Em cartaz no HBO Max, Succession virou minha série favorita do momento. Ou uma das melhores de todos os tempos.
Maratonei as duas primeiras temporadas, lançadas originalmente em 2018 e 2019, cada uma com 10 episódios de uma hora, em menos de uma semana. Estou pronto para a terceira, que estreia no dia 17 de outubro, após os atrasos na produção provocados pela pandemia de coronavírus.
"Pronto" é modo de expressão. Porque a série é trepidante. Embora desprovida daquilo que conhecemos como cenas de ação, Succession tem personagens que estão sempre andando na corda bamba e sempre esgrimindo com diálogos afiados.
E vem num crescendo: depois de a primeira temporada faturar dois troféus Emmy não tão vistosos — roteiro e música-tema —, a segunda conquistou sete na principal premiação da TV estadunidense, incluindo melhor série dramática, ator (Jeremy Strong, o Jerry Rubin do filme Os 7 de Chicago) e direção (Andrij Parekh, um dos vários nomes por trás dos episódios, como o cineasta Adam McKay, que assinou o piloto, e Mark Mylod, realizador da maioria).
Não à toa, Charlie Brooker, o criador da maravilhosa Black Mirror, diz que morre de inveja da série desenvolvida por Jesse Armstrong, indicado ao Oscar de roteiro adaptado como um dos autores de Conversa Truncada (2009) e ganhador de dois Emmys por Succession.
Trata-se de um retrato impiedoso e sarcástico, mas com espaço para o afeto, da família de Logan Roy (personagem do ator escocês Brian Cox), dono do quinto maior conglomerado de mídia e entretenimento — a Waystar Royco comanda jornais, canais de TV, sites, estúdios de cinema, cruzeiros, parques temáticos etc.
Como o título indica, a sucessão na empresa deflagra os atritos neste "ninho de serpentes", a definição dada à família por um parente. Espere duelos verbais, intrigas, conspirações, traições, reviravoltas, mancadas, puxadas de tapete e acidentes — toda sorte de eventos (pontuados pela excelente música composta por Nicholas Britell) que nos deixarão sedentos para seguir assistindo um episódio depois do outro. A câmera na mão, o zoom para flagrar as reações dos personagens e a edição ágil realçam a urgência e os riscos — só que também podem servir de alívio cômico.
Mas não basta um roteiro inteligente e incisivo que conversa com o mundo real dos negócios e da política se não houver também personagens com os quais a gente se importa. Podemos até não gostar deles, afinal — repetindo — são serpentes, mas é difícil não se identificar com alguns de seus dramas, algumas de suas angústias, alguns de seus pecados. Afinal, estamos diante de uma fauna com traços shakespearianos — aliás, a peça Rei Lear é uma inspiração assumida. Há o empresário tirano, o primogênito que parece o bobo da corte por conta das asneiras ditas, o filho covarde que finge ser corajoso, o genro que procura ser querido por todos mas que sabe ser abusivo, a diretora jurídica que opera como bombeira, o candidato à presidência que quer derrubar o império midiático, o tubarão insensível dos fundos de investimento... Ao acompanhar a movimentação desses tipos, Succession consegue mexer com sentimentos conflitantes que podemos ter em relação aos super-ricos: raiva, inveja, um certo alívio por não estarmos em seu lugar...
E o elenco é extraordinário. Tanto é que a segunda temporada recebeu nove indicações nas categorias de atuação no Emmy. Jeremy Strong, que faz o papel de Kendall, o filho ora supercofiante, ora superfrágil, supostamente destinado para ocupar o cargo do pai, venceu justamente Brian Cox no prêmio de melhor ator. Cherry Jones (a presidente Allison Taylor em 24 Horas) foi laureada como atriz convidada. Seu papel é o de Nan Pierce, uma empresária da imprensa inspirada na família proprietária do jornal The New York Times. Entre as derrotadas, estava Harriet Walter, na pele de Lady Caroline Collingwood, a mãe de três dos quatro filhos de Logan, atualmente em seu terceiro casamento.
James Cromwell, que encarna um irmão desafeto de Logan, Ewan, concorreu como ator convidado. Intérprete de Siobhan, a filha que preferiu se dedicar à consultoria política, Sarah Snook (da ficção científica O Predestinado) disputou o troféu de atriz coadjuvante.
Entre os atores coadjuvantes, foram três nomes: Kieran Culkin (o caçula Roman Roy, imaturo, mimado e não raro desagradável para com seus interlocutores), Matthew Macfadyen (Tom Wambsgans, namorado de Siobhan e executivo na Waystar Royco) e Nicholas Braun (o primo Greg, que tenta galgar postos na empresa). Uma dica: preste atenção nas interações entre Tom e Greg, que, de certa forma, são os estrangeiros no clã dos Roy e, portanto, às vezes funcionam como nossos guias — ainda que, a exemplo dos demais personagens, não sejam nada confiáveis.