Criado em 2014, o É isso mesmo?, mecanismo de checagem de GaúchaZH, entra em nova fase em 2018, com foco na cobertura eleitoral. Para isso, ganhou o reforço dos repórteres do Grupo de Investigação da RBS (GDI), que conferiram as declarações dos candidatos ao governo do Estado no primeiro debate do segundo turno, realizado pela Rádio Gaúcha, nas entrevistas concedidas a GaúchaZH e no último debate, transmitido pela RBS TV.
Tiveram declarações checadas os candidatos Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB).
Confira, abaixo, as declarações de José Ivo Sartori checadas pelos repórteres do GDI:
Debate na Rádio Gaúcha
Publicada em 16/10/2018
O primeiro lugar que fui visitar como governador foi o Cpers. (...) Eu fui lá com o secretário de Educação, bem no começo do nosso governo.
Não é bem assim
Sartori realmente esteve na primeira semana de governo na sede do Cpers. A visita surpresa, junto com o então secretário de Educação, Vieira da Cunha, foi no dia 7 de janeiro de 2015 para falar do decreto que congelava as nomeações, promoções e contratações no serviço público.
Mas, antes disso, já como governador, no dia 5 de janeiro Sartori esteve na Escola Estadual de Ensino Fundamental Alvarenga Peixoto, na Ilha dos Marinheiros. Ainda no dia 5, o governador visitou o Comando Militar do Sul e se reuniu com o comandante da época, general de Exército Antônio Hamilton Martins Mourão.
Este é um problema nacional, atinge todos os Estados. Tanto é verdade que, no Ensino Médio, nenhum Estado brasileiro atingiu a meta do Ideb.
Não é bem assim
O candidato repetiu, na Rádio Gaúcha, a mesma frase que usou durante debate do primeiro turno na RBS TV. A declaração, já checada naquela ocasião, pode ser considerada correta quando se leva em conta a soma dos resultados de todas as redes de ensino (estadual, municipal, federal e privada). Por esse critério, nenhum Estado atingiu as metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2017. No entanto, quando a análise inclui apenas a rede estadual — que é de responsabilidade dos governos dos Estados —, a realidade apontada por Sartori é diferente. Duas unidades da federação atingiram o índice projetado para 2017. Goiás ficou com um Ideb de 4,3 (a meta era de 4,2) e Pernambuco alcançou 4 (igual à meta). Ao contrário deles, o Rio Grande do Sul fico com um índice de 3,4 para uma meta de 4,8.
Eu, quando fui prefeito de Caxias do Sul, o Ideb chegou a andar dois, três anos na frente daquilo que era exigido.
É verdade
O candidato acerta ao afirmar que o Ideb de Caxias do Sul superou as metas no período em que foi prefeito da cidade (de 2005 a 2012). Mais precisamente, foram três edições à frente do exigido — o indicador é divulgado a cada dois anos. Em 2007, primeiro ano da série histórica com meta projetada, o Ideb da cidade ficou em 5,1, quando era esperado 4,5. Em 2009 foi de 5,4 (meta de 4,8) e em 2011 foi de 5,7 (meta de 5,2).
Reduzimos secretarias e cargos de confiança.
É verdade
Houve redução de 27 para 19 secretarias quando Sartori assumiu o governo, em 2015 — hoje são 17, sendo que duas pastas são chefiadas por uma mesma secretária. Quanto aos CCs, como mostrou reportagem publicada em abril deste ano por GaúchaZH com base em dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, em 2015 Sartori reduziu o número de cargos do tipo na administração direta de 2.069 (no final da gestão de Tarso Genro) para 1.521. Em valores corrigidos pelo IPCA, a despesa anual caiu de R$ 121,2 milhões para R$ 65,5 milhões.
Ao longo de 2016 e 2017, Sartori foi preenchendo cargos vagos e fechou 2017 com 1.664 CCs, ao custo de R$ 81,6 milhões, também em valores corrigidos. Ou seja, o número de CCs e os valores gastos com eles cresceram ao longo da gestão Sartori, mas continuaram abaixo do que o registrado no fim do governo Tarso.
Considerando administração direta e indireta, o número de CCs caiu de 2.586 em dezembro de 2014 para 2.076 em agosto de 2018, segundo dados solicitados nesta terça-feira (16) à Secretaria Estadual da Fazenda.
Final de outubro, começo de novembro, vai ser entregue a ala do Presídio Central que foi demolida há tempos atrás, não no nosso governo, e que não foi reconstituído nada no seu lugar. Pela legislação, troca de imóvel, o Estado não tinha dinheiro, foi dessa forma, com a troca com o imóvel que vai ser colocada a nova ala do presídio com mais de 400 lugares, mais de 400 vagas.
Não é bem assim
Sartori acertou ao dizer que serão mais de 400 vagas abertas (total de 416). Porém, o que deve ser inaugurado em breve, ainda sem data definida, é o Presídio Estadual de Porto Alegre. A nova unidade foi erguida em uma sistema de permuta com o Grupo Zaffari, que construiu a cadeia, em área junto ao Presídio Central. Em troca, o Estado cedeu à empresa terreno da Fundação para o Desenvolvimento e Recursos Humanos (FDRH), na Avenida Praia de Belas, em Porto Alegre. A ala demolida no Presídio Central em outubro de 2014, no final do governo Tarso Genro (PT), foi o pavilhão C do Presídio Central, que segue desativado e não fica junto à área do novo presídio.
Fizemos a integração com os municípios. São quase 450 para o videomonitoramento e para o cercamento eletrônico.
Não procede
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), 403 prefeituras estão contempladas no Sistema de Segurança Integrada com os Municípios (SIM), que possibilita, entre outros serviços, que seus sistemas de videomonitoramento sejam compartilhados com o Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI). No entanto, conforme a própria SSP, atualmente apenas 114 municípios atuam efetivamente de forma integrada no videomonitoramento.
Pelas regras da checagem, a declaração se enquadra no conceito "Não procede", já que o número dito pelo candidato ("quase 450") é 294,7% superior ao dado oficial (114) — acima, portanto, do percentual tolerado para o conceito "Não é bem assim" (entre 10% e 30%).
Entrevista a GaúchaZH
Publicada em 21/10/2018
O alongamento da dívida do Estado por 20 anos (...) permite que, em 2028, tenhamos redução do estoque da dívida em torno de R$ 22 bilhões."
É verdade
Tratativas com o governo federal iniciadas em 2013, por Tarso Genro (PT), e concluídas por Sartori, em dezembro de 2017, levaram à assinatura de aditivos ao contrato de 1998 – quando a União assumiu os débitos do Estado, na gestão de Antônio Britto (então no MDB). Foi alterado indexador, cortado juro e prolongado prazo de quitação em 20 anos, como disse Sartori. Como as mudanças passaram a valer de forma retroativa a janeiro de 2013, houve abatimento imediato de R$ 4,9 bilhões na dívida. Já nas projeções para 2028, calculadas com base nas normas contratuais originais (agora alteradas e estendidas para 2048), a redução estimada foi de R$ 22 bilhões.
A mais importante de todas (PPPs) foi a da Corsan. E todos os nove municípios, menos um, já deram assentimento a esse processo. Está faltando a posição da Câmara de Vereadores de Canoas. Tanto nas concessões, quanto na PPP, somos o que implementou, o que pelo menos colocou para fora. Se tivesse havido anteriormente essa posição, já teríamos avançado muito mais, embora a PPP da Corsan tenha começado ainda no governo passado.
Não é bem assim
Sartori acerta ao afirmar que oito dos nove municípios envolvidos na PPP para coleta e tratamento de esgoto na Região Metropolitana já aprovaram a proposta. Falta a resposta de Canoas. Mas, ao afirmar que “tanto nas concessões, quanto na PPP, somos o que implementou, o que pelo menos colocou para fora”, o próprio Sartori reconheceu que a PPP ainda não foi concluída e que foi iniciada no governo anterior. Além disso, as concessões não são novidade no Estado.
As principais ocorreram no governo Britto, no fim da década de 1990, envolvendo rodovias. O que Sartori fez foi definir um marco regulatório, mas nenhuma concessão saiu do papel.
Passamos de 29 para 16 secretarias.
É verdade
O governo Tarso Genro tinha 27 secretarias e 29 integrantes do primeiro escalão com status de secretários — incluindo os titulares pela Casa Militar e pela Chefia de Gabinete do governador, que não eram classificadas oficialmente como secretarias.Já o governo Sartori, segundo a Secretaria da Modernização Administrativa e dos Recursos Humanos (Smarh), conta, atualmente, com "17 secretarias e 16 secretários, pois a secretária Susana Kakuta responde por duas pastas, as secretarias de Minas e Energia e de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia". Os números citados por Sartori estão dentro da margem de erro de 10%, conforme as regras de checagem estabelecidas pelo É isso mesmo?
No Ensino Fundamental, recebemos recentemente elogio do Ministério da Educação, porque alcançou média superior.
É verdade
Quando divulgou o resultado do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), em agosto, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação, destacou alguns Estados que alcançaram desempenho superior à média do Brasil nas provas de português e matemática no Ensino Fundamental.
É o caso do Rio Grande do Sul, como afirma o candidato. No 9º ano do Ensino Fundamental, além do desempenho acima da média, o Inep destacou o RS entre os Estados que "agregaram mais pontos acima da média nacional" e por apresentarem "ganhos de aprendizagem maiores do que a média do Brasil entre 2015 e 2017". Sartori ressaltou a situação do Ensino Fundamental, etapa onde está o melhor desempenho. No Ensino Médio, embora as notas do Estado também tenham melhorado em relação a 2015, os resultados conquistados em 2017 mantêm-se os mais baixos desde 2005 tanto em português quanto em matemática.
Debate na RBS TV
Publicada em 26/10/2018
Chamamos policiais efetivos em torno de 6,3 mil na atualidade.
É verdade
Sobre os novos servidores, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), 4,3 mil foram colocados na ativa desde o início do governo Sartori. Já outros 2 mil foram chamados e o processo está na fase de análise da vida pregressa dos aprovados e documentação. A previsão é de que o curso de formação comece em 12 de novembro.
Eu queria recuperar uma questão, a comparação com o período do Tarso Genro. De janeiro a outubro de 2014 a 2018. Tivemos o latrocínio, a redução de 39%, de homicídios de 14%, de roubo de veículos de 10%.
Não é bem assim
A estatística apresentada pelo candidato destoa do usual, comparando dados de meses ainda não encerrados, entre 1º de janeiro e 13 de outubro de 2014 e de 2018. Ao citar a redução dos homicídios e de latrocínios, ele acertou os números. Mas errou na comparação de roubo de veículos. Disse que este delito caiu 10%, mas, na realidade, aumentou 12,9%.
Precisamos preparar nossos alunos para a educação do século 21, e o país inteiro está atrasado nisso. Aquilo que sai de pesquisa, às vezes não nos coloca longe daquilo que existe em todo o país. Nenhum Estado alcançou a média que queria.
Não é bem assim
O candidato repetiu, pela terceira vez em debates, comparação com outros Estados para justificar a situação da educação no Rio Grande do Sul. Na noite dessa quinta-feira, Sartori não se referiu especificamente ao Ensino Médio, como nas duas declarações anteriores. Se nos detivermos a esta etapa de ensino, a declaração pode ser considerada correta quando se leva em conta a soma dos resultados de todas as redes de ensino (estadual, municipal, federal e privada). Por esse critério, nenhum Estado atingiu as metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2017. No entanto, quando a análise inclui apenas a rede estadual — que é de responsabilidade dos governos dos Estados —, a realidade apontada por Sartori é diferente. Duas unidades da federação atingiram o índice projetado para 2017. Goiás ficou com um Ideb de 4,3 (a meta era de 4,2) e Pernambuco alcançou 4 (igual à meta). Ao contrário deles, o Rio Grande do Sul ficou com um índice de 3,4 para uma meta de 4,8.
Se a análise for sobre o Ideb das séries iniciais do Ensino Fundamental, a rede estadual do Rio Grande do Sul é uma das poucas que não conseguiram atingir a meta, junto com Amapá, Maranhão, Paraná e Rio de Janeiro. Nos anos finais do Fundamental, 19 unidades da Federação não atingiram a meta, incluindo o RS.
Aumentamos o orçamento da segurança tanto em 2017 como em 2018.
É verdade
Houve incremento no orçamento da segurança pública nos patamares de 19%, em 2017, e de 16%, em 2018. O aumento, em grande maioria, foi necessário para dar conta do custeio da máquina pública, sobretudo da folha de pagamento, que cresceu devido a reajustes salariais dos servidores da segurança aprovados ainda no governo Tarso Genro.
Sartori, ao fazer esta assertiva, corrigiu declaração equivocada que havia dado em debate anterior. Ele afirmou, em agosto, que os "investimentos" haviam sido de 19% e 16% maiores na segurança. O GDI fez a checagem e demonstrou que se tratavam de recursos para custeio, e não para investimentos, caracterizados pela aplicação de novos recursos em obras de presídios e delegacias, criação de planos de prevenção à violência ou compra de equipamentos policiais, por exemplo.
Quando vendemos ações do Banrisul foi muito menos do que foi vendido no governo do PSDB.
É verdade
O governo Sartori chegou a anunciar, em outubro de 2017, a intenção de ofertar 99,2 milhões de ações ordinárias (com direito a voto) e 28,8 milhões de preferenciais (sem direito a voto), mas acabou desistindo porque as condições do mercado foram consideradas desfavoráveis naquele momento. Depois disso, em abril de 2018, decidiu negociar 26 milhões de papéis preferenciais (por R$ 484,9 milhões) em uma primeira rodada e, na sequência, mais 2,9 milhões de ações ordinárias (por R$ 52,5 milhões). Todas as ações pertenciam ao Estado. Parte dos recursos foi usada para pagar salários de servidores do Executivo.
Já a gestão de Yeda Crusius (PSDB), ao fazer a abertura de capital do Banrisul (IPO) em julho de 2007, vendeu 173,9 milhões de ações preferenciais. Dessas, 66,66 milhões eram do banco (e renderam R$ 800 milhões à instituição) e 107,25 milhões eram do Estado (resultando em R$ 1,2 bilhão ao Tesouro estadual). O dinheiro do Estado foi aplicado, inicialmente, em fundos previdenciários, e, depois, usado em estradas.
Critérios de classificação
É verdade
A informação está correta e corresponde a dados e estatísticas oficiais.
Não é bem assim
Apenas parte da sentença está correta.
Não procede
O interlocutor está equivocado na informação que afirma.
Regras de checagem
1) São checadas as informações que têm verificação possível em fontes oficiais.
2) Os temas escolhidos levam em conta a relevância.
3) Os candidatos não são procurados pela reportagem.
4) Em caso de números arredondados pelos candidatos, os critérios utilizados pela equipe são:
— se a variação for de até 10%, para mais ou para menos, a informação é classificada como "É Verdade"
— se a variação for acima de 10% e até 30%, para mais ou para menos, a informação é classificada como "Não é bem assim"
— se a variação superar 30%, para mais ou para menos, a informação é classificada como "Não procede"
5) A equipe está aberta a contestações por parte dos candidatos, que posteriormente serão avaliadas pelos checadores.