Foi um ano que todos os setores foram afetados pela pandemia de covid-19 e não foi diferente com o cinema. Redes de exibidores suspenderam as atividades e lançamentos foram postergados.
Por outro lado, o mercado de serviços de streaming aqueceu. Alguns filmes pularam as estreias nas salas e entraram direto nas plataformas digitais. Até teve lançamentos exibidos em cinemas com reforço nas medidas de segurança sanitária, mas as redes sofreram com a falta de opções de obras inéditas na reabertura.
De qualquer maneira, apesar das dificuldades, não faltaram filmes em 2020. A seguir, relembre acontecimentos deste ano do cinema.
Antes da pandemia
Como diria a versão idosa de Rose em Titanic (1997): já faz 84 anos. Ao menos parece. Antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevar, em março, a classificação da covid-19 para pandemia, foi possível assistir alguns lançamentos no cinema. E teve quem atingisse boas marcas.
Protagonizado por Will Smith e Martin Lawrence, Bad Boys Para Sempre foi a segunda maior bilheteria do cinema mundial em 2020, arrecadando US$ 426 milhões. O terceiro filme da franquia só fica atrás do épico de guerra chinês The Eight Hundred (Ba Bai). Lançado em agosto na China, o longa arrecadou US$ 461 milhões.
Entre os principais blockbusters que estiveram em cartaz até março estão Sonic: o Filme, que levou o personagem do videogame para o cinema; a comédia Doolittle, reboot com Robert Downey Jr. fazendo o papel de veterinário que fala com animais e Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa, que trouxe Margot Robbie de volta ao papel da vilã. Outro filme que se destacou enquanto esteve em cartaz foi O Homem Invisível, estrelado por Elisabeth Moss.
Cinemas fechados, abertos e fechados de novo
A partir de março, os cinemas no Brasil suspenderam as atividades. O mesmo ocorreu ao redor do mundo. No segundo semestre, os exibidores iniciaram o processo de reabertura das salas pelo Brasil. Vale ressaltar que havia cinema no Estado funcionando com autorização municipal, como em Bagé e Santa Rosa. Os cinemas do Rio Grande do Sul receberam autorização do governo para reabrir em outubro, desde que seguissem protocolos de segurança (redução da capacidade, distanciamento, entre outras orientações). Porém, no dia 30 de novembro, um novo decreto voltou a suspender as atividades do setor. Até o momento, não há previsão de nova retomada.
A ida e volta do drive-in
Logo após a pandemia obrigar as salas a suspenderem as atividades, a saída encontrada para alguns empresários foi retomar o velho cinema drive-in. No começo, o foco era exibir filmes, porém o formato foi adaptado para shows e demais espetáculos (com buzinas servindo como aplauso). Teve até Festa Balonê em drive-in. Com o decorrer dos meses, as exibições de longas escassearam.
Festivais: online ou discretos
Tendo em vista a necessidade de evitar aglomerações, os festivais e as mostras de cinema foram adiadas ou realizadas virtualmente neste ano, como o 48° Festival de Cinema de Gramado, a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e a mostra 8 ½ Festa do Cinema Italiano. Já em setembro, o Festival de Veneza foi o primeiro grande evento do setor a ser realizado presencialmente, porém seguindo protocolos. No mês seguinte, o Festival de Cannes teve a sua edição reduzida e discreta.
Adiamento e remarcação do adiamento
Com os cinemas fechados ao redor do mundo, os estúdios e distribuidoras passaram a adiar seus lançamentos — em muitos casos, mais de uma vez as datas foram remarcadas. Quando as grandes apostas de bilheteria para o ano que não tiveram suas estreias postergadas para o ano que vem, entraram direto no streaming, como Mulan e Soul, da Disney. Logo, estabeleceu-se um calendário de 2021 com filmes que estavam previstos originalmente para 2020, casos de Duna e 007 — Sem Tempo para Morrer. Algumas estreias agendadas para o ano que vem foram empurradas para 2022, criando um efeito dominó. E os cinemas que puderam ser reabertos encontraram poucas novidades para exibir.
Crescimento do streaming
Quem saiu ganhando nessa história foram os serviços de streaming, que cresceram em assinaturas e audiência na pandemia. Um estudo da Universidade Feevale aponta que 62,8% da população gaúcha aumentou seu consumo audiovisual nas plataformas digitais durante o distanciamento. Foi assim no mundo todo.
Diante da expansão, os grandes estúdios se desinibiram em lançar seus filmes com uma janela menor de tempo entre o cinema e o streaming. A Warner, por exemplo, lançou Mulher-Maravilha 1984 tanto nos cinemas americanos quanto no HBO Max (serviço sem previsão de chegada ao Brasil). Para 2021, o estúdio planeja repetir a fórmula com todos os seus lançamentos.
Antes da Warner, a Disney foi o primeiro grande estúdio a utilizar o streaming para lançar o seu potencial blockbuster: Mulan (estreou nos Estados Unidos em setembro). Foi uma decisão histórica: trata-se de um longa com orçamento de aproximadamente US$ 200 milhões, e, para esta indústria, há sempre a intenção de multiplicar o valor investido com a bilheteria. Embora os outros serviços de streaming tenham lançado produções com apelo popular nos últimos tempos, nada teria a magnitude de um épico nostálgico da Disney. A notícia pegou de surpresa as redes exibidoras, que, em situação frágil, aguardam grandes apostas para atrair o público de volta aos cinemas.
Situação crítica
Com as atividades suspensas ou sem grandes apostas de bilheteria, a situação dos exibidores é crítica no Estado. Em Santo Ângelo, o tradicional Cine Cisne fechou, enquanto o Guion Center, de Porto Alegre, pode seguir a mesma direção se a situação não melhorar.