O fim de semana chegou e segunda-feira (15) é feriado. Para quem ganhou tempo extra, a dica é assistir a pelo menos uma das muitas séries bacanas que podem ser maratonadas em poucos dias.
A lista abaixo traz oito atrações com cinco, seis, oito, 10 ou 12 episódios e duas com 22 (parece muito? Bem, no primeiro caso você não é obrigado a ver todos, e no segundo os capítulos giram entre 30 e 45 minutos).
Há comédia, drama, ficção científica, suspense e terror, disponíveis em quatro plataformas de streaming: Amazon Prime Video, HBO Max, Netflix e Apple TV+.
5 episódios
Scenes from a Marriage (2021)
O diretor e roteirista israelense Hagai Levi encarou o desafio de modernizar a célebre série de televisão criada pelo cineasta sueco Ingmar Bergman. Na nova versão de Cenas de um Casamento (1973), Oscar Isaac e Jessica Chastain interpretam Jonathan e Mira, que estão juntos há 10 anos e têm uma filhinha. Ele é professor de filosofia e passa a maior parte do tempo em casa, ela trabalha na área de tecnologia e responde pela maior parte do orçamento familiar. Como no original, Jonathan e Mira são procurados para dar uma entrevista na condição de um casal considerado exemplar. Mas logo nos primeiros minutos da conversa começam a aparecer fissuras e ressentimentos. Não é à toa que cada episódio mostra, no início, bastidores da produção: é como se o realizador quisesse reforçar o caráter de personagem assumido pelos integrantes de um relacionamento.
Como escreveu a colunista Cláudia Laitano, Scenes from a Marriage é uma homenagem e um diálogo: recria algumas cenas com fidelidade, ao mesmo tempo em que apresenta conflitos que só seriam possíveis no século 21. Falta a Levi o que sobra em Bergman: o peso do silêncio e a força do que não é dito. Mas ela recomenda a minissérie "para não tem medo do que pode encontrar vasculhando o porão dos próprios sentimentos". (HBO Max)
6 episódios
Good Omens (2019)
Enquanto o Sandman de Neil Gaiman para a Netflix não chega, que tal conferir outra atração baseada em obra do escritor inglês? A minissérie Good Omens é baseada no romance satírico Belas Maldições, de Gaiman e Terry Pratchett. Com uma mistura de referências bíblicas e cultura pop, a história retrata a luta de um anjo e um demônio para impedir a guerra final entre céu e inferno, o Armagedon.
Michael Sheen, de Masters of Sex, faz o anjo Aziraphale, e David Tennant, de Doctor Who, encarna o demônio Crowley. Há milênios, os dois aprenderam a apreciar a vida entre os humanos e a companhia um do outro. São apaixonados por livros antigos, pequenos restaurantes e carros clássicos, mas agora suas vidas tranquilas na Inglaterra são sacudidas pela chegada do Anticristo — com um detalhe inconveniente: o filho de 11 anos do próprio Diabo foi perdido, após um engano cometido por uma ordem de freiras satanistas. Cabe à dupla improvável de defensores da Criação encontrar o menino antes que seja tarde demais. Na jornada, veremos flashbacks impagáveis de momentos marcantes da história da humanidade e um desfile de rostos (ou pelo menos vozes) conhecidos: Benedict Cumberbatch, Frances McDormand, Jon Hamm, Miranda Richardson, Brian Cox, Adria Arjona... (Amazon Prime Video)
The White Lotus (2021)
A série criada e dirigida por Mike White consegue conjugar de modo brilhante comédia cáustica, dramas empáticos, mistério policial e crítica social - o alvo nos seis episódios é o privilégio branco, a elite que jamais cede seu lugar ou estende a mão sem querer nada em troca. A trama começa em um saguão de aeroporto, onde descobrimos que alguém foi assassinado no White Lotus, um resort de luxo no Havaí. Aí, a história recua uma semana no tempo para acompanhar a chegada de um grupo de novos hóspedes. Temos o milionário mimado Shane (Jake Lacy), recém casado com Rachel (Alexandra Daddario), uma jornalista em crise existencial. No barco, ainda está a família de Nicole (Connie Britton), uma empresária que não para de trabalhar mesmo durante as férias: seu marido, Mark (Steve Zahn), um pouco ressentido por ganhar menos do que a esposa, a jovem Olivia, que trouxe junto uma amiga, Paula, que por sua vez trouxe um farnel de drogas, e o adolescente Quinn, mais interessado no seu celular e no seu game. Completa a lista Tanya (Jennifer Coolidge), uma ricaça carente e alcoolista que veio ao Havaí para jogar no mar as cinzas de sua falecida mãe.
Essa turma será recepcionada pelos empregados do resort. Entre esses, destacam-se Armond (Murray Bartlett, desde já um favorito para o Emmy 2022), o gerente com um bigode tipo o do Tom Selleck, Belinda (Natasha Rothwell), que administra o spa, e Kai, um garçom. Os três representam a classe trabalhadora - que, como diz Armond, precisa ser invisível, mas estar sempre pronta para servir — e também as populações marginalizadas. Armond é homossexual, Belinda, mulher e negra, e Kai, descendente de polinésio, simboliza os nativos que foram dizimados ou, na melhor das hipóteses, expulsos de suas próprias terras pelos colonizadores brancos. Diante desse elenco de personagens, um desavisado pode achar que os primeiros serão vilões caricatos, e os segundos, coitadinhos explorados. Não é bem por aí. (HBO Max)
8 episódios
O Inocente (2021)
Os idiomas mudam, mas as minisséries baseadas em livros de Harlan Coben ou criadas pelo romancista estadunidense falam sempre a mesma língua. Depois das inglesas Safe (2018) e Não Fale com Estranhos (2020) e da polonesa Silêncio na Floresta (2020), chegou a vez da espanhola O Inocente, adaptada por Oriol Paulo e Pablo Vallejo. Novamente, há um enigma policial que conecta a vida de vários personagens, quase todos com alguns esqueletos no armário. E as tramas que correm em paralelo vão, por um lado, preenchendo o quebra-cabeças, por outro, reprisando os temas dessas obras: o peso do passado e o preço dos segredos.
Ambientada sobretudo em Barcelona, mas com passagens por Madri e Marbella, a história tem como protagonista Mateo Vidal, o Mat (interpretado por Mario Casas), um jovem estudante de Direito que, em meio a uma briga na saída de um bar, mata acidentalmente um rapaz. Condenado, ele passa quatro anos na prisão. Com a ajuda do irmão, que o torna sócio em um escritório de advocacia, reconstrói sua vida e reencontra a mulher que havia conhecido em uma festa após ser libertado, Olivia (Aura Garrido). Os dois se casam e estão à procura de uma nova casa para morarem com o bebê que estão esperando, mas um belo dia ele recebe uma mensagem perturbadora enviada pelo celular dela.
Isso tudo é contado em poucos minutos. O ritmo trepidante é um dos pontos altos nos primeiros episódios da minissérie. Outro é a forma: cada capítulo começa com foco em um personagem, que, em uma narração em off dirigida a ele próprio ("Teu nome é Mateo Vidal"...), rememora sua história de vida e os passos que o levaram até a situação na qual se encontra. (Netflix)
10 episódios
Hacks (2021)
No papel, é uma série de comédia, gênero pelo qual a primeira temporada ganhou os troféus Emmy de melhor atriz (Jean Smart), direção (Lucia Aniello) e roteiro (compartilhado por Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky). Mas o que sobressai em Hacks é a parte amarga. E é isso o que a torna mais saborosa a história ambientada em Las Vegas, onde um sarcástico agente de talentos resolve juntar a fome com a vontade de comer. De um lado, ele tem Deborah Vance (Jean Smart), uma veterana comediante que ainda faz dinheiro — graças a muitas ações de marketing, algumas delas constrangedoras —, mas que está correndo o risco de perder seu palco cativo no fictício hotel e cassino Palmetto, porque seu show envelheceu. A solução é dar uma sacudida no seu repertório, contratando uma roteirista de 25 anos: Ava Daniels (Hannah Eibinder, indicada ao Emmy de atriz coadjuvante). Ela também já viveu dias melhores, mas agora enfrenta um cancelamento em Hollywood, consequência de chistes no Twitter sobre o filho gay de um senador.
O primeiro episódio tem uma sucessão de piadas, não raro maldosas e depreciativas, e as cenas tiram sarro ora da incontinência verbal de Ava, ora da fortuna ultrajante de Deborah. Mas esse primeiro episódio também mostra que as personas assumidas pela comediante e pela roteirista são como fachadas que escondem uma solidão avassaladora (provocada tanto por terem dificuldade de lidar com as outras pessoas quanto por não se submeterem às regras do jogo social) e um mar de problemas familiares. Variando entre o desencanto, o escárnio e a raiva, Deborah e Ava também vão expor as engrenagens viciadas da indústria do entretenimento no que diz respeito ao papel das mulheres. (HBO Max)
A Maldição da Residência Hill (2018)
Criada e dirigida pelo estadunidense Mike Flanagan (do filme Doutor Sono e da minissérie Missa da Meia-Noite), adapta o clássico romance de terror A Assombração da Casa da Colina (1959), de Shirley Jackson. A trama alterna duas linhas de tempo: na vida adulta, cinco irmãos continuam lidando com os traumas das experiências paranormais vividas na infância em uma mansão.
Eles são Steven (Michiel Huisman), escritor de livros sobre casas mal-assombradas, Shirley (Elizabeth Reaser), que prepara corpos para serem enterrados, Theodora (Kate Siegel), psicóloga infantil, e os gêmeos Luke (Oliver Jackson-Cohen), um dependente químico, e Nell (Victoria Pedretti), a mais atormentada quando pequena — via a Moça do Pescoço Torto. Cada um deles representa os estágios do luto: negação, raiva, barganha/negociação, depressão e aceitação. Além de boas atuações e de uma atmosfera tensa, com direito a alguns sustos nada gratuitos, A Maldição da Residência Hill se destaca pela excelente parceria entre a direção de fotografia de Michael Fimognari e o time de editores (que inclui o próprio Mike Flanagan). (Netflix)
The Young Pope (2016)
Criada pelo cineasta Paolo Sorrentino — vencedor do Oscar de melhor filme internacional com A Grande Beleza (2013) —, centra-se em um personagem fictício que acaba escolhido como o primeiro pontífice estadunidense: Lenny Belardo (encarnado por Jude Law), o Papa Pio XIII. Reunidos no Vaticano, os cardeais o escolhem porque esperam que um líder jovem e belo se torne o queridinho da imprensa, estimule os fiéis e seja maleável. Só que descobrem que Belardo é completamente diferente.
Fuma, usa chinelo de dedo e moletom branco, faz malabarismos com laranjas e exige Cherry Coke no café da manhã. Surpreende seus futuros assessores a todo instante, anuncia que quer cultivar seu "lado místico" e enlouquece os marqueteiros — além de deixá-los falidos, pois não permite que seu rosto apareça em nenhum souvenir. Sob a superfície cômica, porém, a minissérie rapidamente passa para um território mais contemplativo, explorando questões sobre fé, dúvida e isolamento das pessoas em posição de poder. (Star+)
12 episódios
I May Destroy You (2020)
Ganhadora do Emmy de melhor roteiro em minissérie, a inglesa de pais ganeses Michaela Coel, 33 anos, alinha-se a outras roteiristas de sua geração, como Phoebe Waller-Bridge (Fleabag), 36, Lena Dunham (Girls), 35, e Issa Rae (Insecure), 36: as desventuras da própria vida são fonte de inspiração. Em Chewing Gum (2015-2017), Michaela usou sua experiência como adolescente religiosa para falar do despertar da sexualidade. Em I May Destroy You, que mereceu elogios de Barack Obama, ex-presidente dos EUA, trata do abuso sexual que sofreu na época em que escrevia a série anterior. Codiretora (ao lado de Sam Miller) e protagonista, Michaela transforma-se em Arabella nesta autoficção. Escritora de um livro de sucesso, ela corre contra o prazo e contra uma crise criativa para entregar o segundo romance a uma grande editora de Londres. Para espairecer, resolve sair para a balada com uns amigos. No dia seguinte, já de volta ao trabalho, Arabella vê sua memória assaltada por imagens de um estupro praticado por um homem desconhecido.
A partir daí, I May Destroy You mostra como a violência sexual pode paralisar o presente, alterar o futuro e ressignificar o passado das vítimas. Ao longo dos 12 episódios de mais ou menos meia hora cada, Arabella empreende uma jornada de autoconhecimento e vingança, cheia de acertos (como os monólogos em que expõe as engrenagens do patriarcado e da cultura do estupro) e de tropeços — da personagem em si, que a certa altura deixa-se levar pela fama das redes sociais. Apesar de lidar com um assunto doloroso, a minissérie não é um drama do começo ao fim. Há espaço para o humor, o afeto e a diversão nas interações de Arabella com seus melhores amigos: Terry (Weruche Opia), uma atriz aspirante, e Kwame (Paapa Essiedu), um jovem homossexual que, em meio a uma ciranda de parceiros, também se verá sexualmente agredido. (HBO Max)
22 episódios
Black Mirror (2011-)
Talvez o feriadão não seja suficiente para assistir a todos os episódios e ao filme interativo Bandersnatch, de 2018, mas a série criada pelo inglês Charlie Brooker é uma antologia de histórias autônomas em que as novas tecnologias potencializam anseios, crises, dilemas e vícios da sociedade contemporânea. Portanto, embora também seja divertido caçar as interligações existentes, você pode escolher quais e quantos poderá ver.
Ainda que não seja a cara assumida por Black Mirror ao longo de quase uma década, o episódio de estreia já mostrava que Brooker chegara para inquietar. Em National Anthem (2011), o primeiro-ministro britânico (Rory Kinnear) se vê frente a uma escolha impossível: ter relações sexuais com um porco — com tudo transmitido ao vivo, em rede nacional — ou deixar que a princesa do país, membro da família real muito amada pelos britânicos e que foi sequestrada, seja morta por um terrorista.
Os outros dois episódios da curta primeira temporada estão entre os melhores e mais representativos. Em Fifteen Million Merits, Daniel Kaluuya e Jessica Brown Findlay passam os dias pedalando em bicicletas ergométricas, fechados em salas minúsculas em que as paredes são cobertas por telas, lutando para alcançar uma pontuação que lhes garanta programas de televisão melhores, comida artificial ou — o ápice — a chance de participar de um reality show. Em The Entire Story of You, que foi escrito por Jesse Armstrong (o criador de Succession), as pessoas implantaram um chip atrás da orelha, que lhes permite gravar tudo o que veem e ouvem. Usando um controle remoto, os usuários podem reproduzir suas memórias diretamente nos olhos ou em um monitor de vídeo. Em um jantar, Liam (personagem de Toby Kebbell) desconfia do comportamento de sua esposa (Jodie Whittaker) em relação a um homem chamado Jonas e decide esclarecer a situação.
Há várias outras histórias marcantes. Em Be Right Back (2013), a personagem de Hayley Atwell, em luto após o namorado (Domhnall Gleeson) morrer em um acidente de trânsito, passa a conviver com uma réplica dele, criada graças aos rastros digitais deixados em redes sociais e outros recursos audiovisuais. Estrelado por Jon Hamm (Mad Men), White Christmas (2014) mostra um dispositivo de realidade aumentada implantado no corpo que permite aos seres humanos se comunicarem remotamente e também possibilita que pessoas sejam "bloqueadas" (ou canceladas, para usar o termo da moda), tornando-se invisíveis umas para as outras.
Em Nosedive (2016), a atriz Bryce Dallas Howard vive em uma sociedade onde as pessoas avaliam e são avaliadas o tempo todo por suas postagens e atitudes. As melhores notas dão direito a benefícios — é como se a quantidade de likes determinasse o status de cada um. Hated in the Nation (2016) reflete sobre os julgamentos sumários do mundo virtual e os programas de vigilância dos governos. No comovente San Junipero (2016), o romance entre as personagens de Gugu Mbatha-Raw e Mackenzie Davis se desenvolve em uma realidade virtual simulada onde a consciência das pessoas pode habitar no pós-morte. Em Hang the DJ (2017), um aplicativo define o rumo e a duração de cada relacionamento amoroso de seus usuários. (Netflix)
Ted Lasso (2020-)
Se você ainda não conhece a vencedora de sete prêmios no Emmy, incluindo melhor série cômica, ator (Jason Sudeikis), atriz coadjuvante (Hannah Waddingham) e ator coadjuvante (Brett Goldstein), que tal aproveitar o feriadão? São 10 episódios na primeira temporada, com meia hora cada, e mais 12 na segunda, que estica a duração média para 40, 45 minutos e dá mais peso para os aspectos dramáticos.
Desenvolvida por Sudeikis, Bill Lawrence — o criador de Scrubs (2001-2010) e Cougar Town (2009-2015) —, Joe Kelly (da equipe de roteiristas do SNL e de How I Met Your Mother) e o ator Brendan Hunt, a série começa com uma vingança: para sacanear o ex-marido que vivia traindo-a, a dona do fictício Richmond, Rebecca Welton (Hannah Waddingham), resolve arruinar aquilo que ele mais ama, entregando o time da Premier League nas mãos de alguém que não entende nada de futebol. O negócio de Ted Lasso é o futebol americano, aquele disputado com bola oval e capacetes. Não é spoiler dizer que o clube vai enfrentar o fantasma do rebaixamento. E a esta altura do campeonato também não é mais segredo que o protagonista, com sua inteligência emocional, nos ensina que, mais importante do que vencer, é desenvolver pessoas, nos lembra do que realmente importa na vida e nos contagia com seu otimismo. (Apple TV+)