2020 encorpou a lista de filmes e séries que alertam sobre os perigos e as tentações das redes sociais. Tivemos, na Netflix, a ficção polonesa Rede de Ódio e o documentário americano O Dilema das Redes — e dá para colocar junto a minissérie documental Don´t F**k with Cats, que estreou no apagar das luzes de 2019 na mesma plataforma de streaming.
São obras que nos convidam a refletir sobre o que estamos acessando, assistindo e compartilhando — o irônico é que muitos de nós, depois de ver um desses títulos, corremos ao Facebook, ao Instagram ou ao Twitter para dividir nossas angústias e nossas impressões.
Então, aqui está uma relação de filmes e séries recentes sobre temas como vício em mídias sociais, limites de privacidade, tribunais virtuais, os riscos da instantaneidade e as consequências da disseminação de fake news.
Black Mirror (2011-)
A porta de entrada não poderia ser outra: o episódio Nosedive, também conhecido como Queda Livre, do espetacular seriado Black Mirror, criação do inglês Charlie Brooker. Nesse episódio, que abre a terceira temporada, a atriz Bryce Dallas Howard vive em uma sociedade onde as pessoas avaliam e são avaliadas o tempo todo por suas postagens e atitudes. As melhores notas dão direito a benefícios — é como se a quantidade de likes determinasse o status de cada um. Também na terceira temporada, o episódio Odiados pela Nação reflete sobre os julgamentos sumários do mundo virtual e os programas de vigilância dos governos. Disponível na Netflix.
Nerve: Um Jogo Sem Regras (2016)
Dirigido pela dupla Ariel Schulman e Henry Joost (a mesma de Power, com Jamie Foxx e Rodrigo Santoro), Nerve conta a história de uma garota de 18 anos (Emma Roberts) que se envolve em uma série de desafios propostos pelos Observadores de um jogo via celular. Começa com coisas como beijar um desconhecido, mas depois evolui para ações altamente perigosas, do tipo andar de moto a 100 quilômetros por hora com os olhos vendados. O filme retrata nossa urgência pela fama, nossa devoção à instantaneidade e nosso apetite pela destruição. Disponível no Telecine Play, no Google Play e no YouTube.
O Círculo (2017)
Tom Hanks e Emma Watson estrelam o suspense O Círculo, de James Ponsoldt, sobre uma jovem que, ao realizar o sonho de ser contratada por uma grande empresa de tecnologia, começa a descobrir um ambiente perigoso ao se envolver em projeto que testa limites de privacidade dos usuários. Disponível no Google Play e no YouTube.
Diário de Horrores (2017-)
Uma versão mirim de Black Mirror, Diário de Horrores mostra, para filhos e pais, como dedicamos tempo a smartphones, tablets e afins, os riscos de um mundo hiperconectado e os vícios da cultura digital — na abertura do primeiro ano da série, Amigo Virtual, uma menina anima-se com o status que seu novo smartphone lhe trouxe, até descobrir que o aparelho tem vontade própria. Destaco o episódio Sem Filtro, da segunda temporada. É sobre uma adolescente que só quer saber de selfies perfeitas. No afã de angariar popularidade, baixa um aplicativo que acabará por roubar seu rosto. Disponível na Netflix.
You (2018-)
A polêmica série You alerta sobre o excesso de exposição nas redes sociais, inclusive a sentimental. O protagonista, o gerente de livraria Joe (encarnado por Penn Badgley, que teve de ir às redes para reforçar que seu personagem não é um cara legal), torna-se obcecado por uma garota (Elizabeth Lail) e passa a ser um stalker, um perseguidor dela. A tarefa é facilitada pelo monte de pegadas digitais que deixamos por meio de fotos, posts, curtidas, interações, check-ins etc. Disponível na Netflix.
Privacidade Hackeada (2019)
Indicado ao Emmy, o documentário de Karim Amer e Jehane Noujaim mergulha nos bastidores do escândalo causado pela empresa Cambridge Analytica, que coletou dados em massa de usuários do Facebook para mapear o perfil psicológico dos eleitores americanos nas eleições de 2016. Assim foi possível identificar os indecisos ou propensos a mudar de lado, que então foram alvejados com anúncios especialmente criados para mexer com seus valores e sentimentos. Disponível na Netflix.
Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online (2019)
Com três episódios, reconta a história de um sujeito que, em 2010, chocou as redes sociais ao postar vídeos em que aparece assassinando filhotes de gato.
O documentário é imperdível por três fatores. Primeiro porque reflete sobre a tal da indignação seletiva: gatinhos, ao que parece, podem comover mais do que humanos. Segundo porque retrata bem a fome de fama instantânea, que leva algumas pessoas a escolher como porta de entrada a bizarrice ou mesmo a perversidade — o criminoso em questão não parou só nos felinos. E terceiro porque mostra como, hoje em dia, tudo o que fazemos deixa rastros digitais, deixa pegadas que podem ser seguidas mesmo que por detetives amadores. Disponível na Netflix.
Rede de Ódio (2020)
Em um dos grandes títulos de 2020, o diretor polonês Jan Komasa — realizador de Corpus Christi (2019), indicado ao Oscar de melhor filme internacional — aborda temas como haters, milícias digitais, fake news e a influência das mídias sociais no crescimento do extremismo político. Na trama, um jovem interpretado de forma assombrosa por Maciej Musialowski vai trabalhar em uma empresa de monitoramento das redes sociais, fachada para um escritório de difamação, de onde ataca primeiro uma influenciadora digital, da área de fitness, e depois um candidato a prefeito de Varsóvia. Disponível na Netflix.
O Dilema das Redes (2020)
Um dos filmes mais falados do ano, o documentário de Jeff Orlowski mostra lado nocivo de plataformas como Facebook, Google, Twitter, YouTube e Instagram e aponta efeitos globais da mudança de comportamentos pessoais. Quem conta isso para nós conhece muito as engrenagens dessas empresas, como Tristan Harris, que era especialista em ética do design no Google, Justin Rosenstein, engenheiro que foi um dos inventores do botão de "curtir" no Facebook, Jeff Seibert, ex-Twitter, Bailey Richardson, ex-Instagram, e Guillaume Chaslot, ex-YouTube. Todos parecem arrependidos por algumas de suas criações — a inteligência artificial por trás das mídias sociais observa, mapeia e captura nossas preferências, de modo que da próxima vez a "mágica" que nos prende às telas seja mais rápida e mais duradoura. Disponível na Netflix.