Se você é fã de séries e só pode assinar um serviço de streaming, eu recomendo o Max (desde fevereiro o novo nome da HBO Max). Afinal, costumeiramente a plataforma é a recordista de vitórias no Emmy, a mais importante premiação dos Estados Unidos. Foi assim na edição referente a 2023, mas realizada em janeiro de 2024 por causa da greve de atores e roteiristas que paralisou a indústria no ano passado, quando somou 31 troféus contra os 22 da Netflix. Também foi em assim em 2022: 38 a 26. E em 2020: 30 a 21. E em 2019: 34 a 27. E em 2017: 29 a 20. Em 2018, deu empate (23 a 23), e em 2021, pela primeira vez em 17 anos, a HBO perdeu o trono — ganhou 19, enquanto a rival conquistou 44.
Muitas dessas vitórias foram conquistadas por séries com várias temporadas, como Game of Thrones, Plantão Médico, Família Soprano e Veep. Mas o Max também é rico em minisséries, que podem ser maratonadas em um dia ou dois.
Na lista abaixo, separei 17 títulos de que gosto muito ou que foram indicadas por amigos queridos. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Angels in America (2003)
Baseada em um espetáculo da Broadway escrito por Tony Kushner e dirigida pelo cineasta Mike Nichols (de A Primeira Noite de um Homem e Closer), faturou 11 prêmios no Emmy, incluindo os de melhor minissérie, ator (Al Pacino) e atriz (Meryl Streep). Aborda o início da propagação da Aids nos EUA, na metade dos anos 1980, quando a doença era tratada como um problema de gays e dependentes químicos e suas vítimas sofriam com o preconceito e o sentimento da morte inevitável. Pacino faz o papel de um poderoso político que é homofóbico e tem o vírus HIV. Através de sonhos e alucinações, vários personagens, reais e imaginários, interagem, como o anjo interpretado por Emma Thompson. (6 episódios)
2) Band of Brothers (2001)
A minissérie se baseia no livro homônimo de Stephen E. Ambrose e tem entre os produtores Steven Spielberg e Tom Hanks (que dirigiu o quinto capítulo). É uma dramatização da história da Companhia Easy, desde o seu treinamento nos Estados Unidos para a invasão da Normandia até a capitulação da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Vencedora de seis Emmys, Band of Brothers encontra o equilíbrio entre a grande História e as pequenas vidas de um grupo de soldados. O herói é o tenente Winters (personagem de Damian Lewis), que enfrenta o horror e faz o que é preciso fazer sem perder a sua noção do que seja humano ou correto. (10 episódios)
3) Chernobyl (2019)
Criada por Craig Mazin, apresenta uma versão ficcional do pior acidente nuclear da história, o da usina de Chernobyl, ocorrido entre 25 e 26 de abril de 1986 perto da cidade de Pripyat, na Ucrânia. Ao reconstituir suas consequências imediatas e as primeiras ações tomadas pelo governo soviético, a obra ganhou assustadora atualidade durante a pandemia: cenas e falas parecem refletir o que vimos e ouvimos desde o surgimento do coronavírus. Chernobyl arrebatou 10 prêmios Emmy, incluindo melhor minissérie, e concorria a outros nove, entre eles ator (Jared Harris, no papel do renomado químico Valery Legasov), atriz coadjuvante (Emily Watson, como a fictícia cientista Ulana Khomyuk) e ator coadjuvante (Stellan Skarsgård, que interpretou Boris Shcherbina, vice-presidente do Conselho de Ministros da URSS de 1984 a 1989, designado para supervisionar a gestão da crise). O elenco multifacetado — que inclui Jessie Buckley como a esposa grávida de um bombeiro e Paul Ritter como o engenheiro que comandou o fatídico teste na usina — permite enxergarmos as dimensões científica, política e humana do desastre. (5 episódios)
4) A Cidade É Nossa (2022)
Não chega a ser uma continuação de The Wire, ou A Escuta. Mas esta minissérie também foi criada pelo ex-repórter policial David Simon (aqui, na companhia do escritor George Pelecanos); também se passa em Baltimore, cidade no Estado de Maryland que é, estatisticamente, uma das mais violentas no mundo; e também retrata a atuação da polícia local. Enquanto alguns tentam fazer alguma coisa contra o narcotráfico e o crime organizado, mesmo sabendo que suas chances estão entre mínimas e nenhuma, outros apostam na truculência e/ou enveredam para a corrupção. Dirigida por Reinaldo Marcus Green, dos filmes King Richard (2021) e Bob Marley: One Love (2024), A Cidade É Nossa tem uma estrutura narrativa que requer atenção, com vários núcleos de personagens e alternâncias não muito claras entre o passado e o presente. Mas a recompensa é alta para quem curte histórias sobre os meandros policiais. O elenco é uma atração à parte: Jon Bernthal interpreta o sujo sargento Wayne Jenkins, figura central no força-tarefa do combate às armas. Wunmi Mosaku é Nicole Steele, uma advogada designada pela Justiça federal para apurar casos de desrespeito aos direitos civis. Jamie Hector faz Sean Suiter, um detetive de Homicídios que acaba se envolvendo com Jenkins. Josh Charles encarna Daniel Hersl, sobre o qual pesam várias denúncias de maus-tratos. E Dagmara Dominczyk está no papel de Erika Jensen, uma agente do FBI que investiga as ações de Jenkins e companhia. (6 episódios)
5) A Escada (2022)
Dirigida pelo nova-iorquino Antonio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes e realizador do filme O Diabo de Cada Dia (2020), A Escada (The Staircase no original) é a versão ficcional de um rumoroso caso policial dos Estados Unidos. No dia 9 de dezembro de 2001, o escritor Michael Peterson (interpretado por Colin Firth) liga para a emergência. Sua esposa, Kathleen (papel de Toni Collette), está morrendo, deitada sobre uma poça de sangue aos pés da escada da mansão do casal na Carolina do Norte. Foi um acidente, segundo o marido, que terá de contratar um advogado caríssimo, David Rudolf (Michael Stuhlbarg), já que os promotores Jim Hardin (Cullen Moss) e Freda Black (Parker Posey) estão dispostos a provar que foi um assassinato. A família se divide: os filhos de Michael acreditam (ou fingem para si mesmos que acreditam) na inocência do pai, a filha de Kathleen se junta às tias no lado da acusação. (8 episódios)
6) I May Destroy You (2020)
A atriz e roteirista inglesa de pais ganeses Michaela Coel transforma-se em Arabella nesta autoficção que, apesar de lidar com um assunto doloroso, encontra espaço para o humor, o afeto e a diversão. Escritora de um livro de sucesso, ela corre contra o prazo e contra uma crise criativa para entregar o segundo romance a uma grande editora de Londres. Para espairecer, resolve sair para a balada com uns amigos. No dia seguinte, já de volta ao trabalho, Arabella vê sua memória assaltada por imagens de um estupro praticado por um homem desconhecido. A partir daí, I May Destroy You mostra como a violência sexual pode paralisar o presente, alterar o futuro e ressignificar o passado das vítimas. (12 episódios)
7) A Inglesa (2022)
Faroeste revisionista escrito e dirigido por Hugo Blick, com um esplêndido trabalho de direção de fotografia, edição, design de produção e música. Indicada ao prêmio do Sindicato dos Atores dos EUA, Emily Blunt encarna a inglesa do título, Lady Cornelia Locke, que, em 1890, viaja aos Estados Unidos em busca de vingança contra o homem que ela vê como responsável pela morte de seu filho. Nas terras áridas, por circunstâncias terríveis, ela conhece Eli Whipp (Shaske Spencer), indígena pawnee e ex-batedor da Cavalaria, que está a caminho do Nebraska para reivindicar as terras que lhe são devidas por seu serviço no exército. (6 episódios)
8) Irma Vep (2022)
Para falar sobre a minissérie escrita e dirigida pelo francês Olivier Assayas e protagonizada pela sueca Alicia Vikander, passo a palavra ao cineasta e escritor Carlos Gerbase: "Metalinguística, às vezes confusa, algo irregular, muitas vezes desconcertante, mas sempre no registro de obra de arte, Irma Vep é programa obrigatório para quem gosta de cinema e de televisão de qualidade. (...) Irma Vep, um anagrama de vampire, é a personagem principal da série cinematográfica em 10 episódios Les Vampires, dirigida por Louis Feuillade em 1916. Ela não é uma vampira, não suga o sangue de ninguém. Vivida pela célebre atriz Musidora, faz parte de uma gangue de ladrões, veste um macacão negro colado ao corpo, que só deixa seus olhos de fora, e, mesmo com sapatos de salto alto, é capaz de esgueirar-se com extrema elegância pelos telhados de Paris. Está longe de ser uma heroína. É a precursora das vamps, termo depois adotado por Hollywood para designar mulheres 'do mal' que, usando as armas da sedução, destroem a vida de homens 'de bem'". (8 episódios)
9) Mare of Easttown (2021)
Fascinada com o "quem foi" da minissérie criada por Brad Inglesby, Kate Winslet ressaltou que embarcou no projeto porque "não é só a história de um crime". De fato, o crime descoberto no primeiro capítulo é chocante e misterioso, mas serve sobretudo como catalisador dos dramas pessoais e familiares em cidadezinha dos EUA. A morte traz à tona relações e segredos guardados em vida, imagem reforçada pela ambientação numa estação fria, que obriga os personagens a se esconderem atrás de casacos, mantas e gorros. E — até o final — todos têm o que ocultar ou algo do que não gostam de falar. Praticamente perfeita, Mare of Easttown venceu os Emmys de atriz (Winslet, também premiada no Globo de Ouro, ator coadjuvante (Evan Peters), atriz coadjuvante (Julianne Nicholson) e design de produção. (7 episódios)
10) Mildred Pierce (2011)
O cineasta Todd Haynes (de Longe do Paraíso e Carol) assina esta nova e marcante adaptação do romance lançado em 1941 por James M. Cain que deu origem ao filme Alma em Suplício (1945). A história se passa durante a Grande Depressão nos EUA. Mildred (Kate Winslet, arrasadora como de hábito) é uma mulher jovem recém divorciada que abre seu próprio restaurante e se apaixona por outro homem, Monty Beragon (Guy Pearce), enquanto tenta ganhar o amor de sua filha mais velha, a mimada e narcisista Veda (Evan Rachel Wood). Conquistou cinco Emmys, incluindo melhor atriz e ator coadjuvante. (5 episódios)
11) The Night Of (2016)
Filho de imigrantes paquistaneses em Nova York, o jovem universitário Nasir Khan, o Naz (Riz Ahmed), pega "emprestado" do pai o táxi para ir a uma festa. No meio do caminho, em duas ocasiões pessoas tentam embarcar no carro como passageiro. Mais tarde, uma infração de trânsito, um objeto levado da cena de um crime e uma testemunha ocular vão tornar Naz o suspeito número 1.
É esse o resumo do primeiro e fabuloso episódio da minissérie criada pelo escritor Richard Price e pelo cineasta Steven Zaillian. Trata-se de um retrato minucioso e muito humano das delegacias de polícia, do sistema judicial e dos presídios estadunidenses. À trama de suspense — a certa altura não saberemos se Naz é uma ovelha ou um lobo —, adiciona conotações culturais, políticas e sociais, refletindo o estado de ânimo nova-iorquino para com os muçulmanos pós-11 de Setembro e mostrando penitenciárias como fábricas de bandidos. Ahmed ganhou o Emmy de melhor ator, categoria em que também competia John Turturro, no papel do advogado de porta de cadeia John Stone. Bill Camp concorreu a coadjuvante na pele do detetive Dennis Box, assim como Michael Kenneth Williams, que faz o presidiário Freddy Knight. Todos trazem uma série de nuances a seus personagens, aumentando o envolvimento do espectador com uma história por si só cheia de matizes sobre o certo e o errado, o bom e o mau, a justiça e a lei, as percepções e as evidências. (8 episódios)
12) Objetos Cortantes (2018)
Baseada em livro de Gillian Flynn, a autora de Garota Exemplar, a minissérie Sharp Objects tem como protagonista a repórter policial Camille Preaker (Amy Adams), que volta à sua cidade natal para fazer a cobertura jornalística do assassinato de duas pré-adolescentes. Durante a investigação do caso, Camille, que acabou de sair de uma temporada numa clínica psiquiátrica, se identifica com as jovens vítimas e relembra fatos de seu passado para entender o quebra-cabeça psicológico que se apresenta à sua frente. Nesse processo, ela terá de confrontar seus traumas e o zelo exagerado da mãe, Adora (papel de Patricia Clarkson). A direção é do canadense Jean-Marc Vallée, o mesmo de Big Little Lies e dos filmes C.R.A.Z.Y. (2005) e Clube de Compras Dallas (2013), morto no final de 2021. (8 episódios)
13) Olive Kitteridge (2014)
Não apenas em sala de aula mas também no ambiente familiar, a professora Olive dá ordens e mantém um olhar amargurado, que afeta principalmente seu marido, um farmacêutico pacato, e o filho. Essa é a protagonista de Olive Kitteridge, adaptação de um romance homônimo de Elizabeth Sprout dirigida pela cineasta Lisa Cholodenko, de Minhas Mães e Meu Pai (2010). Foi um arraso no Emmy, levando oito prêmios: melhor minissérie, direção, atriz (Frances McDormand), ator (Richard Jenkins), ator coadjuvante (Bill Murray), roteiro (Jane Anderson), elenco e edição. (8 episódios)
14) Scenes from a Marriage (2021)
O diretor e roteirista israelense Hagai Levi encarou o desafio de modernizar a célebre série de televisão criada pelo cineasta sueco Ingmar Bergman. Na nova versão de Cenas de um Casamento (1973), Oscar Isaac e Jessica Chastain interpretam Jonathan e Mira, que estão juntos há 10 anos e têm uma filhinha. Ele é professor de filosofia e passa a maior parte do tempo em casa. Ela trabalha na área de tecnologia e responde pela maior parte do orçamento familiar. Como no original, Jonathan e Mira são procurados para dar uma entrevista na condição de um casal considerado exemplar. Mas logo nos primeiros minutos da conversa, começam a aparecer fissuras e ressentimentos. Não é à toa que cada um dos episódios mostra, no início, bastidores da produção: é como se o realizador quisesse reforçar o caráter de personagem assumido pelos integrantes de um relacionamento. (5 episódios)
15) Time (2021-2023)
É possível que o espectador brasileiro calejado pelo noticiário a respeito da violência, da precariedade, da corrupção e da desesperança nos presídios não se impressione com esta série britânica da BBC. Mas esse conhecimento não deve dessensibilizar o público perante os dramas vividos pelos personagens principais — interpretados por Sean Bean e Stephen Graham— e pelos coadjuvantes ao longo dos três episódios escritos por Jimmy McGovern e dirigidos por Lewis Arnold. Bean encarna um professor que atropelou e matou um homem, e agora precisa encarar um ambiente marcado pela privação e pela intimidação. Graham faz um guarda que enfrenta um drama pessoal que não cabe ser revelado aqui. Assista à série e se ponha no lugar dele: o que você faria? Em 2023, houve uma segunda temporada, agora em uma penitenciária feminina, trazendo no elenco Bella Ramsey, de The Last of Us. (3 episódios em cada temporada)
16) Watchmen (2019)
Damon Lindelof pega elementos da clássica HQ de Alan Moore e Dave Gibbons (a chuva de lula, personagens como Ozymandias e Dr. Manhattan) e cria uma trama central totalmente nova e absolutamente atual. Os novos heróis, como a Sister Night (Regina King) e o Looking Glass (Tim Blake Nelson), lidam com a violência contra negros nos EUA. O inimigo é uma organização racista, a Sétima Kavalaria. Desde a abertura, que reencena o Massacre de Tulsa, em 1921, durante anos apagado da história oficial, Watchmen mostra como os traumas da escravidão passam de geração a geração. Foram 11 troféus no Emmy, incluindo melhor minissérie, atriz (Regina King), ator coadjuvante (Yahya Abdul-Mateen II) e trilha sonora (Trent Reznor e Atticus Ross). (9 episódios)
17) The White Lotus (2021-)
A série criada por Mike White consegue conjugar de modo brilhante comédia cáustica, dramas empáticos, mistério policial e crítica social — o alvo na primeira temporada, ambientada em um resort de luxo no Havaí, é o privilégio branco, a elite que jamais cede seu lugar ou estende a mão sem querer nada em troca. Na segunda temporada, que se passa na Sicília, agrega-se temas como casamento, sexo, competição masculina, traição e autoengano. The White Lotus já faturou 15 Emmys. (2 temporadas até agora, 13 episódios)