No último dia 23 de outubro, os cinemas de Porto Alegre começaram a reabrir após sete meses fechados por conta da pandemia de coronavírus. Um mês após a retomada das atividades, os exibidores ainda tentam reconquistar a confiança do público, embora os filmes disponíveis ainda não sejam verdadeiras apostas de bilheteria. Por outro lado, a esperança é que a situação melhore em dezembro.
Em sua retomada, os cinemas de Porto Alegre puderam reabrir seguindo protocolos sanitários: capacidade de 30% das salas, uso de máscara obrigatório em todas as ocasiões e o distanciamento mínimo de dois metros entre os espectadores. Também não é permitido o revezamento de assentos sem a devida higienização.
Duas redes reabriram na Capital na mesma semana do decreto que permitiu a retomada das atividades de cinemas e outros espaços culturais: GNC Cinemas nos shoppings Iguatemi, Lindóia, Moinhos e Praia de Belas; e a Cineflix, localizada no Shopping Total.
Claudia Fraga, gerente operacional do Cineflix Total, avalia que tem ido um público "razoavelmente bom", dentro da atual situação.
— Não é igual antes da pandemia, mas o público está vindo, perdendo um pouco do receio. Muitas pessoas não sabem que o cinema reabriu. Quando todo mundo tomar conhecimento disso, o público deve aumentar cada vez mais — diz Claudia.
Para a gerente, o público costuma ser respeitoso com os protocolos de segurança:
— A maioria das pessoas está sendo respeitosa às exigências. Os espectadores são parceiros nesse sentido. Um ou outro que não se sente à vontade ou não sabe, mas basta orientá-los.
Ricardo Difini Leite, diretor do GNC Cinemas e presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (FNEEC), conta que não havia expectativa para uma frequência alta de público.
— Neste reinício, estamos com número bem inferior de espectadores ao que normalmente se colocava antes da pandemia. Claro, há um grupo que ainda tem receio de frequentar cinema, o que acho equivocado, mas compreendo. Com certeza é mais seguro ir ao cinema do que lugares do que as pessoas andam frequentando — avalia Difini.
Gradativamente, mais cinemas foram sendo reabertos na Capital, como o Espaço Itaú de Cinema, que retomou as atividades no dia 29 de outubro. Adhemar Oliveira, diretor de programação e sócio do circuito Espaço Itaú de Cinema, ressalta que o começo está devagar e que houve uma desorganização da programação de filmes por parte das distribuidoras:
— O cinema funciona basilarmente com alguns títulos, que os outros se posicionam em volta. Por não saber quando poderiam entrar em cartaz, a incerteza fez uma redefinição da agenda filmes. O que a gente sentiu é que precisamos de uma reorganização dessa carteira.
Difini corrobora:
— Entendemos que isso (baixo número de frequentadores) se deve a safra de filmes. As distribuidoras não querem colocar os grandes lançamentos neste período.
Ao longo das últimas semanas, o Cinemark retomou as atividades em duas etapas: primeiro no BarraShoppingSul e depois no Bourbon Wallig e Bourbon Ipiranga. Já o Farol Santander e o Guion Center reabriram na última quinta-feira (19).
E Tenet?
O primeiro grande atrativo para trazer os espectadores de volta aos cinemas era Tenet, novo longa de Christopher Nolan tido como um dos principais blockbusters de 2020. Embora tenha obtido números razoáveis de bilheteria no país, chegando a liderá-la, o filme não desempenhou o papel de "chamariz" ao qual era esperado.
— Infelizmente, a procura por Tenet foi baixa por aqui. Não conseguiu ajudar na reação. Também não é considerado um filme muito popular. Inclusive, é de difícil compreensão. A expectativa era bem maior — lamenta Difini.
Maravilha da retomada
Todos os exibidores ouvidos por GZH apostam alto em Mulher-Maravilha 1984, que terá sessões antecipadas no dia 16 de dezembro (originalmente, a estreia estava prevista para o dia 24). Protagonizado por uma personagem popular e aclamada, a expectativa é que o longa da heroína da DC pode ser o chamariz que Tenet não foi.
— Estamos esperançosos com a antecipação do lançamento da Mulher-Maravilha. A expectativa é que vamos ter um grande filme com o qual a gente possa conseguir uma frequência bem maior de público — pontua Difini.
— A tendência é melhorar o nosso movimento no próximo mês, ainda mais com a estreia de Mulher-Maravilha 1984 — acredita Claudia Fraga, gerente operacional do Cineflix Total.
Outro filme que é visto como atrativo especialmente para o público infantil é a animação Trolls 2, que estreia nesta quinta-feira (26).
Vendas baixas
Com as restrições de público por conta dos protocolos de segurança, filmes que não são apostas de bilheteria e o receio de espectadores de saírem de casa – afinal, a ocupação de UTIs em Porto Alegre segue alta –, surge a seguinte pergunta: vale a pena reabrir os cinemas?
— Financeiramente, não. O prejuízo seria menor se estivesse fechado. Poderia aproveitar a suspensão de contrato temporário, que o governo permite até o final do ano, e não teria alguns custos que têm com o cinema aberto. O segundo maior custo de um cinema depois da folha de pagamento é a energia elétrica por causa do ar-condicionado. Tanto faz se for ligado para uma ou 100 pessoas: custa o mesmo valor. Quando tem uma frequência muito baixa não vale a pena — expõe Difini.
No entanto, a reabertura dos cinemas pode transpor a questão financeira, como destaca o presidente da FNEEC:
— É importante a gente poder abrir as portas novamente e ter essa opção para o público, mesmo sabendo que o início é um pouco difícil. Uma forma de recriar um hábito de lazer das pessoas.
Para Adhemar, a bilheteria dos cinemas devem engrenar quando houver uma conjunção entre salas abertas e calendário organizado.
— O que move o público? Primeiro, a confiança que ele vai adquirindo. Ele vai lá e vê que as salas estão cumprindo os protocolos. Segundo, o filme. Tem que ter o filme para atrair. Acabamos colocando em cartaz longas que já estavam no streaming. A venda está baixa ainda por causa disso — analisa.