Dizem que todo mundo adora séries policiais. Então, é possível que vocês já tenham assistido às dicas listadas abaixo.
Se ainda não viu, que tal aproveitar a chegada do fim de semana para maratonar alguma(s) minissérie(s) ou começar a ver um seriado mais longo?
Disponíveis no streaming, os 12 títulos me marcaram bastante.
Black Bird
O protagonista desta minissérie de 2022 baseada em uma história real é Taron Egerton, ator indicado ao Globo de Ouro por Rocketman, a cinebiografia do cantor Elton John. Ele interpreta James Keene, o Jimmy, um filho de policial (o último papel de Ray Liotta) e um promissor jogador de futebol americano que enveredou para o tráfico de drogas. Dono de um pequeno império em Chicago, ele acaba preso em uma operação do FBI. Enquanto isso, vemos o surgimento dos outros dois personagens importantes. Um é o detetive vivido por Greg Kinnear, que investiga o desaparecimento — e provável assassinato — de jovens mulheres. O outro é o principal suspeito, Larry Hall, um tipo excêntrico que adora participar de reencenações da Guerra Civil e é encarnado por Paul Walter Hauser (de Eu, Tonya e O Caso Richard Jewell). A combinação de seu físico roliço com a voz estridente e as costeletas suíças do personagem transformam Larry em um sujeito ora bizarro, ora patético, ora perigoso. Essas duas narrativas, a de Jimmy e a de Larry, são cruzadas pelo escritor policial Dennis Lehane, autor dos livros que inspiraram filmes como Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood, e Ilha do Medo, de Martin Scorsese. (6 episódios, Apple TV+)
Cold Case
Ambientado na Filadélfia, Cold Case foi criado por Meredith Stiehm e teve sete temporadas entre 2003 e 2010. Kathryn Morris interpreta a detetive Lilly Rush, especializada em investigar casos nunca esclarecidos, o chamado arquivo morto das delegacias. A série segue uma estrutura básica: a abertura mostra os momentos que antecedem um crime do passado, por vezes em preto e branco, e sempre com canções da época — as letras costumam pontuar a própria trama. A trilha sonora apresentou artistas como Frank Sinatra, Ray Charles, Johnny Cash, Bob Dylan, Pink Floyd, Bruce Springsteen, U2, Nirvana, Pearl Jam e Radiohead. No presente, os policiais se encarregam de reexaminar evidências, visitar antigas testemunhas e acertar as contas com os mortos, como se vê nos catárticos epílogos. Na temporada inicial, por exemplo, o oitavo episódio, Fly Away, se encerra com uma versão de Heaven, de Bryan Adams, na voz de Dominique van Hulst, que se torna ainda mais arrepiante diante do contexto em que é empregada. (156 episódios, Amazon Prime Video)
A Cidade É Nossa
Não chega a ser uma continuação de The Wire, ou A Escuta. Mas esta minissérie também foi criada pelo ex-repórter policial David Simon (aqui, na companhia do escritor George Pelecanos); também se passa em Baltimore, cidade no Estado de Maryland que é, estatisticamente, uma das mais violentas no mundo; e também retrata a atuação da polícia local. Enquanto alguns tentam fazer alguma coisa contra o narcotráfico e o crime organizado, mesmo sabendo que suas chances estão entre mínimas e nenhuma, outros apostam na truculência e/ou enveredam para a corrupção. Dirigida por Reinaldo Marcus Green, A Cidade É Nossa (2022) tem uma estrutura narrativa que requer atenção, com vários núcleos de personagens e alternâncias não muito claras entre o passado e o presente. Mas a recompensa é alta para quem curte histórias sobre os meandros policiais. O elenco é uma atração à parte: Jon Bernthal interpreta o sujo sargento Wayne Jenkins, figura central no força-tarefa do combate às armas. Wunmi Mosaku é Nicole Steele, uma advogada designada pela Justiça federal para apurar casos de desrespeito aos direitos civis. Jamie Hector faz Sean Suiter, um detetive de Homicídios que acaba se envolvendo com Jenkins. Josh Charles encarna Daniel Hersl, sobre o qual pesam várias denúncias de maus-tratos. E Dagmara Dominczyk está no papel de Erika Jensen, uma agente do FBI que investiga as ações de Jenkins e companhia. (6 episódios, HBO Max)
Criminal: Reino Unido
Desenvolvida por George Kay, responsável pela adaptação de Lupin, e Jim Field Smith, que dirige as duas temporadas britânicas (2019 e 2020), Criminal: Reino Unido é uma série sobre crimes que não mostra crimes. Tudo se passa dentro de uma delegacia, principalmente na sala onde policiais interrogam o suspeito da vez. Na primeira história, David Tennant, das séries Dr. Who, Good Omens e Jessica Jones, encarna um médico acusado de ter estuprado e assassinado sua enteada adolescente. Hayley Atwell, a Peggy Carter do Universo Cinematográfico Marvel, faz uma mulher que teria envenenado o namorado violento da sua colega de apartamento. Indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Hotel Ruanda, Sophie Okonedo abre a segunda temporada, que traz as participações de Kit Harington (o Jon Snow de Game of Thrones, aqui num registro nada heroico nem honrado) e Kunal Nayyar (o Raj do seriado cômico The Big Bang Theory, aqui mostrando talento para o drama). (7 episódios, Netflix)
C.S.I.
Bolada por Anthony Zuiker e produzida por Jerry Bruckheimer, retratou entre 2000 e 2015 o cotidiano de um grupo de policiais da perícia de Las Vegas. O time original é formado por Gil Grissom (William Petersen), o inteligente, irônico e criativo investigador-chefe, Catherine Willows (Marg Helgenberger), ex-dançarina e mãe separada, Warrick Brown (Gary Dourdan), um perito que confia no instinto e tem uma queda por apostas e jogos de azar, o jovem Nick Stokes (George Eads) e Sara Sidle (Jorja Fox), empática com vítimas de violência doméstica. O clima é frequentemente macabro: há autópsias, câmeras que desvendam o interior dos defuntos e reconstituições dos crimes. Entre os primeiros episódios, os investigadores precisam descobrir o que aconteceu numa casa onde pai, mãe e dois filhos foram mortos com uma faca de cozinha — só duas irmãs (uma adolescente e a outra de quatro anos) sobreviveram. Outra trama tem uma pegada de Agatha Christie e envolve a morte de um passageiro incômodo durante um voo para Las Vegas. Na esteira do sucesso da série, vieram CSI: Miami (2002- 2012), CSI: NY (2004- 2013) e CSI: Cyber ( 2015- 2016). (335 episódios, Paramount+)
O Homem das Castanhas
Não se deixe enganar pelo nome simpático: a minisssérie dinamarquesa lançada em 2021 e baseada no romance homônimo de Soren Sveistrup é um típico exemplar do noir nórdico, cru e violento quando necessário. Em Copenhague, nos dias atuais, uma jovem mãe é brutalmente assassinada. Seu corpo é encontrado em um parque, sem uma das mãos. Próximo do corpo há um pequeno boneco feito de castanhas. Essa é a principal pista para a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic), uma mãe solteira que agora conta com um novo parceiro policial, o instável Mark Hess (Mikkel Boe Folsgaard). Paralelamente, acompanhamos o difícil recomeço da ministra Rosa Hartung (Iben Dorner) — um ano antes, sua filha adolescente desapareceu. (6 episódios, Netflix)
Landscapers
Como aponta a sequência de abertura de Landscapers (2021), o roteirista Ed Sinclair e o diretor Will Sharpe vão enfatizar os aspectos fantasiosos — ou seriam delirantes? Ou seriam mentirosos? — da vida do casal Susan e Christopher Edwards (interpretados magistralmente por Olivia Colman e David Thewlis). Eles são protagonistas de um célebre e chocante caso policial da Inglaterra (o assassinato, em 1998, dos pais de Susan), são duas pessoas atrapalhadas e machucadas que compartilham o gosto por filmes antigos de Hollywood e astros do cinema como Gary Cooper e Gérard Depardieu, e que procuram construir um mundo no qual possam sobreviver. (4 episódios, HBO Max)
Mare of Easttown
Fascinada com o "quem foi" da minissérie criada por Brad Inglesby, Kate Winslet ressaltou que embarcou no projeto porque "não é só a história de um crime". De fato, o crime descoberto no primeiro capítulo é chocante e misterioso, mas serve sobretudo como catalisador dos dramas pessoais e familiares em cidadezinha dos EUA. A morte traz à tona relações e segredos guardados em vida, imagem reforçada pela ambientação numa estação fria, que obriga os personagens a se esconderem atrás de casacos, mantas e gorros. E - até o final — todos têm o que ocultar ou algo do que não gostam de falar. Praticamente perfeita, Mare of Easttown (2021) venceu os Emmys de atriz (Winslet, também premiada no Globo de Ouro, ator coadjuvante (Evan Peters), atriz coadjuvante (Julianne Nicholson) e design de produção. (7 episódios, HBO Max)
The Night Of
Filho de imigrantes paquistaneses em Nova York, o jovem universitário Nasir Khan, o Naz (Riz Ahmed), pega "emprestado" do pai o táxi para ir a uma festa. No meio do caminho, em duas ocasiões pessoas tentam embarcar no carro como passageiro. Mais tarde, uma infração de trânsito, um objeto levado da cena de um crime e uma testemunha ocular vão tornar Naz o suspeito número 1. É esse o resumo do primeiro e fabuloso episódio da minissérie criada pelo escritor Richard Price e pelo cineasta Steven Zaillian.
Trata-se de um retrato minucioso e muito humano das delegacias de polícia, do sistema judicial e dos presídios estadunidenses. À trama de suspense — a certa altura não saberemos se Naz é uma ovelha ou um lobo —, adiciona conotações culturais, políticas e sociais, refletindo o estado de ânimo nova-iorquino para com os muçulmanos pós-11 de Setembro e mostrando penitenciárias como fábricas de bandidos. À excelência do roteiro e da direção de The Night Of (2016), soma-se a do elenco. Ahmed ganhou o Emmy de melhor ator, categoria em que também competia John Turturro, no papel do advogado de porta de cadeia John Stone. Bill Camp concorreu a coadjuvante na pele do detetive Dennis Box, assim como Michael Kenneth Williams, que faz o presidiário Freddy Knight. (8 episódios, HBO Max)
Sherlock
Um elemento costumava ser imutável na transposição das aventuras do fleumático e perspicaz detetive Sherlock Holmes para o cinema e a televisão: a ambientação na Londres do final do século 19. Até que a rede britânica BBC arriscou uma mudança de cenário com Sherlock, que teve quatro temporadas entre 2010 e 2017, com um total de 13 episódios de 90 minutos de duração. O grande achado dos criadores Steven Moffat e Mark Gatiss é mostrar os personagens clássicos totalmente integrados ao novo mundo, no qual Sherlock Holmes, apesar de sua sabedoria enciclopédica, não deixa de recorrer ao Google e percorre as ruelas londrinas com a ajuda do GPS de seu smartphone. A essência do personagem, muito bem interpretado no tipo e na afetação por Benedict Cumberbatch, foi preservada: é um dândi um tanto arrogante que ajuda a polícia na solução de intrincados crimes por enxergar o que ninguém mais vê e chegar à solução dos casos pelas mais tortas curvas da lógica. Na estreia, A Mulher de Rosa, Holmes conhece Watson (Martin Freeman), que, como no original de Arthur Conan Doyle, é um médico ferido na Guerra do Afeganistão (no século 19, o conflito dizia respeito à ocupação colonial britânica na Índia). Nesse primeiro caso, eles tentam elucidar o mistério em torno de uma série de suicídios induzidos. Já em O Grande Jogo, o desafio é montar o quebra-cabeça que leva ao autor de atentados à bomba, o que coloca Holmes diante do arqui- inimigo, Moriarty (Andrew Scott). (13 episódios, Amazon Prime Video)
Trapped
As condições climáticas do país e suas paisagens geladas são personagens à parte na primeira temporada da série criada por Baltasar Kormákur em 2015 (uma segunda trama, também com 10 capítulos, foi lançada em 2019, e uma terceira, pavorosa, saiu em 2022, com o nome de Entrapped). Tanto é que os créditos de abertura intercalam sobrevoos do característico relevo islandês, com suas montanhas e seus glaciares, e imagens microscópicas de um corpo humano, com seus sulcos e seus poros. O inverno tem papel de destaque: primeiro, uma nevasca isola a cidadezinha Siglufjörður do resto da nação. Mais adiante, seus mil e poucos habitantes serão ameaçados pela possibilidade de uma avalanche. Mas o que realmente desestabiliza o local é a descoberta, por um pescador, de um tronco humano (daí a ligação entre topografia e anatomia na sequência de abertura). Três policiais — o detetive Andri (Ólafur Darri Ólafsson), Hinrika (Ilmur Kristjánsdóttir) e Ásgeir (Ingvar Sigurdsson) — precisam deixar de lado um pouco seus problemas particulares para se dedicarem a uma série de dúvidas e especulações: de quem é o corpo? A vítima pode ser um passageiro ou tripulante de um ferry da Dinamarca que está atracado em Siglufjörður? E o assassino, também está a bordo ou é alguém da cidade? Existe alguma relação entre o crime e um incêndio ocorrido sete anos atrás, que matou uma irmã da ex-esposa de Andri? Qual a conexão com um empreendimento comercial, um porto que chineses querem construir para encurtar a rota para a América do Norte? (10 episódios, Netflix)
True Detective
A série criada por Nic Pizzolatto estreou sem maior badalação e conquistou público e crítica com sua peculiar estrutura narrativa — que ferve em ritmo lento influências da literatura do gênero e do fantástico, como Robert W. Chambers, de O Rei de Amarelo, temas como pedofilia e bruxaria e referências à série Twin Peaks (1990-1991), do cineasta David Lynch -e, sobretudo, pelo desempenho de seus protagonistas: Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Os dois atores vivem tipos recorrentes nas tramas policiais: dois tiras que são como água e azeite e combinam seus perfis antagônicos numa convivência em alta tensão descarregada sobre um objetivo comum. Respectivamente, interpretam o enigmático Rustin Cohle e o vulcânico Martin Hart, detetives que solucionaram um crime em 1995 e que estão, em 2012, dando explicações a dois investigadores da região de Nova Orleans. Algo saiu dos trilhos nestes 17 anos, arrastando as vidas de Cohle e Hart por caminhos tortos, e um serial killer está nas ruas indicando que o caso supostamente resolvido pela dupla pode ter ficado com muitas pontas soltas. Depois dessa primeira temporada (2014), que venceu cinco categorias do Emmy, incluindo melhor direção (Cary Joji Fukunaga), houve mais duas, com histórias e elencos diferentes: Colin Farrell e Vince Vaughn na segunda, Mahershala Ali e Stephen Dorff na terceira. Em breve, estreia a quarta de True Detective, com Jodie Foster como protagonista. (8 episódios, HBO Max)