Com mais de 60 anos de atividade em Santo Ângelo, nas Missões, o Cine Cisne fechou. O anúncio foi realizado na última sexta-feira (18), na página oficial do cinema de rua no Facebook. O comunicado foi assinado pelo proprietário, Flavio Panzenhagen, que alegou “cansaço”.
— Chegou a hora de pendurar as chuteiras, desligar o botãozinho do projetor e descansar. Tenho 53 anos, mas minha vida toda está ligada ao cinema. Enfrentei tudo o que tinha enfrentado até hoje, como a chegada do videocassete, DVD e streaming. Quando veio essa pandemia, houve o que houve. Eu cansei de ter de me reinventar de novo. Não existe dívidas por trás dessa decisão ou outros problemas. Cansei de daqui a pouco ter que enfrentar a retomada. Chega um ponto que a gente reflete: “Agora chega, não quero passar por isso” — afirma.
A última projeção do Cine Cisne ocorreu no dia 18 de março. Desde então, o cinema estava com suas atividades suspensas.
Fundado em 1958, o Cine Cisne teve entre seus fundadores Carlos Panzenhagen, avô de Flavio. O atual dono começou a trabalhar no cinema como gerente em 1987, e há cerca de 15 anos tornou-se proprietário do local. Segundo relatou o empresário na nota, ele sempre foi “sangue, suor e lágrimas” pelo cinema.
“Vivi de tudo um pouco nesse que sempre foi considerado o baluarte da cultura santo-angelense. Sofri muito e muitos dias de glórias tive no Cisne. Algumas mil horas de filmes, muitas filas, em outras épocas nem tanto, mas isso sempre foi parte do negócio, assim como na tela existem as comédias e os dramas, na vida à frente das telas (no passado era uma só e gigantesca) nunca foi diferente. Por diversas vezes quase fechamos, mas sempre surgia uma luz no fim do túnel ou seria no projetor, e seguíamos nossa história”, escreveu.
O Cine Cisne contava com três salas e também funcionava como café. Segundo o empresário, a situação era tranquila antes da pandemia. Após alguns meses com o cinema fechado, ele tomou a decisão de encerrar as atividades. Panzenhagen não quis anunciar o fim do Cisne antes do período eleitoral para não usarem esse encerramento em campanha política.
Ricardo Difini Leite, presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas e diretor do GNC Cinemas, lamentou o fechamento do Cine Cisne. Ele comentou que mais fechamentos poderão ocorrer.
— Infelizmente mais fechamentos ocorrerão, pois enquanto não podemos abrir com apenas 30 pessoas por sessão (como autorizado aos templos religiosos) todas as outras atividades com maior risco, como bares, restaurantes e academias podem funcionar. Não entendemos esta falta de isonomia com o nosso negócio — diz.
Fechados em março, os cinemas do Rio Grande do Sul receberam autorização do governo para reabrir em outubro, desde que seguissem protocolos de segurança. Porém, no dia 30 de novembro, um novo decreto voltou a suspender as atividades do setor. Mesmo em outubro, Panzenhagen não pretendia reabrir.
O proprietário também ressaltou que o “futuro do Cisne como cinema a Deus pertence”. Como o prédio é patrimônio de sua família, o espaço será alugado. Quem sabe uma nova rede de cinema não se interesse pelo ponto?
— Vamos ver o que vai acontecer, se alguém vai querer — pontua.
Agora Panzenhagen pretende descansar e se dedicar a sua chácara. Ao longo de seis décadas, o Cine Cisne recebeu diferentes gerações de santo-angelenses em suas salas. Há quem frequentasse o cinema na infância, depois viu os filhos crescerem indo ao local e, mais tarde, os netos. Na publicação do Facebook em que foi anunciado o fim das atividades, muitas pessoas lamentaram o encerramento do Cisne.
— O carinho do povo de Santo Ângelo pelo cinema é gigantesco — resume o empresário.
Panzenhagen lembra que namoros e casamentos começaram no espaço. E já foi até presente de casamento.
— Quando Titanic estava sendo exibido aqui nos anos 1990 foi uma loucura, era uma multidão todos os dias. Teve um casal que veio ao Cisne logo após seu matrimônio no civil, no mesmo dia. Eles me mostraram a certidão. Imploraram para ver Titanic como presente de casamento. Queriam dois ingressos. Acabei cedendo — recorda.