A reabertura do Guion Center nesta quinta-feira (19) registrou baixo movimento durante a tarde, com média de duas a três pessoas por sessão. Embora o resultado da bilheteria já fosse esperado pelo dono do local, Carlos Schmidt, as próximas semanas devem servir como um ultimato para o funcionamento do local, fechado desde março por conta da pandemia.
— Se a coisa não melhorar, eu vou fechar definitivamente — diz Schmidt.
Em cartaz, há duas estreias nacionais. O destaque, contudo, fica por conta do Festival Varilux de Cinema Francês, que traz 19 longas europeus, dos quais 18 são inéditos. Além disso, há a exposição As cores de: Carlos Carrion de Britto Velho, Eduardo Vieira da Cunha e Paulo Peres, que reúne cerca de 90 obras, entre esculturas, pinturas, gravuras e objetos dos artistas.
— Eu não devia nem ter aberto. Mas, enfim, a gente tinha essa grande exposição para fazer, mais pela exposição do que propriamente pelos filmes. Tinha esse Festival Varilux. Então tínhamos um bom material que a gente imaginou que ia dar algum pique na programação. Mas se a coisa não estabilizar, eu não vou esperar vacina — desabafa o dono do cinema.
Questionado sobre quanto tempo conseguiria manter o estabelecimento funcionando, Schmidt não deu um prazo preciso, estimando em "um mês, talvez". Admitiu, inclusive, que vem trabalhando na ideia há muito tempo e já se preparou para a aposentadoria e o fechamento do Guion. Contudo, por ter ainda muitos materiais e equipamentos — alguns inclusive sob contrato com o Estado —, ainda não foi possível concretizar o plano.
Durante o tempo que o local ficou fechado, Schmidt conta que gastou bastante dinheiro. Todos os funcionários voltaram a trabalhar, mas a rescisão custou R$ 50 mil. Para o espaço, o custo com condomínio foi em torno de R$ 100 mil. Luz, R$ 10 mil. E as contas não param por aí: também foi necessário fazer algumas adaptações por conta da pandemia, o que custou cerca de R$ 20 mil. Agora, é preciso esperar que as pessoas venham ao cinema para poder mantê-lo aberto.
— Se as pessoas não vierem, o que eu vou fazer? Não posso fazer nada. Não posso obrigar a sair de casa. Se elas vão a supermercado, cabeleireiro, e acham que está tudo bem... Ora, não vejo por que não ir ao cinema. Não precisa tocar em nada, não precisa mexer no rosto o tempo todo — afirma Schmidt.
Público fiel
No final da tarde desta quinta-feira, as três pessoas que saíam da sessão de O Primo contaram que são aficionadas por cinema e fiéis ao Guion. O longa integra o Festival Varilux de Cinema Francês, alternativa aos blockbusters exibidos em outros locais.
Foi a primeira vez que Natalia Setúbal, 65 anos, frequentou um cinema após o fechamento desses estabelecimentos por causa da pandemia. Ela contou, contudo, que não havia voltado antes às salas de exibição por falta de tempo. Quando viu a programação do Festival Varilux, se animou:
— Eu amo cinema francês, cinema europeu. Larguei minhas coisas, não fiz as coisas do dia a dia para poder ter esse pit-stop do cinema — relata.
Ela contou que durante a sessão começou a refletir sobre os custos que o cinema tem, versus a quantidade de pessoas na sala. Preocupada, comentou que a cultura tem que ter um local como o Guion:
— Eu, da minha parte, levo para meus amigos, para meu grupo familiar, para as pessoas com quem eu convivo: "Vamos ao cinema, vamos prestigiar um espaço como o Guion. É cinema europeu, é um bom cinema". Acho uma pena, acho que deveria, sim, estar voltado esse olhar para um espaço cultural como esse, que é tão importante. E a arte, todo mundo já disse, só existe porque sem ela ficaria ruim enfrentar tudo, ficaria rude demais a rotina.
Frequentador assíduo de cinemas, Antonio Mansur, 53, afirmou que, além de ter assistido a O Primo, iria voltar às 20h para ver O Caso Collini. A paixão pela telona é tão grande que ele conta ter sofrido bastante na pandemia com a falta dos filmes, mas que vem aproveitando a reabertura gradual desses estabelecimentos em Porto Alegre.
— Estou impressionado com o baixo público nas salas. Teve sessões em que era eu sozinho ou eu e mais duas pessoas em uma sala de 600 lugares — relata. — Se continuar esse público que eu estou vendo nos shoppings, não sei como vão se sustentar.
Em relação ao Guion, disse que frequentava o local diversas vezes por semana antes da crise do coronavírus. Agora, pretende voltar em outros dias da semana para seguir assistindo a filmes franceses:
— Eles sempre tiveram um público cativo. Quem gosta do Guion, gosta do Guion — diz. — Espero que o público volte, eu gosto muito do cinema, vou continuar frequentando, a não ser que fechem as portas definitivamente.
Para Luiz Sérgio Risso, 66, o Guion já é muito bem conhecido. À reportagem de GZH, contou que frequenta o espaço há pelo menos 10 anos.
— No início da pandemia, vi uma entrevista do proprietário dizendo que era possível um fechamento. Quando vi que tinha aberto, fiquei muito contente. Porque realmente é um cinema muito bom, tem filmes maravilhosos. Seria uma perda cultural muito grande se fechasse — salienta.
Entre os protocolos de segurança adotados pelo cinema estão a obrigatoriedade do uso de máscara para circular no local e dispensadores de álcool gel à disposição. As salas, que funcionam com restrição de 30% da capacidade máxima, são sanitizadas após cada sessão.
— Não vejo grande perigo porque na semana passada fui em outro cinema e estava todo mundo de máscara, tinha higienização, separação entre as cadeiras. A gente vai num supermercado e é muito cheio, mas é necessário. Então eu, em princípio, se tivesse que decidir, optaria sempre pela abertura de cinemas — opina Risso.