Parece ironia, mas a pior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul será também a responsável por um volume de investimentos sem precedentes. Com a confirmação da abertura do crédito extraordinário de R$ 6,5 bilhões pelo governo federal para o Fundo de Reconstrução, o Estado vai fazer investimentos que se sabia necessários há muitos anos, mas que só foram viabilizados pela enchente de maio. Foi preciso que os municípios da Região Metropolitana ficassem debaixo d’água para os governos desengavetarem projetos que se considerava perdidos por decurso de prazo.
Tome-se o caso do sistema de proteção contra as cheias de Eldorado do Sul e dos municípios da região do Arroio Feijó. Os anteprojetos são do tempo do governo Dilma Rousseff. Foram abandonados no governo de Michel Temer, após o impeachment de Dilma, porque não cabiam no teto de gastos, e ignorados solenemente na gestão de Jair Bolsonaro. O próprio presidente Lula não incluiu entre as prioridades no primeiro ano de mandato. Foi preciso uma enchente devastadora para provar que prevenir é melhor do que remediar e que todo o sistema de prevenção deveria ser repensado e recomposto.
As obras serão realizadas com dinheiro da União — que não é de Lula nem de qualquer outro presidente, é dos brasileiros — sob gestão compartilhada dos governos estadual e federal. Os primeiros editais para contratação da obra (com o projeto executivo) devem ser publicados no primeiro semestre de 2025.
Mas não estamos falando somente dos R$ 6,5 bilhões. Com o adiamento do pagamento da dívida por três anos, o Estado terá dinheiro como nunca teve para investir. Esses R$ 14 bilhões são carimbados para a reconstrução, mas o conceito é elástico. Vai da compra de aeronaves para as forças de segurança pública à duplicação da ERS-118, entre Gravataí e Viamão, que antes da enchente só sairia com pagamento de pedágio.
Se é consenso que a crise deve ser vista como oportunidade, 2025 é o ano para Leite e Lula mostrarem que estão acima das disputas políticas e trabalharem juntos pela recuperação plena do Rio Grande do Sul.
O governador Eduardo Leite, que assumiu com os salários em atraso, enfrentou a pandemia de covid e uma estiagem brutal, teve de fazer contratações temporárias de pessoal porque faltam técnicos para tocar ou fiscalizar tantas obras. Faltam engenheiros, arquitetos, hidrólogos e tantos outros profissionais essenciais à reconstrução de um Estado devastado pela enchente. O Plano Rio Grande é o norte desses investimentos, que se estenderão pelo próximo governo, porque em sua maioria são obras demoradas. Quem vencer em 2026 receberá uma herança bendita dos governos estadual e federal.
Com tanto dinheiro, a reconstrução precisa ser feita em outro patamar. Não se pode aceitar remendos que ali adiante terão de ser refeitos. Se é consenso que a crise deve ser vista como oportunidade, 2025 é o ano para Leite e Lula mostrarem que estão acima das disputas políticas e trabalharem juntos pela recuperação plena do Rio Grande do Sul e pela solução dos problemas mais críticos, entre os quais está a falta de moradia.