Para matar a saudade de ver um filme na tela grande ou experimentar um programa diferente em tempos de isolamento social, uma solução à moda antiga ressurgiu no centro do país: o cinema drive-in, que teve seu momento de popularidade no Brasil nos anos 1970 —Porto Alegre conheceu a então novidade de assistir a filmes de dentro do carro há exatos 50 anos. Sessões estão sendo realizadas em Brasília e no litoral paulista. Para o Rio Grande do Sul, existe a expectativa lançada pelo grupo Cine + Arte, que opera em Capão da Canoa e Montenegro, anuncia para "breve" um adesão ao modelo, mas sem dar maiores detalhes do projeto. E pelo menos uma grande rede da Capital, a GNC Cinemas, informou que estuda a possibilidade.
Os cinemas no Brasil foram fechados em março, por causa da pandemia de coronavírus. Nos EUA, o drive-in seguiu funcionando durante a pandemia. No final de abril, o Cine Drive-in Brasília conseguiu autorização do governo federal para reabrir, exibindo três filmes em cartaz no local (todos estavam disponíveis antes da chegada da covid-19): Luta por Justiça, 1917 e PéPequeno. Em atividade desde 1978, o local vendeu 2,8 mil ingressos no primeiro final de semana após a abertura, segundo dados do portal Filme B, especializado no mercado cinematográfico.
O Cine Drive-in Brasília opera com restrições, como aponta o Filme B: o funcionamento da lanchonete está proibido, o número de carros é limitado pela metade, os espectadores não podem sair do veículo e apenas uma pessoa pode usar o banheiro por vez.
No dia 4 de maio, foi a vez da rede Cinesystem lançar o seu próprio drive-in, no estacionamento do Litoral Plaza Shopping, em Praia Grande (SP). Na estreia, Nasce uma Estrela e Maria e João: O Conto das Bruxas. Não há longas inéditos nas exibições, pois as distribuidoras adiaram os lançamentos devido à pandemia. O modo tradicional de exibição, em salas, não tem previsão de ser retomado no Brasil.
Outras iniciativas similares no formato começaram a surgir. O estádio Allianz Parque anunciou a criação de seu drive-in, que aguarda liberação das autoridades. O complexo cultural Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, deve estrear seu cinema a céu aberto no final deste mês, segundo o Filme B. Conforme o jornal Folha de S.Paulo, a empresa Dream Factory pretende pôr telas em estacionamentos de shoppings em oito capitais do país para que os espectadores vejam filmes em seus carros. Porém, a data do projeto ainda não foi divulgada.
Para o Rio Grande do Sul, as coisas estão embrionárias ainda. Em nota, a rede Cinesystem (que, no Estado, tem salas em São Leopoldo e em Rio Grande), informou que não tem, ao menos no momento, previsão de replicar o drive-in da Praia Grande para outras praças. "Claro que isso pode mudar ao longo dos dias, mas por enquanto, o projeto será realizado somente no litoral de São Paulo", diz a empresa em nota enviada a GaúchaZH.
Consultada pela reportagem se haveria planos para exibições no formato para o RS, a rede Cinemark (BarraShopping, Boubon Ipiranga e Wallig) informou que "não vai se pronunciar sobre o assunto no momento". Já redes como Cineflix (Shopping Total), Cinépolis (Shopping João Pessoa) e Espaço Itaú Cinemas (Bourbon Country) não retornaram os contatos.
Já a rede GNC Cinemas (como salas nos shoppings Praia de Belas, Moinhos e Iguatemi) está avaliando a possibilidade de promover um cinema drive-in. Segundo o diretor da rede, Ricardo Difini Leite, que também é presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec), estão sendo analisadas as vantagens e desvantagens do formato:
– Nós estamos avaliando se vamos fazer parceria, se será um projeto provisório ou por um período mais longo, que a gente invista para ser mais definitivo. Estamos fazendo um estudo, um rápido plano de negócio.
Segundo Difini, caso a GNC decida pelo drive-in, provavelmente o projeto piloto seria iniciado em Porto Alegre, por ser o centro maior entre as regiões onde a rede atua.
– Faríamos um piloto para verificar se é um modelo que pode dar certo a médio e longo prazo. E, depois, implantar em outros locais – destaca.
De acordo com Difini, o drive-in pode ser implemantado pelos exibidores em duas situações distintas: criado para se estabelecer a longo prazo ou em formato temporário, como um evento.
– Um drive-in pode ser criado as pessoas se divertirem, movimentar o estacionamento de um shopping ou de um determinado local. Desse jeito, pode ser feito até as coisas voltarem ao normal. Depois, deixa de existir. Feito para suprir o momento. Mas também há o drive-in permanente, mas teria que analisar se o interesse vai permanecer – explica.
Difini destaca que havia problemas no formato, que o fizeram desaparecer. Aponta limitações como a restrição de horários (somente à noite) e possíveis incômodos com o calor ao assistir a um filme de dentro do carro durante o verão:
– É retrô, bucólico e bacana. É uma opção legal para quem está confinado, fazer um programa diferente. Resta saber quando a vida normal voltar, se tu tens um lançamento como Mulher-Maravilha, você vai querer ver em um shopping center ou assistir no drive-in? .
Para o diretor da GNC, o formato não irá mudar a forma como se costuma ver cinema. O drive-in, caso se estabeleça, seria apenas um modelo complementar.
– A grande frequência de público ainda vai ser nas salas tradicionais. Não é o drive-in que vai alterar isso –assinala.