Adoro minisséries, histórias com início, meio, fim e, por último mas não menos importante, curta duração.
Para quem gosta de ver tramas e personagens sendo desenvolvidos com mais tempo do que um filme, mas sem precisar gastar uma vida inteira para concluir, listei sete das melhores atrações disponíveis na Netflix. Dá para assistir em um único dia (uma de cada vez, é claro), se você estiver disposto a maratonar.
Todas foram lançadas de 2020 para cá e representam a Dinamarca, os Estados Unidos, o Japão e o Reino Unido. Tem policial, ficção científica, comédia, terror e drama. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Criminal: Reino Unido (2020-2021)
Desenvolvida por George Kay, responsável pela adaptação de Lupin, e Jim Field Smith, que dirige as duas temporadas britânicas (houver versões na Alemanha, na Espanha e na França também), é uma série sobre crimes que não mostra crimes. Tudo se passa dentro de uma delegacia, principalmente na sala onde policiais interrogam o suspeito da vez. Na primeira história, David Tennant encarna um médico acusado de ter estuprado e assassinado sua enteada adolescente. Hayley Atwell, a Peggy Carter do Universo Cinematográfico Marvel, faz uma mulher que teria envenenado o namorado violento da sua colega de apartamento. Indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Hotel Ruanda, Sophie Okonedo abre a segunda temporada, que traz as participações de Kit Harington (o Jon Snow de Game of Thrones, aqui num registro nada heroico nem honrado), e Kunal Nayyar (o Raj do seriado cômico The Big Bang Theory, aqui mostrando talento para o drama). (7 episódios de 45 minutos cada)
2) O Homem das Castanhas (2021)
Não se deixe enganar pelo nome simpático: a dinamarquesa O Homem das Castanhas, baseada no romance homônimo de Soren Sveistrup, é um típico exemplar do noir nórdico, cru e violento quando necessário. Em Copenhague, nos dias atuais, uma jovem mãe é brutalmente assassinada. Seu corpo é encontrado em um parque, sem uma das mãos. Próximo do corpo há um pequeno boneco feito de castanhas. Essa é a principal pista para a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic), uma mãe solteira que agora conta com um novo parceiro policial, o instável Mark Hess (Mikkel Boe Folsgaard). Paralelamente, acompanhamos o difícil recomeço da ministra Rosa Hartung (Iben Dorner) — um ano antes, sua filha adolescente desapareceu. (6 episódios de uma hora cada)
3) Missa da Meia-Noite (2021)
Criada, dirigida e editada por Mike Flanagan — o mesmo de A Maldição da Residência Hill (2018) —, se passa na fictícia e minúscula (tem somente 127 habitantes) Ilha Crockett. Lá, desembarca Paul Hill (papel de Hamish Linklater, absurdamente esnobado no prêmio Emmy), um padre que vai substituir o monsenhor Pruitt, afastado temporariamente por causa de um problema de saúde. Sua chegada coincide com o retorno de Riley Flynn (Zach Gilford), que viu sua carreira no mundo das startups ruir quando, ao dirigir embriagado, matou uma adolescente. Ele passou quatro anos na prisão e tenta recomeçar sua vida, contando com o apoio da mãe, Annie (Kristin Lehman), mas enfrentando a relutância do pai, o pescador Ed (Henry Thomas), reencontrando sua namorada dos tempos de escola, a professora Erin Greene (Kate Siegel, esposa do diretor), e revendo, todas as noites, o fantasma da garota atropelada. Esse não é o único evento fantástico na ilhazinha, mas não convém avançar muito na trama, em que Flanagan costura sua educação no catolicismo, seu subsequente ateísmo e sua paixão pelo horror. (7 episódios de uma hora cada)
4) O Mundo por Philomena Cunk (2023)
A atriz e comediante inglesa Diane Morgan estrela este mockumentary — junção, em inglês, de mock (zombar) e documentary (documentário) — que remete aos trabalhos do grupo Monty Python e ao Borat de Sacha Baron Cohen. Com total falta de cultura e de vergonha na cara, ela aborda momentos e personagens marcantes da história da humanidade e do mundo. Ao entrevistar um egiptólogo, por exemplo, Philomena pergunta se as pirâmides foram erguidas naquele formato para evitar que sem-tetos se abrigassem em torno delas. Em outra cena, convence uma estudiosa a dizer que Jesus Cristo foi a primeira vítima da cultura do cancelamento. Philomena nunca esboça um sorriso, o que desconcerta ainda mais seus interlocutores, sem saber com certeza se estão diante de uma piadista ou de uma estúpida. (5 episódios de meia hora cada)
5) Pluto (2023)
A animação japonesa adapta o mangá homônimo de Naoki Urasawa, uma história de ficção científica misturada a trama policial e discussão filosófica — ideal para quem curte a obra do escritor Philip K. Dick (1928-1982), autor de Blade Runner e Minority Report. Gira em torno da investigação do detetive Gesicht sobre o brutal assassinato de Mont Blanc, um dos mais poderosos e queridos robôs do mundo. Pelos olhos desses androides que parecem tão humanos, Pluto analisa a nós mesmos, nossas inquietações e angústias acerca do futuro. Mas as implicações da tecnologia não são o único tema: a minissérie também permite leituras sobre a geopolítica contemporânea. (8 episódios de uma hora cada)
6) Treta (2023)
Quem viu a série brasileira Os Outros (2023) vai encontrar alguns pontos de contato com esta produção ambientada na Califórnia e criada por Lee Sung Jin. Uma discussão no trânsito entre os dois protagonistas desencadeia uma espiral de ódio e vingança que traz à tona mentiras e segredos, retratando a ansiedade e a intransigência do mundo contemporâneo. Eles são Danny (vivido por Steven Yeun, o Glenn de The Walking Dead), um empreiteiro solteiro e endividado, e Amy (interpretada pela comediante Ali Wong), uma bem-sucedida mas infeliz mãe de família. Cada ação gera uma reação, cada fagulha gera um incêndio, em um ciclo vicioso que tem como combustível outras frustrações — familiares, amorosas, econômicas. Danny e Amy não parecem nada dispostos a fazer as pazes. É como se eles encontrassem na briga um sentido para suas vidas, conforme ilustra a música The Reason (2003), da banda Hoobastank, que toca, ironicamente, no final do primeiro capítulo. Também como Os Outros, Treta recorre a flashbacks que ilustram a jornada de seus personagens para acrescentar camadas aos dramas do presente — uma diferença fundamental é que aqui se permite tanto a comicidade quanto o absurdo. Recebeu oito prêmios no Emmy, incluindo melhor minissérie, direção, ator, atriz e roteiro. (10 episódios de meia hora cada)
7) Bebê Rena (2024)
Baseada na história real de seu criador e protagonista, o escocês Richard Gadd, começa com o personagem Donny Dunn entrando em uma delegacia de Londres para fazer uma denúncia. Ele está sendo perseguido por uma mulher, que vai ao trabalho dele, à casa dele e manda e-mails o tempo todo. O policial pergunta há quanto tempo isso acontece, e quando ouve a resposta, comenta: "Seis meses? Por que não denunciou antes?".
Daí, um flashback nos leva ao bar onde Donny trabalha como garçom enquanto sua carreira de comediante não decola. Logo a gente conhece Martha (Jessica Gunning), a versão ficcional da mulher que, ao longo de quatro anos, enviou 41 mil e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 746 tuítes e 106 páginas de cartas para Gadd. Martha é obesa, solitária e não tem dinheiro nem para comprar um chá. Donny sente pena dela, daí ela começa a aparecer todos os dias no balcão do bar. O garçom também curte a atenção da Martha, porque a vida dele está uma droga. Fracassa nos shows como comediante e, sem grana, precisou continuar morando na casa da mãe da ex-namorada. Só que a pior coisa na vida de Donny ele esconde de todo mundo, talvez até dele mesmo. (7 episódios de meia hora cada)