O corpo de uma garotinha brutalmente assassinada é encontrado na neve no começo de A Promessa (The Pledge, 2001), que acaba de ser adicionado ao menu da Netflix. Em seu último dia antes da aposentadoria, um detetive (Jack Nicholson) jura aos pais da vítima, pela "salvação de sua alma", que vai achar o culpado. Então, o que parece o enredo de mais um ordinário filme policial estadunidense torna-se, pelas mãos do ator e diretor Sean Penn, uma portentosa e exasperante história sobre obsessão e destino. É um filmaço que muita gente pode estar descobrindo só agora, tanto que logo entrou no top 10 da plataforma de streaming.
A Promessa é baseado em romance do suíço Friedrich Dürrenmatt e foi o terceiro longa-metragem assinado por Penn, que recentemente realizou Superpower (2023), um documentário sobre a guerra na Ucrânia. Como em Acerto Final (1995), o ganhador do Oscar de melhor ator por Sobre Meninos e Lobos (2003) e Milk: A Voz da Igualdade (2008) dirige Nicholson, vencedor de três estatuetas douradas: melhor ator por Um Estranho no Ninho (1975), ator coadjuvante por Laços de Ternura (1983) e de novo melhor ator por Melhor É Impossível (1997). O elenco ilustre inclui Patricia Clarkson, Benicio del Toro, Aaron Eckhart, Helen Mirren, Robin Wright (à época ainda casada com Penn), Vanessa Redgrave, Mickey Rourke, Sam Shepard e Harry Dean Stanton.
Nicholson tem um desempenho cativante no papel de Jerry Black, honrado policial de Reno, em Nevada. Na primeira cena, em um cenário deserto e árido, o personagem surge bêbado, com um machucado na testa, falando sozinho e socando uma mão na outra. Dali, vamos para outro momento em que o detetive se sente solitário e perdido: seu derradeiro dia de trabalho.
Quando recebe a notícia do assassinato da garotinha, Jerry insiste com os colegas para ajudar. Assume a ingrata tarefa de comunicar os pais da menina — em sequência vigorosa, que começa em um celeiro com milhares de perus, onde ouve-se apenas o barulho das aves.
Logo um jovem e ambicioso policial (Aaron Eckhart) arranca uma confissão dúbia de um indígena (Benicio Del Toro). Jerry não se satisfaz com a solução e decide continuar a investigar por conta. Capturar o verdadeiro "monstro" vira uma missão.
À medida em que o filme avança, Sean Penn prega peças no público: há motivos tanto para crer nas hipóteses do detetive quanto para desconfiar que a promessa está perturbando seu juízo. O diretor mostra tino para criar cenas de suspense que não investem no óbvio ao mesmo tempo em que extrai de Nicholson detalhes de atuação insuspeitados.