O filme argentino que foi sensação entre os fãs de terror no ano passado finalmente estreia no Brasil. Nesta quinta-feira (1º), entra em cartaz em cinco cinemas de Porto Alegre — Cinemark Barra, Cinépolis João Pessoa, Espaço Bourbon Country, GNC Iguatemi e GNC Praia de Belas — O Mal que nos Habita, tradução não muito feliz de Cuando Acecha la Maldad (2023), obra escrita e dirigida por Demián Rugna.
Em espanhol, o título original significa algo como "quando a maldade espreita" — no mercado em inglês, o nome ganhou tradução literal, When Evil Lurks. A distribuidora brasileira, Paris Filmes, subverteu o sentido: o diretor não trabalha exatamente com a ideia de que o mal é intrínseco ao ser humano. No seu filme, o mal é uma espécie de vírus, um agente externo que vai contaminando os personagens.
Rugna já havia apresentado o mal como algo corrosivo que está atrás das paredes, nas tubulações, em seu longa-metragem anterior, Aterrorizados (2017), que chamou a atenção do cineasta mexicano Guillermo Del Toro, autor de A Espinha do Diabo (2001), O Labirinto do Fauno (2006) e O Beco do Pesadelo (2021). Aquele era um terror urbano, ambientado em um quarteirão de Buenos Aires, e O Mal que nos Habita se passa sobretudo na zona rural, mas ambos abraçam o sobrenatural como parte da realidade — todos acreditam no que estão vendo, e por isso temem. E ambos são pródigos em oferecer cenas perturbadoras, de um tipo que impregna a mente do espectador. Imagens que se alojam para sempre na memória para de quando em quando nos provocar calafrios.
Vencedor do Festival de Sitges (na Espanha), um dos mais famosos certames de cinema fantástico, O Mal que nos Habita convida o espectador a acompanhar a trajetória de dois irmãos: Pedro (em atuação magnetizante de Ezequiel Rodríguez) e Jimi (Demián Salomon). Em um vilarejo argentino, eles deparam com um embichado, um infectado, um homem aparentemente possuído por um demônio e prestes a, digamos, dar à luz.
O embichado existe em carne e osso (e gordura e pus), mas também pode ser encarado como uma visão alegórica. Pode representar, por exemplo, a omissão do Estado. E funciona como um alvo de preconceitos típicos da sociedade. É um elemento que suscita leituras diferentes, da política à pandemia, como o diretor Demián Rugna comentou em entrevista exclusiva concedida à coluna (clique aqui para ler).
Pedro e Jimi vão tentar expurgar o mal, mas as coisas não saem como o planejado. A jornada turbulenta, sangrenta e purulenta inclui pelo menos uma sequência absolutamente chocante — evidentemente, aqui não haverá spoilers (aliás, quanto menos se souber sobre os demais personagens, melhor). Desde os primeiros instantes dessa passagem pode-se intuir que uma coisa muito ruim vai acontecer, mas não estamos preparados para o que de fato acontece, porque Demián Rugna desconhece qualquer tipo de limite. Eu pulei na cadeira e quase dei um grito.
Se quiser saber mais sobre a cena, mesmo com risco de spoiler, clique aqui.