Ainda não se sabe quantas salas de cinema abrirão as portas no Brasil nesta quinta-feira (19), em meio às recomendações sanitárias para se evitar aglomerações e às determinações já vigentes para fechamento dos espaços devido à pandemia de coronavírus. Mas a situação atípica apresenta um momento singular para público e exibidores. Pela primeira vez no país, não haverá nenhuma estreia semanal no circuito.
A informação vem do Filme B, portal especializado no mercado cinematográfico. Entre as estreias previstas para esta quinta-feira, estavam o potencial sucesso de bilheteria Um Lugar Silencioso – Parte 2 e o elogiado documentário indicado ao Oscar Honeyland.
– Estamos diante de um problema maior do que nós, que nunca enfrentamos antes. É algo inédito – diz o diretor do Filme B, Paulo Sérgio Almeida.
A indústria cinematográfica foi fortemente impactada pela pandemia. Na Ásia, primeira região do mundo a ser atingida e um forte mercado para o setor, foram fechados 70 mil cinemas. Na esteira do avanço da doença pela Europa e pelos EUA, lançamentos e filmagens foram cancelados e os principais estúdios paralisaram suas atividades. A combinação de público assustado e falta de um blockbuster salvador foram fatais para as bilheterias norte-americanas, que exibiram números historicamente catastróficos no final de semana passado.
– Tudo vai depender da situação mundial. Se a doença for controlada e os cinemas voltarem a abrir, talvez haja uma solução. Estamos na mão do coronavírus – ressalta Paulo Sérgio.
O diretor do Filme B, no entanto, é pessimista sobre o futuro da indústria cinematográfica. De acordo com ele, nos próximos dias, podem ser esperadas férias coletivas de produtores e exibidores, que devem evoluir para demissões em massa. No Rio de Janeiro, onde as salas estão fechadas por determinação do governador Wilson Witzel, a rede Cinemark propôs um programa de demissão voluntária:
– Estamos caminhando para o colapso total da exibição no país.
Os efeitos dos cancelamentos e do autoisolamento das pessoas já podem ser sentidos no Brasil. Pela primeira vez no ano, menos de um milhão de pessoas foram aos cinemas assistir aos 20 filmes mais vistos em exibição – apenas 557, 8 mil ingressos foram vendidos no fim de semana passado. Comparado ao mesmo período de 2019, foi uma queda de 75% em renda e de 74% em público – números relevantes mesmo considerando que, no ano passado, estava em cartaz nessa época o sucesso Capitã Marvel.
Até o momento, mais de 50 longas-metragens tiveram lançamentos reprogramados no Brasil, entre eles o esperado Mulan, da Disney (veja abaixo).
– Este é um ano perdido – finaliza Paulo Sérgio, que acredita que a crise deve se estender por pelo menos dois anos.
Ainda assim, ele é pragmático sobre a situação:
– Agora, não é hora de ir ao cinema.