O fim de semana chegou, então que tal aproveitar o eventual tempo livre para colocar em dia o hábito de assistir a filmes?
O problema é que, não raro, gastamos preciosos minutos escolhendo um título.
Para ajudar os mais indecisos, montei uma seleção com 18 obras que foram adicionadas recentemente ao streaming. Procurei contemplar de tudo um pouco: animação, aventura, comédia, documentário, drama, policial, romance, suspense. Também tentei empreender minha tradicional volta ao mundo (tem Brasil, Dinamarca, Estados Unidos, Índia...) e oferecer opções de diferentes plataformas. Alguns dos filmes eu já havia comentado anteriormente — clique nos links para saber mais. A propósito, meu conceito de "recentemente" é flexível: fazem parte da lista títulos que entraram nos catálogos entre agosto e setembro ou que já estão no ar há alguns meses, mas talvez não tenham recebido a atenção merecida.
Aviva (2020)
A primeira dica é para quem curte um cinema mais experimental. A sinopse deste filme dirigido pelo estadunidense Boaz Yakin até que é simples: depois de se conhecerem por redes sociais, uma jovem de Paris, Aviva, e um jovem de Nova York, Eden, decidem testar aquela paixão no mundo real. Só que esse mundo real é uma encenação: no início do longa, em um set de filmagem, a coreógrafa e bailarina Bobbi Jene Smith, nua em uma cama, apresenta os operadores de câmera, explica que, como a trama demanda bastante momentos de dança, diretor achou melhor recrutar dançarinos que pudessem atuar do que o contrário. Ela também informa que o seu papel, na verdade, é o do que "geralmente identificamos como homem". A identidade sexual e a fluidez de gênero são dois temas de Aviva, que lança mão de coreografias criativas (mas nada hollywoodianas), DRs ora brilhantes, ora maçantes e fartas cenas de sexo para ilustrar como o amor é uma confusão, uma explosão de sentimentos, um choque de idealizações, um frenesi e, não raro, um desencanto. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
Bela Vingança (2020)
Ganhador do Oscar de melhor roteiro original, o primeiro longa dirigido pela atriz britânica Emerald Fennell conta com uma atuação extraordinária de Carey Mulligan. Ela interpreta Cassie, que finge estar bêbada, desnorteada e desamparada em bares para atrair homens que, por sua vez, fingem não compactuar com a cultura do estupro. Entre os personagens masculinos, está o de Bo Burnham, protagonista de outro destaque da temporada, o especial de comédia Inside. A mistura de visual colorido e tema sombrio do filme muito bem resumida na cortante versão instrumental de uma canção pop de Britney Spears, Toxic, aqui executada apenas ao violino, à viola e ao cello. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
O Discípulo (2020)
Escrito e dirigido pelo jovem cineasta indiano Chaitanya Tamhane (o mesmo de Tribunal, 2014), este filme recebeu a Osella de Ouro de melhor roteiro no Festival de Veneza do ano passado. Com um estilo quase documental, o diretor demonstra a capacidade de, ao focar em questões muito locais de seu país, pintar um retrato universal. O Discípulo é sobre o processo de autoaperfeiçoamento de um jovem cantor de ragas, elemento central e transcendental na música clássica da Índia, Sharad Nerulkar. O protagonista renunciou ao trabalho e postergou a vida amorosa para seguir as lições do pai já falecido e de uma mítica maestrina, Maai, de quem possui raras gravações de palestras. Mas talvez seus sonhos esbarrem em suas limitações. (Netflix)
Duas Tias Loucas de Férias (2021)
Indicadas ao Oscar de melhor roteiro original por Missão Madrinha de Casamento (2011), Kristen Wiig e Annie Mumolo reúnem-se novamente no script de Barb and Star Go to Vista Del Mar. Sob direção de Josh Greenbaum e sem medo de brincarem com o sexo ou o absurdo, Kristen e Annie interpretam duas amigas que deixam sua cidade no Meio-Oeste pela primeira vez e se envolvem em uma trama de crime e romance na Flórida. Jamie Dornan, o Christian Grey de 50 Tons de Cinza e o assassino serial do ótimo seriado The Fall, mostra seu desprendimento para o humor. (HBO Max)
Em um Bairro de Nova York (2021)
Versão de um musical da Broadway concebido por Lin-Manuel Miranda (o mesmo de Hamilton) e Quiara Alegría Hudes, o filme de Jon M. Chu é uma vibrante celebração da cultura dos latino-americanos em Nova York. É muito gostoso passar quase duas horas e meia na companhia de personagens como o dominicano Usnavi, a manicure Vanessa e a Abuela Claudia. Trata-se de uma injeção de alegria e cores que cai bem nestes tempos tristes e cinzentos. (HBO Max)
First Cow: A Primeira Vaca da América (2020)
Diretor do oscarizado Parasita (2019), o sul-coreano Bong Joon-Ho confessou ter sentido inveja deste faroeste às avessas realizado pela cienasta estadunidense Kelly Reichardt: no Oregon de 1820, um cozinheiro (John Magaro) e um imigrante chinês (Orion Lee) tentam sobreviver e, se possível, prosperar à sombra de um inglês rico. (Apple TV, Now, Google Play e YouTube)
Loucos por Justiça (2020)
Visto recentemente no vencedor do Oscar de melhor filme internacional, Druk: Mais uma Rodada, Mads Mikkelsen é o astro desta outra obra dinamarquesa, assinada por Anders Thomas Jensen. O ator encarna Markus, um militar durão que, quando a esposa morre em um acidente de trem, retorna da guerra no Afeganistão para cuidar da filha, Mathilde (Andrea Heick Gadeberg). Um trio de cientistas/nerds/hackers/párias sociais — Otto (Nikolaj Lie Kaas), Emmenthaler (Nicolas Bro) e Lennart (Lars Brygmann) — tenta convencer Markus de que a tragédia não foi acidental, mas, sim, causada por uma máfia de motoqueiros, a Raiders of Justice do título original. Daí o quarteto embarca em uma jornada de aventura e vingança que, como é habitual no cinema da Dinamarca, será temperada por dilemas morais, mas que, como é inusual nas produções do país escandinavo, também terá muitos momentos engraçados. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
Luca (2021)
O 24º filme de animação da Pixar mantém o alto nível das produções do estúdio que faz parte da Disney, mas muda bastante o tom. Em Luca, o diretor italiano Enrico Casarosa deixa de lado temas como a morte, o luto, o esquecimento e a obsolescência. O desenho animado é uma aventura sobre aquele momento entre a infância e a adolescência em que estamos tentando descobrir que o mundo é maior do que a gente conhece. A história se passa na Itália, durante um verão, e tem como protagonista um monstro marinho, o Luca do título, que, a convite de um amigo, Alberto, resolve curtir a vida entre os humanos. É tudo muito divertido, mas eles precisam cuidar para não revelarem sua real identidade, e isso permite que Luca, o filme, seja visto como uma alegoria sobre a condição de grupos que costumam ser excluídos, oprimidos, desprezados, humilhados ou até agredidos pela sociedade, como minorias étnicas e religiosas, imigrantes, refugiados e a população LGBTQIA+. (Disney+)
Nem um Passo em Falso (2021)
O diretor Steven Soderbergh é o responsável pelo melhor policial do ano. A história se passa em 1954, em Detroit, símbolo da indústria automobilística dos Estados Unidos, e tem uma pegada de filme noir, embora seja colorido. Don Cheadle interpreta um gângster que, precisando de dinheiro para deixar a cidade, se junta a outros dois (Benicio del Toro e Kieran Culkin) para agir como "babá" da família de um contador (David Harbour). Na verdade, essa família vira refém em sua própria casa enquanto o pai deve ir a seu escritório para se apossar de um documento guardado em um cofre verde por seu patrão. O conteúdo desse documento é um dos mistérios a ser desvendado ao longo das quase duas horas de duração, que são pontuadas por uma ótima trilha sonora, um jazz por vezes soturno, em outras irônico, que casa bem com uma trama que não glamoriza a violência e, como é comum na filmografia de Soderbergh, está revestida por um discurso sócio-político-econômico. (HBO Max)
A Nuvem Rosa (2021)
Filha do cineasta Carlos Gerbase e da produtora Luciana Tomasi, Iuli Gerbase estreia na direção de longas com este filme premonitório em relação à covid-19. Escrito em 2017 e filmado em 2019, retrata muitas situações e muitos comportamentos que se tornaram comuns ao longo destes 20 meses de pandemia. Na ficção, a ameaça é uma nuvem rosa que mata as pessoas em questão de 10 segundos. Não há máscaras, e o confinamento é o único jeito de se salvar.
Mas esta é uma ficção científica que não se interessa tanto pelas batalhas práticas, como a da busca por uma cura, nem investe na ação ou numa corrida contra o tempo. O foco de A Nuvem Rosa está nos conflitos psicológicos que afetam os personagens principais, uma mulher e um homem que tinham acabado de se conhecer quando a pandemia impôs o isolamento total. Giovana (interpretada por Renata de Lélis) e Yago (Gustavo Mendonça) dormiram juntos após uma balada e acordaram forçados a serem um casal. (Telecine)
Sozinha (2020)
Filho do cineasta Peter Hyams — das ficções científicas Outland: Comando Titânio (1981) e TimeCop: O Guardião do Tempo (1994) —, John Hyams dirige este suspense com ares de Encurralado (1971) e A Morte Pede Carona (1986). Jules Wilcox interpreta Jessica, uma mulher que muda de cidade para tentar lidar com o luto pela morte do marido. Na estrada, ela passa a ser acossada por um estranho bigodudo, personagem vivido de forma assustadora por Marc Menchaca, ator visto em séries como Homeland e Ozark. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
Três Estranhos Idênticos (2018)
A sinopse do documentário realizado por Tim Wardle já é por si só fascinante: separados na maternidade, em 1961, trigêmeos se reencontram 19 anos depois. Parece um conto de fadas — e é, pois a história dos carismáticos irmãos estadunidenses David Kellman, Edward Galland e Robert Shafran também está marcada pelo sinistro, pelo monstruoso, pelo macabro. (Netflix)
A Última Carta de Amor (2021)
A estadunidense Augustine Frizzell dirige esta adaptação de um romance da jornalista e escritora britânica Jojo Moyes. Ambientada em Londres, a história se passa em dois tempos. No presente, a repórter Ellie Haworth (encarnada por Felicity Jones), incumbida de escrever um artigo sobre o recentemente falecido editor de seu jornal, descobre uma carta romântica endereçada por alguém identificado como "Boot" para uma pessoa chamada de "J". Intrigada, Ellie resolve investigar o passado, a década de 1960, quando os personagens principais são vividos por Shailene Woodley e Callum Turner. A Última Carta de Amor pode não ser a última bolachinha do pacote, mas funciona — ou seja, emociona — quem curte títulos como Tarde Demais para Esquecer (1957), Nunca te Vi, Sempre te Amei (1987) e Diário de uma Paixão (2004). Prepare o lencinho. (Netflix)
Val (2021)
O documentário sobre Val Kilmer é surpreendente do começo ao fim. A primeira surpresa está ligada à cena de abertura, uma gravação em VHS dos bastidores de Top Gun: Ases Indomáveis (1986). Nela, Kilmer e outros integrantes do elenco, como Rick Rossovich, brincam que precisam de mais bebida, mais tabaco, mais mulheres e menos Tom Cruise no set. Ao longo do filme documental dirigido por Ting Poo e Leo Scott, o ator que encarnou o arrogante Iceman, rival do mocinho Maverick, faz revelações sobre várias produções — cinematográficas ou teatrais — em que se envolveu durante quase 40 anos de carreira. Isso porque, como explica Val, ele sempre fez questão de registrar em vídeo momentos de sua vida profissional e de sua vida íntima. E não apenas os felizes. (Amazon Prime Video)
Velozes e Furiosos 9 (2021)
Se a lista começou com um filme experimental, (quase) termina com um típico filme pipoca — tanto é que se tornou-se a maior bilheteria de Hollywood durante a pandemia. Velozes e Furiosos 9 desconhece limites da velocidade e do exagero. Aliás, convém Tom Cruise, o astro da cinessérie Missão: Impossível, assistir às mirabolantes e trepidantes cenas de ação dirigidas por Justin Lin e vividas por personagens como Dominic "Dom" Toretto (Vin Diesel) e seu irmão Jakob (John Cena, o Pacificador de O Esquadrão Suicida), que, curiosamente, jamais havia sido mencionado nos oito títulos anteriores. (Apple TV, NOW, Google Play e YouTube)
Um clássico, um resgate e um tesouro
Os próximos três filmes não são novos, mas entram na lista porque foram adicionados recentemente ao catálogo das plataformas de streaming.
O clássico inesquecível é Titanic (1997), de James Cameron, vencedor de 11 Oscar — é um dos três recordistas —, que agora ressurgiu no streaming graças à estreia da Star+, a nova plataforma da Disney.
O resgate oportuno é o de Caché (2005), uma das obras essenciais de Michael Haneke, ganhador dos troféus de melhor diretor e dos prêmios do júri e da crítica no Festival de Cannes, em cartaz na Reserva Imovision.
E o tesouro que sempre merece ser redescoberto é Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (2007), nem que seja apenas para aplacar a saudade deixada pelo diretor Sidney Lumet, morto em 2011, e dos atores Philip Seymour Hoffman, que partiu em 2014, e Albert Finney, falecido em 2019. O título está disponível no Amazon Prime Video.