Nenhum escritor vivo foi mais adaptado para o cinema, a TV ou o streaming do que Stephen King, estadunidense de 76 anos. Já são quase 350 longas-metragens, curtas e séries. Um dos cinco melhores filmes baseados em sua obra acaba de ser adicionado ao menu da Netflix: O Nevoeiro (The Mist, 2007).
Sem ordem de preferência, essa lista pode ser completada por Carrie, a Estranha (1977), a primeira versão cinematográfica de um livro seu, O Iluminado (1980), Louca Obsessão (1990) e Um Sonho de Liberdade (1994). E há ainda A Hora da Zona Morta (1983), Conta Comigo (1986) e It: A Coisa (2017), só para citar três filmes que costumam aparecer nas primeiras posições de rankings semelhantes.
O Nevoeiro foi a quarta parceria entre o diretor Frank Darabont e King, depois do curta The Woman in the Room (1983), de Um Sonho de Liberdade e de À Espera de um Milagre (1999). O filme é uma adaptação de conto do livro Tripulação de Esqueletos (1985) e ambientado em uma pequena cidade do Maine, nos Estados Unidos.
Logo após uma tempestade, o lugar é encoberto por uma estranha e densa névoa. Ocultas na neblina, criaturas começam a atacar os moradores. Um grupo de sobreviventes se refugia em um supermercado, e ali diferentes personalidades, em meio à luta pela vida, protagonizam conflitos entre si.
O microcosmo social representado pelo grupo inclui o sujeito que se alça à posição de líder (papel de Thomas Jane), o valentão pouco iluminado (William Sadler), uma religiosa fervorosa (Marcia Gay Harden) que promove a discórdia ao ver na situação o anunciado apocalipse, um cético que é seu contraponto (Andre Braugher) e aquele (Toby Jones) empenhado na tarefa de apaziguar os ânimos em nome do objetivo comum, que é entender o que se passa e permanecer em segurança.
Neste tenso ambiente, O Nevoeiro mostra que os seres humanos, quando tentados a liberar seus piores instintos, podem ser tão perigosos quanto as criaturas desconhecidas que aniquilam os que estão do lado de fora.
ALERTA DE SPOILER.
Para mim, O Nevoeiro tem um dos finais mais dilacerantes da história do cinema, uma das reviravoltas mais marcantes.
REPITO O AVISO SOBRE SPOILERS.
Ainda sob a cerração e movido pela desesperança, o protagonista mata os últimos sobreviventes, incluindo seu filho. Como não restava bala no revólver, ele é condenado a viver com essa dor terrível, expressada nos seus gritos. Mas então, à medida em que a lancinante canção The Host of Seraphim (1991), da banda Dead Can Dance, quebra o silêncio, tanques e caminhões rompem a neblina, e o personagem de Thomas Jane, atônito, descobre que os militares conseguiram derrotar os monstros.
Jamais vou esquecer o impacto dessa cena.