouve na cena em que Chris MacNeil cai no chão é real. A atriz sofreu uma grave lesão vertebral quando o técnico responsável por puxá-la com uma corda atendeu à ordem do diretor Willian Friedkin de "dar tudo de si".
- Mortes na equipe e no entorno. O ator Jack MacGowran, que interpreta o primeiro personagem a morrer na trama, morreu uma semana após as filmagens, de pneumonia. Vasiliki Maliaros, que fazia o papel da mãe do padre Karras, também faleceu pouco depois de encerrar seu trabalho. Max von Sydow e Linda Blair perderam, respectivamente, um irmão e um avô. Durante a produção, também foram registradas as mortes de um vigia noturno (assassinado a tiros enquanto estava de plantão) e um especialista em efeitos especiais.
- Um assassino no elenco. O técnico de raio-X Paul Bateson, que faz uma ponta em O Exorcista em uma sequência no hospital, foi condenado em 1979 pelo assassinato de Addison Verrill, jornalista que cobria a indústria cinematográfica. Suspeita-se que Bateson seja o culpado pela morte de outras seis pessoas, todas encontradas dentro do Rio Hudson com os corpos desmembradas.